Três poemas de Maria de Lourdes Hortas

 por Maria de Lourdes Hortas__





LITURGIA 

Eu vos agradeço, ó deuses, este luar 

agridoce, 

ardência de vinho maduro tinto, 

sobressalto, 

rio solto 

despencando sobre matas e abismos. 

Eu vos agradeço, ó deuses, 

por me teres deixado cair em tentação: seja feita a vossa vontade 

assim no céu 

como no chão. 

ATO DE FÉ 

Creio na alquimia da palavra 

onda de um rio, 

raiz, seiva, resina, 

favo de mel silvestre, 

mina d’água, 

êxtase da infância 

esperando-me na esquina. 

Ao terceiro verso 

ressuscito dos mortos 

enquanto lírios nascem 

sereníssimos 

varando a verde relva 

do silêncio que respira. 

RECADO DE EVA 

Antes que me esqueça, Adão, preciso perguntar-te: acaso conferiste, uma a uma, tuas costelas hoje pela manhã? 

Digo isto porque, de madrugada, 

enquanto dormias 

o Criador veio 

e me fez de uma delas 

justamente aquela 

que ficava sob o teu coração.

Para a teres de volta 

(e como ela te deve fazer falta) 

tens de me colocar 

inteirinha 

nesse lugar. 



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Maria de Lourdes Hortas nasceu em Portugal e aos dez anos veio para o Recife (PE), Brasil. Poeta e ficcionista premiada, participou de várias coletâneas. É ativista literária: fez parte da coordenação das Edições Pirata; organizou a antologia
Palavra de mulher (1979); durante vinte anos, foi Diretora Cultural do Gabinete Português de Leitura de Pernambuco, onde editou a revista Encontro. Além disso, também atua nas artes plásticas. Romaria, sua coletânea poética, está em pré-venda pela Macabéa Edições.