É chegado o tal sol de primaverão, crônica de Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro__


                                                                             
                                                                       
                                                                                      
 
                                                                   
                                                                                  
                                                                                     
                                                                           
Chegou pela Júlia, terceira geração Guedes. Com maviosidade, para Silvana, mulher que representa todas as mulheres como o arco-íris. Mulher que anotou acordes singelos, naquela madrugada ‘perdida’, em um Belo Horizonte resplandecente, no bar/boteco chamado Brasil.

Chegou em boa-nova, aliás, chegou-chegando, talvez pulando a estação das flores, chegou meio primaverão. 

Chegou em uma geleia telúrica, misto de mineiralidades-mineirais, genialidades-soteropolitanas, poesia-potiguar, ginga-carioca. É Tavito, Beto, Ronaldo, Brant, Lô, Hyldon, Gilson, Joran, Rodrix...

Chegou me fazendo pensar na casa no campo, branquinha, pau a pique e sapê. Pensar na chuva abençoando, salpicando a terra onde hei de colher com as mãos os amigos que têm o tamanho da paz. Abrindo as janelas do peito e, quem sabe, do quarto de dormir. Pensando em esperançar em glórias, aleluias e saravás.

Chegou como quem chega do nada, com um ramalhete multicor, as tais cores fridakahlianas de Almodóvar, no trenzinho montanhês, apitando Villas, lobos uivantes em lua crescente.

Chegou para molhar os pés nas águas doces da Oxum, para se banhar em suas cachoeiras, jardim primaveril em lírios entre rosas, que exalam perfumes e calam línguas cansadas.

Chegou em alvoradas chamejantes, arrebol, às vezes niltoniano, às vezes gutemberguiano, fúcsia ou ciclâmen não importa. 

Chegou, talvez tanto e somente para re-anunciar a psicodélica nova era de Aquário, para ouvirmos mais rocks rurais, para mais toda(o)s no lugar de ‘eus’.

Chegou, desta vez fazendo alarde, demonstrando que alguma coisa está fora da ordem racional da natureza, que está mais que na hora de olharmos para os céus, de entendermos o Universo. A natureza ‘grita’ por socorro, pede, implora: “cuidem de mim!”...

Chegou, mas o hotel Marina já na acende mais, os inocentes já não veem as bailarinas no Leblon e andar até lá se tornou tarefa árdua, driblando as pedras portuguesas soltas pelo caminho. 

Chegou.





Carlos Monteiro
 é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.