Museu a céu aberto, crônica de Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro___



Foto: Carlos Monteiro


Rodolfo Bernardelli (1852 – 1931) foi um dos mais extraordinários escultores de arte tumular da história contemporânea. Sua obra está imortalizada nos mais importantes cemitérios do país.

No São Francisco Xavier ‘apresenta-se’ no imponente túmulo do dramaturgo, jornalista, ensaísta, poeta, comediante e escritor Artur Azevedo. O dólmen encimado por pedras que representam Stonehenge, na Inglaterra — Azevedo tinha um quê exotérico —, o busto em bronze, com tamanho aumentado, reproduz fidedignamente os traços do poeta. O artista colocou ali uma dose de ‘vida’, pois a obra magnífica parece conversar com o observador, tal sua expressividade.

Assim, Bernardelli esculpia suas obras, que estão espalhadas, não só por necrópoles, mas por grandes monumentos e equipamentos de arte e cultura do Rio de Janeiro e São Paulo, com tal expressividade e uso de policromia, que ao finalizá-las, tal qual Michelangelo, expressava: “Parla!”.

Na coluna Pequenos Echos da “Revista Illustrada” do Rio de Janeiro, em 19 fevereiro 1887, na página 14 pode-se ler sobre o realismo de sua obra:


“Visitando o atelier de Rodolpho Bernardelli, ahi vimos o bello tumulo de José Bonifácio, o velho. É uma verdadeira obra de ate, na qual não se sabe que mais admirar, se a execução d’essa serena figura, em cujas linhas fisionômicas se desenha o sonno da morte, se a concepção do conjunto artístico, que dá ao túmulov um aspeccto grandioso e que impressiona profundamente. Tanto a figura do patriarcha da Independência, como a tapeçaria que cobre metade do sarcophago, estão feitas pela mão do mesmo.”


Rodolfo era esse incrível mago que com suas mãos moldava diferentes matérias, poesia em forma bruta lapidada em arte, dando-lhes vida na morte. 


N. A.: foi mantida a grafia original


Museu a céu aberto, Carlos Monteiro







Carlos Monteiro 
 é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.