por Marcela Güther/Divulgação__
Evento
acontece dia 15/9, às 19h, e terá Mariana Varella e Meghie Rodrigues como
convidadas para bate-papo; obra que discute como o Brasil virou país da
cloroquina é publicada pela editora Paraquedas
"A
obra explica, unindo o rigor da ciência e a arte da comunicação, como o Brasil
se tornou a capital mundial do negacionismo durante a pandemia de
Covid-19."
Pedro Hallal , epidemiologista
Em
setembro, a editora Paraquedas, selo da Claraboia, lança o livro “Cloroquination
- Como o Brasil se tornou o país da cloroquina e de outras falsas curas para a
covid-19", da jornalista Chloé Pinheiro e do farmacêutico e
doutor em Ciências pela UFRJ Flavio Emery. É o primeiro livro que mapeia
em profundidade as movimentações políticas, sociais, econômicas e “científicas”
que aconteceram para tornar o Brasil o epicentro do fenômeno.
O
evento de lançamento está marcado para dia 15, às 19h, na livraria e espaço
cultural Tapera Taperá (Av. São Luís, 187 - 2º andar, loja 29 - República, São
Paulo/SP), em São Paulo. Haverá um bate-papo com os autores e convidadas
especiais: Mariana Varella, jornalista de saúde e cientista social,
editora-chefe do site Drauzio Varella e colunista do UOL; e Meghie
Rodrigues, jornalista especializada em cobertura científica que atua
principalmente com mídia internacional (portais SciDev.Net, Mongabay, Eos,
Scientific American, Thomson Reuters Foundation e outros) . Tainã Bispo,
editora do selo Paraquedas, realizará a mediação da conversa.
Livro
pioneiro explica como o Brasil virou o país da cloroquina
No
último ano, Chloé Pinheiro e Flavio Emery conversaram com mais de 30
fontes para compreender como o Brasil virou o “país da cloroquina”, incluindo
políticos, médicos, cientistas, psicólogos, sociólogos, pacientes, vítimas e
advogados. Entre eles, nomes como Luiz Henrique Mandetta, Natalia Pasternak,
Pedro Hallal, médicos da Prevent Senior e da Hapvida e outros
personagens importantes.
“A
eles, perguntamos: haveria um kit Covid sem a forte atuação do governo federal?
E descobrimos que, infelizmente, é provável que vivêssemos algo parecido. Ora,
várias das bases do fenômeno fazem parte de uma cultura antiga no país,
perpetuando-se diante das doenças crônicas para as quais nem sempre há
tratamentos eficazes”, escrevem os autores de “Cloroquination”. “Nada
disso é novo. Contudo, o aparelhamento do Estado em favor de uma cura mágica
deu outra dimensão à coisa. Sua rede bem engendrada de desinformação fez o kit
covid transformar-se em símbolo do Brasil nos anos 2020-22: uma ferramenta de
poder, uma bandeira a ser defendida por um séquito de fiéis. Enfim, a
cloroquinação de todo um país como um processo em que se misturam ignorância,
estupidez e má-fé”, apontam.
Ao
longo dos capítulos, eles mapeiam e relacionam diversos fatores que colaboraram
para a ampla difusão de remédios ineficazes e outras soluções anticientíficas,
culminando na morte de milhares de brasileiros durante a pandemia de covid-19.
Entre eles, pesa a atuação de uma classe médica corporativista, com formação
científica deficitária; a penetração da pseudociência na política e nas
universidades, que já havia sido notada com o escândalo da fosfoetanolamina, a
chamada “pílula do câncer”; a vontade do brasileiro de acreditar em algo mesmo
quando evidências apontam o contrário; uma relação banalizada e quase religiosa
com os remédios; o uso de cobaias para experimentos de "tratamentos
precoces”; a desinformação disseminada online; e, acima de tudo, o fato de ter
muita gente lucrando com tudo isso.
“A
aposta de remédios ineficazes, como a cloroquina, e a negação das vacinas, não
são apenas efeitos colaterais da desinformação, mas sintomas de uma crise
institucional profunda, que ameaça as bases da nossa democracia e coloca em
risco à população, ao transformar a saúde pública em uma mera arena da guerra
ideológica”, escrevem.
A
realização do livro foi possível graças a uma bolsa para a produção de
trabalhos jornalísticos em temas de ciência, a qual foi concedida para Chloé
Pinheiro pela Fundación Gabo e pelo Instituto Serrapilheira,
com o apoio do Escritório Regional de Ciências da Unesco para a América
Latina e Caribe.
“Cloroquination”
em números
Só
no Brasil, até junho de 2021, entre 120 mil e 400 mil mortes poderiam ter sido
evitadas, apontam estimativas feitas pelo epidemiologista Pedro Hallal,
da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Ou seja, quatro em cada cinco
pessoas poderiam estar vivas;
Apesar
de menos falada pela imprensa, a ivermectina vendeu muito mais que a
cloroquina. Só no primeiro ano de pandemia, o remédio para piolhos apresentou
números astronômicos, chegando à demanda de 82 milhões de embalagens, muito à
frente da hidroxicloroquina com 2,7 milhões;
A
Prevent Senior, que adotou amplamente o uso do kit covid e chegou a ser
investigada na CPI e em outras esferas, saiu sem nenhum ferimento dessa
história. Ela ganhou 88 mil novos beneficiários entre março de 2020 e junho de
2021. Em 2020, o convênio faturou R$4,3 bilhões, um crescimento de 19% em
relação a 2019, e teve lucro líquido de R$495 milhões, 14% superior ao ano
anterior – bem acima da média do setor, 2,4%. Enquanto motoboys entregavam kits
de remédios nas casas dos usuários sem sequer saber se eles tinham covid-19, o
valor de mercado da empresa subiu 30%, resultado tão animador que permitiu sua
planejada expansão;
Das
33 indústrias que produzem ao menos um dos componentes do kit covid, seis
tiveram ganhos maiores que 500% em 2020, quando comparados ao ano anterior;
Dados
da CPI mostram que, em 2020, somente os gastos públicos com cloroquina e
hidroxicloroquina foram 16 vezes maiores do que em 2019, totalizando mais de 30
milhões de reais. Os gastos da União, considerando os outros medicamentos
ineficazes, chegaram a R$ 90 milhões só até janeiro de 2021.
Chloé Pinheiro - Jornalista com mais de dez anos de cobertura de saúde e ciência. Atualmente, é repórter na revista Veja Saúde, da Abril, e já colaborou para veículos como UOL e Agência Fapesp. Em 2021, foi incluída no ranking de profissionais mais admirados da imprensa de saúde e bem-estar do Brasil elaborado pelo Einstein e pelo Portal Jornalistas e Cia.
Flavio Emery - Farmacêutico e doutor em Ciências pela UFRJ, desde 2008 é Professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da USP, onde coordena o grupo de pesquisa em química heterocíclica e medicinal (QHeteM). Foi Presidente da Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas (ABCF, 2019-2020) e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (2018-2022).
Marcela Güther - Sócia e diretora de conteúdo e relações públicas na com.tato. Está à frente do serviço de assessoria literária, auxiliando autores e editoras a divulgarem seus trabalhos na mídia. Já foi redatora de portais de literatura e revisora de livros e publicações literárias. Organiza o clube Leia Mulheres de Joinville (SC) desde 2017.