Redenção | Nely da Costa Barbosa

por Nely Costa Barbosa___


Photo by Daniel Olah on Unsplash

 

Terra alheia, revirei tuas entranhas, fecundei teu solo, semeando campos inteiros. Aguardei tua gestação, alimentando teus brotos, saciando a tua sede e derramando sobre ti o olhar cuidadoso de quem espera.


A boca salivava, saltavam aos olhos o teu frescor. Teu cheiro, verde e úmido, tocava meus lábios como uma prece sussurrada, uma súplica, um clamor.


Quem dera ouvisses meus apelos, quem dera tivesses a gratidão das flores, dos pássaros, dos homens que te semeiam. Quem dera pudesses entender a tua missão e cumpri-la, quem dera os homens aprendessem a repartir. Quem dera das tuas raízes brotassem esperança, alimentando sonhos, transformando destinos, saciando a fome.


Buscas uma saída, a revolução é diária, pequenas mudanças, gestos de esperança, não te reconheces mais, não mais pertences ao teu destino, agora fazes o teu caminho, nada vai te fazer parar.


Esperança é sempre, sempre sonhar, sempre acreditar e agir, não importa o tamanho do teu gesto, o próprio agir já é ato imenso. Traz para o teu lado quem acredita na tua luta, aos demais, esqueces, nada flui na contramão.


Luta legitimamente, se move, e o horizonte se refaz, já vislumbrarás outras terras, outras perspectivas, outras formas de caminhar. Mas a caminhada é longa e a conquista perene, então segues, firme, altiva e nunca esqueças do teu ponto de partida, que será sempre combustível na tua caminhada.


(Texto inspirado no Livro Torto Arado de Itamar Vieira Júnior.)

 


 

Nely da Costa Barbosa, nasceu em agosto de 1969 em Recife – PE, graduada em História pela Universidade Católica de Pernambuco, estudou música na Universidade Federal de Pernambuco e no Conservatório Pernambucano de música. Atualmente desenvolve pesquisa na área de cinema, mais especificamente sobre o trabalho do cineasta pernambucano Camilo Cavalcante. É apaixonada pelos livros e toda forma de arte. Começou a se aventurar na escrita ainda muito jovem, mas só agora decidiu compartilhar suas experiências com o público, acreditando estar vivendo um momento mais prolífico e mais tranquilo para se dedicar a essa arte.