Poemas do livro Tempo Diabo, de Mário L. Cardinale

 por Mário L. Cardinale_




           


           VERSO-DEPENDÊNCIA


Conflito, essência da existência.


Tesão, impulso da querência

depravado, despido de decência

pecado, em busca de indulgência.


Medo, instinto de sobrevivência

Silêncio, sinal de sapiência

Palavra, rima, persistência.


Escrever, ato de resistência

Decadência, leniência, abstinência

Sono, displicência.

Verso-dependência.



TOQUE DE RECOLHER


epidemia, anemia

acefalia, toque de recolher

distopia, verborragia

hipotermia, calafrio ao amanhecer

milícia, falsa notícia,

imperícia, insensato aquiescer

feminicídio, assédio

ódio, autoritário emudecer

extinção, pobre nação,

extrema unção, palhaço no poder.


SOU NÁUFRAGO À DERIVA


Sou náufrago à deriva,

no balanço das ondas,

na escuridão da noite

de um mar chamado vida.

Sou marujo em alto-mar,

sem tatuagem no braço,

nem um amor no cais

me esperando retornar.

Sou capitão sem leme,

pela senda de icebergs

guiado pelo radar da intuição.

Jogue a âncora!

Preciso atracar

no porto da razão.









Mário Lázaro Cardinale Gomes dos Santos (1981, Poá, SP) foi tomado pela literatura e pela escrita em 2016 quando compôs seus primeiros poemas. No final de 2020, publicou seu primeiro livro, “O Mundo do Poeta”. No início de 2023 descobriu ser autista. Atualmente, cursa Psicologia com interesse principalmente nas áreas do Comportamento e da Psicologia Social. “Tempo Diabo” é o seu segundo livro, publicado em 2023 pela editora Pedregulho.