Impressões do reencontro, crônica de Anthony de Almeida

 por Anthony Almeida__




Meu reencontro com Caruaru não é com a cidade de 2018 para 2019, quando a visitei pela última vez, numa virada de ano novo. Também não é com a Caruaru de 2016, a cidade da penúltima visita. Não estou de passagem, não sinto vontade de ver os pontos turísticos, como se turista fosse.


Reencontro a Caruaru de 2014, de antes de ter me mudado para o oeste paulista? Reencontro a Caruaru de 2010, de antes de ter me mudado para a capital pernambucana? Reencontro uma Caruaru mais antiga? Caruaru de eu-menino? Que Caruaru me é esta cidade de 2022? 


Até dei umas voltas, meio sem ânimo, pela terra que foi meu alicerce. Hoje, entretanto, no meu último dia por aqui, antes do reestabelecimento definitivo no Recife, percebo que não senti nada de extraordinário em relação à cidade. Houve mudanças significativas na materialidade de muitas ruas e construções, sim. Notei as transformações nas infraestruturas. Por onde andei, porém, fiz uma cara de “hum, nada mal”; outras vezes, de “hum, que bela porqueira”. Nada mais que isso.


Pensei que, neste retorno tão desejado, eu fosse querer me espalhar bem mais. Só que eu não quis passear pelo bairro onde me criei, nem comer pastel na feira de domingo. Não quis passear no Alto do Moura, nem ver a Feira de Artesanato. Visitei a Feira de Sábado e a Feira da Sulanca, circulei de ônibus, andei pela nova e ajardinada Avenida Agamenon Magalhães. Mas nada de estupendo aconteceu dentro de mim. Também não quis visitar amigo em cemitério.


Quanto aos vivos, vivi-os. Mãe, pai e tio-avô, vivi-os. Amei-os. Mas, pela cidade... Pela cidade não senti amor, apesar de, enquanto estive fora, ter sentido saudades; não senti que tenho vida aqui, apesar de ter desejado intensamente as vivências que tive nos últimos dias. 


Tendo sido meu berço e meu lar durante os primeiros 21 anos de mim, faz um tempo que Caruaru segue a sua história sem a minha presença feita casa. 11 anos...


Por que será que me senti assim, com zero ânsia pela cidade?



Caruaru. Setembro, 2022.





Anthony Almeida
é geógrafo, professor e cronista. Nasceu em Caruaru/PE e mora no Recife/PE. Pesquisa a Geografia Literária, escreve e estuda a crônica brasileira. É cronista da Revista Mirada, doutorando em Geografia, pela UFPE, e editor adjunto da RUBEM – Revista da Crônica. Saiba mais em: https://linktr.ee/anthonypaalmeida