por Gyselle Góes__
vejo mais do que flores no seu sorriso
tem
aquele pássaro descansando
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eco
dentro
de mim as ilusões serpenteiam
você
me grava uma canção
e
se torna mais distante
além
das árvores e dos pássaros
além
do nome que eu daria ao poema
você
me mostra a sua voz
no
tempo de um silêncio
no
tempo da rádio sem estação
às
cegas eu o percebo
como
um lugar desocupado
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segue o seu coração
órgão
fundador da sua pátria
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ser antes do querer a luz vermelha
quero
ser antes a mulher que escreveu
na
beira dum pedacinho de mapa rasgado
chamar
de estado algo
cativo
ao silêncio distraído
quero
ser para você o que seria a mim
a
esfera do brilho inteligível
oco,
órbita dos astros
galopando
ao som de pássaros levianos
quero
ser para mim o que somos
além
dos famintos túneis
cavando
a solidão dos vagalumes
sob
as samambaias mamíferas
não
quero ser mais nada
além
de saciada pela palavra
seca
dentro de um abajur
no
centro do coração de um âmbar
Gyzelle Góes é poeta, carioca, nascida em 1994. Autora de Amante (Urutau, 2019) e de O que fizemos das nossas delicadezas (Folheando, 2021). Formou-se em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e está cursando o mestrado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade (PUC-Rio). Atualmente, trabalha com pesquisas sobre arquivos, poesia contemporânea, edição e ilustração de livros.