Plantando palavras no deserto, crônica de João Gomes da Silva

por João Gomes da Silva__




Foto:Laura Kapfer


Tenho certeza de que muitos de vocês já sonharam em se tornar escritores, e muitos já o são de forma tímida. A questão é que moramos em um país onde a leitura parece ter se tornado uma modalidade de esporte radical ou algo tão só para fins de concursos e vestibulares. Mas aí é que está a magia: no meio desse deserto de leitores, você precisa ser o próprio oásis. Você pega aquela sementinha da sua ideia, meio tímida, e planta com carinho na terra ressecada pela falta de leitura.

Tem que continuar regando, mesmo quando parece que a terra vai engolir suas palavras. Porque o que não falta é gente dizendo que livros são coisa de gente chique, que quem lê muito é esquisito, que literatura é coisa do passado. E aí você vai lá, com seu bloquinho e caneta, e começa a criar suas histórias no centro desse turbilhão de preconceitos. Só não desanime, que o mundo é cheio de surpresas e, quando menos esperar, vai ter um monte de gente curiosa pra saber o que você escreve.


Olha, esquece esse papo de "escrever para agradar a todos". Acredite, é igual a tentar segurar gelo com as mãos, é uma missão impossível. Haverá leitores  que irão amar suas palavras, haverá leitores que irão odiar, e vai ter um monte de gente que nem vai dar bola. O importante é escrever com a alma (vamos reler as cartas de Rilke a um jovem poeta?), colocar a sua verdade naquilo que faz, porque aí você vai atrair os leitores que se identificam com sua escrita.


Agora, a terceira dica é  que você precisa repetir feito um mantra todos os dias: "Acreditar em si mesmo". Olha, o caminho do escritor é cheio de buracos, altos e baixos, e você vai precisar de uma dose gigante de confiança no seu taco. E isso é  para o autor independente ou para o escritor consagrado, não esqueçamos, estamos no Brasil.  Haverá dias que você achará que suas palavras valem ouro, haverá dias que achará  que elas não valem nem o papel em que foram impressas. Mas lembre-se, o importante é continuar, é manter a chama acesa mesmo quando tudo parece apagar.


E então, não esqueça da internet. Pode ser que você esteja no cantinho da sua casa, mas aí você escreve uma crônica, uma poesia, um conto, e ele se espalha pelas redes como se fosse a brisa do deserto. Quando se deu conta, seu texto dobrou a esquina da esquina, e alguém estará por lá,  esperando com um sorriso cibernético e uma xícara de café virtual. Mas ainda assim é árduo: é responder comentários,  compartilhar  processos criativos, fazer lives, criar laços que vão além do clique em um botão de "curtir".


E, por último, mas não menos importante, nunca, mas nunca mesmo, deixe de ser um leitor voraz. Não importa se no nosso país para alguns a literatura é irrelevante, você tem que ser a exceção, a contradição, aquele que mergulha de cabeça nas letras e se inspira nas palavras dos outros. A leitura é o alimento da alma do escritor, é como um banquete onde você prova todos os sabores e temperos. Devore livros, contos, poemas, revistas, seja um faminto por ideias. É dar o seu melhor, mesmo quando a galera prefere gastar tempo assistindo gatinhos na internet.






João Gomes da Silva nasceu no Recife/PE em 1996. Autodidata, é escritor,  poeta e social media. Publicou em algumas antologias, como Granja, Sub-21, Capibaribe vivo, Tente entender o que tento dizer, No entanto: dissonâncias e etc. Edita a revista de literatura e ideias Vida Secreta.