por Yvonne Miller__
Chico, apesar de ser um cachorro da raça mais inteligente do mundo, ainda
não aprendeu a brincadeira do graveto. Dois anos e meio treinando, e mesmo
assim ainda não entendeu que precisa entregar o graveto primeiro para que a
gente possa jogá-lo de novo. De resto, faz tudo direitinho: corre atrás, pega e
traz, mas depois não solta. Com a madeira entre os dentes, fica enfiando o
focinho nas nossas mãos como dizendo “pega!”. E aí a gente pega e nada dele
largar o negócio. Fica puxando, puxando até a gente perder a paciência e soltar.
“Fica com ele então, ora mais!”. Mas também não quer ficar com o graveto de
graça. Lá vem de novo pra cutucar nossas mãos com o focinho.
Às vezes ele deve achar que está deixando muito difícil pra nós humanas.
Então coloca o graveto no chão, pertinho da gente. Andando em ré, se afasta um
pouco, sem perder seu tesouro de vista. Olha pro graveto, olha pra gente, mais
um passo pra trás. Olha pra gente de novo: “Tá vendo como estou deixando fácil
procê? Pega, vai, tenta!”. Mas é só a gente mexer um dedo que ele dá um pulo e
o pega de volta. Logo empina o focinho no ar, triunfante. O único jeito de
conseguir que ele largue o graveto é jogando outro. Só assim ele perde o
interesse pelo primeiro e corre atrás do segundo, pega e traz.
Mas outro dia o observei conversando com o gato: “Nossas tutoras são até
boazinhas, mas meio bobinhas, não acha?”, estava dizendo Chico. “Dois anos e
meio treinando e tu acredita que até hoje não aprenderam a brincadeira do
graveto?”