por Taciana Oliveira__
A crônica é um gênero literário
caracterizado por narrativas breves e informais que revelam aspectos do cotidiano
a partir de um olhar crítico, humorístico e reflexivo. Ela se diferencia por apresentar
um estilo mais pessoal e subjetivo, que permite ao escritor manifestar sua visão
de mundo ao leitor.
No seu livro de estreia "Deus Criou Primeiro um Tatu – Crônicas da Mata” (Aboio, 2022), Yvonne Miller (a berlinense mais nordestina em linha reta do mundo) se revela como uma observadora atenta que sabe transformar o que parece banal em poesia e resistência. A obra reúne crônicas que abordam o período que a autora morou em Pernambuco, no bairro de Aldeia dos Camarás, localizado na cidade de Camaragibe (Região Metropolitana do Recife), área dona de um dos poucos biomas ainda preservados da Mata Atlântica do Estado, e que resiste bravamente a especulação imobiliária.
O escritor mineiro Guimarães Rosa no
seu romance Grande Sertão: Veredas escreve: "O que lembro, tenho". E Yvonne nos oferece o melhor de suas
percepções e memórias afetivas na convivência com a fauna, a flora e os seres
humanos que habitam esta região.
Com o bom humor que lhe é peculiar, ela narra suas experiências não apenas como uma estrangeira que se encanta e se preocupa com a riqueza e a extinção da floresta, mas sobretudo como uma cidadã consciente, atenta aos crimes ambientais e a desumanização recorrente dos últimos anos no nosso país: Resta, por fim, aquela pergunta: qual é o meu papel de luta? Você o tem em mãos. (Epílogo, página 134)
Seja falando de um bicho-preguiça, de um
teju, de aranhas-caranguejeiras, da pandemia, da morte de ambientalistas e indígenas, da
esposa e da enteada, dos passeios com seu cachorro Chico à beira do açude, das
conversas com os novos vizinhos ou da adaptação a uma nova realidade diferente da que vivia na Alemanha, Yvonne
Miller constrói narrativas que reverberam honestidade e uma delicadeza
que tanto nos faz falta.
Sim, Deus Criou Primeiro um Tatu é um manifesto pela vida, um chamado à conservação da Mata Atlântica e com um alerta necessário da sua autora: Não tenha medo das cobras. A maioria é menos perigosa do que muita gente por aí.
Boa leitura!
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