Quatro poemas de Narcélia França

  

por Narcélia França__




O que me resta


E o que me resta

É caçar meu próprio rastro

Para não me perder de vista

Achar o caminho de volta

Recomeçar

Quantas vezes for preciso




O amor bateu em minha porta


O amor bateu em minha porta

Abri e deixei entrar


A noite era intenso

De manhã era suave


Mas não veio para ficar


Na velocidade que chegou

Foi embora


Fiquei a espiar

Ao  sair foi delicado


Tinha verdade no olhar

E com muito cuidado


Me disse: “ Não posso ser teu

Ainda  não posso ficar”




Eu guardei a minha dor


Eu guardei sim, a minha dor

Guardei para cuidar de alguém

Que sofre mais que eu

Me sinto bem cuidando!

 Eu guardei sim, o meu choro

Para que alguém chore

E assim diminua o seu sofrer

Se minha missão é cuidar

Cuidarei sim

Porque precisei também

E talvez ainda precise de cuidados




Tempo


Fui deixando o tempo passar

E quando me dei conta

Era quase meia noite

Ela foi embora

Levando junto

Meu olhar 

Tímido e silencioso

A noite era perfeita

Mas 

Eu deixei o tempo passar novamente



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Narcélia França tem 50 anos, nascida em Tejucupapo, distrito de Goiana, Terra das heroinas, é doméstica  desde os 17 anos, atualmente desempregada . Gosta de pintar, desenhar, mexer com barro e escrever, fazer tudo que dê forma aos seus sentimentos. Deseja um dia ser capaz de viver unicamente de sua arte. Publicou um livro artesanal de poesia (RAZÃO E EMOÇÃO-2022) com apoio de  Regina Carvalho, sua ex professora do EJA. O livro é vendido pelos seguintes contatos instagram: @narcelifranca e-mail: narceliafranca@gmail.com e no Projeto Mala Preta,idealizado pela escritora Odailta Alves, com o objetivo de circular a literatura de mulheres negras de Pernambuco.