A Garagem do Paraíso, de Leo Barth

 por Hudson R Santos__






             


O livro de Léo Barth intitulado "Garagem do Paraíso" revela um poeta visceral, profundamente influenciado pelo pensamento de Cioran e fascinado pelos abismos da existência humana. Ao longo das páginas dessa obra, Barth explora temas como amor, guerra, transcendência e desespero, em uma linguagem intensa e provocativa.


No livro, encontramos uma série de poemas que revelam a natureza inquieta e provocadora do autor. Em "Pó safrado: faça guerra e amor", Barth desafia o leitor a abraçar as contradições da vida, misturando o doce e o salgado, o sagrado e o profano. Esses versos transmitem a ideia de que a existência humana é um equilíbrio precário entre opostos, onde o brilho e a intensidade são alcançados ao abraçar a complexidade e a dualidade.


Em "Bem desprezível o homem que não dança", Barth critica a passividade e a falta de autenticidade na vivência humana. Ele instiga o leitor a se entregar à dança da vida, a fingir sentir o ser e a abrir a boca ao divino. Esses versos expressam a necessidade de explorar a essência mais profunda da existência, de se conectar com algo maior do que nós mesmos.


No poema "Não existe mais perdão", Barth mergulha nas profundezas do desespero e do autoquestionamento. A imagem da sepultura aberta, escavada pelo próprio autor, evoca a ideia de um fim iminente, mas também abre espaço para a possibilidade de renovação. A referência aos cigarros e à ereção eterna sugere uma busca desesperada por prazeres fugazes e uma intensidade que transcende a mortalidade. No entanto, o poeta reconhece a possibilidade de não haver nada além dessas fugas efêmeras.


Em "A monstra dorme como anjo", Barth revela a atratividade dos abismos e a inexorabilidade da jornada humana em direção ao desconhecido. Os versos retratam uma caminhada implacável em direção a um paraíso destruído, onde a redenção e a lembrança das ações violentas são recompensas incertas. O eu lírico se posiciona como um rei de si mesmo, servindo a todos e a ninguém ao mesmo tempo.


Léo Barth demonstra ser um poeta visceral, capaz de explorar os extremos da existência humana com uma linguagem provocativa e imagética. Seu livro "Garagem do Paraíso" convida o leitor a confrontar os abismos internos e a buscar a autenticidade no meio do caos. As influências de Cioran são evidentes, tanto na temática sombria e existencial quanto na intensidade poética que permeia cada verso. Barth desafia as convenções literárias e mergulha nas profundezas da alma, buscando compreender e expressar a complexidade da vida humana de maneira visceral e impactante.


Léo Barth se apresenta como um poeta que se entrega completamente à experiência humana, explorando os cantos mais sombrios e profundos da existência. Sua escrita é uma expressão de sua própria jornada interior, em que ele se confronta com o absurdo da vida e busca sentido nas contradições e nos abismos do mundo.


Os poemas de Barth são marcados por uma linguagem crua e intensa, capaz de despertar sentimentos e reflexões profundas no leitor. Ele não teme adentrar o território do desconforto e do desespero, levando-nos a encarar a fragilidade e a efemeridade de nossa condição humana. Seus versos despertam uma consciência visceral das incertezas e das contradições que permeiam nossa existência.


Há uma presença constante da dualidade nas obras de Barth, onde os opostos se entrelaçam e se complementam. O sagrado e o profano, o prazer e a dor, o êxtase e o vazio coexistem e se fundem em seus poemas. Essa fusão de extremos cria uma atmosfera de tensão e inquietação, convidando o leitor a explorar os limites da experiência humana e a questionar as verdades estabelecidas.


Barth também revela um profundo interesse pela natureza humana e suas contradições. Ele nos lembra que somos seres complexos e falíveis, capazes de atos grandiosos e terríveis ao mesmo tempo. Em seus versos, ele expõe a fragilidade do eu, a luta interna entre a luz e a escuridão, e a busca por redenção em meio aos erros e às culpas.


Ao mesmo tempo em que os poemas de Barth são marcados por uma intensidade melancólica, há também momentos de beleza e transcendência. Através de sua escrita, ele nos convida a enxergar o sublime na trivialidade do cotidiano, a encontrar a essência divina nas pequenas coisas e a buscar a redenção mesmo nas situações mais desoladoras.


A presença de William Blake, conhecido por sua poesia mística e visionária, pode ser percebida nos momentos em que Barth busca uma conexão com o divino e procura transcender os limites da existência. Assim como Blake, Barth parece explorar a dualidade entre o sagrado e o profano, abordando temas como a busca pela redenção e a luta entre forças opostas.


Vladímir Maiakóvski, um dos grandes poetas russos do século XX, deixou sua marca em Barth por meio de sua linguagem e expressividade. A influência de Maiakóvski pode ser notada na forma como Barth utiliza uma linguagem contundente, provocativa e muitas vezes revoltada para transmitir suas ideias. Ambos os poetas compartilham uma paixão por confrontar as estruturas estabelecidas e uma busca por liberdade e autenticidade.


Charles Baudelaire, um dos mestres do simbolismo francês, também se faz presente nas obras de Barth. A atmosfera sombria, o mergulho nas profundezas da alma humana e a reflexão sobre a transitoriedade da vida são elementos comuns a ambos os poetas. Barth, assim como Baudelaire, busca capturar a essência da experiência humana, seja em sua beleza ou em seu desespero.


Por fim, Paul Celan, poeta pós-moderno de origem judaica, pode ter influenciado Barth em sua abordagem da linguagem e da expressão poética. Celan explorou a fragmentação e a busca por significado em meio à devastação e ao trauma do Holocausto. Em algumas obras de Barth, pode-se notar uma semelhança na busca por sentido e na exploração de limites linguísticos e emocionais.


Essas influências literárias ajudam a contextualizar o estilo único de Léo Barth em "Garagem do Paraíso". A fusão de visões de mundo e a incorporação de diversas correntes poéticas contribuem para a complexidade e a intensidade de sua escrita, tornando-a uma voz singular e visceral na poesia contemporânea.





Leo Barthnasceu em 1984. Delmirense dividido entre sertões e capital do caos. Começou a escrever por causa da Teologia. “Homem que nasceu morto, e que se acha em cada esquina, poeta de bêbados e esquizofrênicos, delimitado pelo caos particular, e autor de nada”. É notável entre os novos poetas trágicos-febris, um dos nossos maiores poeta do underground alagoano. Tem uma filosofia existencial-literária parecida com o grande Macedônio Fernandez, que escrevia compulsivamente sem muito importar-se com publicações. Boêmio, Machadiano e acadêmico, o autor possui centenas de poemas inéditos, produzindo-os desde 2001. É co-fundador do grupo “Arborosa”, de poesia, arte visual e fotografia, e editor do staff da Edições Parresia. Publicou na Utsanga (Itália) revista de poesia experimental, e em revistas brasileiras.






Hudson R Santos é poeta e escritor e tem os seguintes livros de poesia publicados: A palavra soprada, O outro, a ausência, O reino das coisas e Contra o sonho. Reside atualmente em Diadema Sp.