por Anthony Almeida__
Toninho, que vem também a ser meu pai, é, vez em quando, pescador. Esta noite ele remexe em seus apetrechos de pesca. Pensa em viajar para algum rio no próximo final de semana. Senta-se no sofá, com seu bisaco recheado de tralhas, e vai tirando uma por uma de dentro da mochila. Eu, que não sei muito de pescaria, começo a perguntar o que é cada uma delas.
Todo bom pescador gosta de conversa. Meu pai, também.
Eu, curioso, começo com os meus “pra que isso?”.
Alicate amarelo de bico fino:
— Pra soltar o peixe do anzol.
Tesoura:
— Pra cortar as barbatanas do peixe.
Chumbo enrolado:
— Pra afundar o anzol de pegar o peixe.
Madeira com pregos em uma das pontas:
— Pra tirar as escamas do peixe.
Balança de mão:
— Pra pesar o peixe.
Pote de plástico cheio de anzóis:
— Pra pescar o peixe.
Barbante azul:
— Pra fazer uma enfieira pro peixe.
Linha de pesca:
— Pra prender o anzol de pegar o peixe.
Iscas artificiais de camarão, sapo e peixinho:
— Pra enganar o peixe.
Boia de isopor em formato de pião:
— Pra sacolejar quando pegar o peixe.
Barbela:
— Pra prender o anzol na linha de pegar o peixe.
Lanterna:
— Pra, quando for de noite, ver o peixe.
Escova de dentes:
— Pra escovar os dentes do peixe, opa, do pescador.
Pente vermelho:
— Pra pentear o cabelo do pescador.
Óculos escuros:
— Pra proteger os olhos do pescador.
Papel-seda:
— Pra enrolar o pacaia do pescador.
Fumo de rolo:
— Pra fazer o pacaia do pescador.
Rolo de papel higiênico:
— Pra limpar o fopa do peixe.
Caruaru. Agosto, 2022.
Anthony Almeida é geógrafo, professor e cronista. Nasceu em Caruaru/PE e mora no Recife/PE. Pesquisa a Geografia Literária, escreve e estuda a crônica brasileira. É cronista da Revista Mirada, doutorando em Geografia, pela UFPE, e editor adjunto da RUBEM – Revista da Crônica. Saiba mais em: https://linktr.ee/anthonypaalmeida