Descobrindo o Brasil noir de Luigi Ricciardi

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Entrevista | Descobrindo o Brasil ‘noir’ de Luigi Ricciardi: um mosaico de personagens marcados pelo trauma e pela violência


Autor comenta, em entrevista pingue-pongue, sobre os bastidores de “O descobrimento do Brasil”, livro de contos lançado pela editora Patuá


“O descobrimento do Brasil” (120 pág.) é o mais recente lançamento do autor Luigi Ricciardi. Na obra, o escritor apresenta um mosaico de personagens que se encontram em um mundo violento, perpassando também tragédia, perda, luto, morte e trauma. E, diante deste mundo vil e agressivo, precisam fazer as escolhas mais difíceis: escapar deste cenário ou tentar sobreviver a qualquer custo? “A violência é um dos temas centrais do livro, ela habita a obra quase toda. Vários tipos de violência aparecem. O Brasil é um país fundado sob o signo da violência. Daí o título irônico”, justifica o autor. O livro teve sua primeira edição em autopublicação em 2018 com o título de “A aspereza da loucura” — revista e reescrita, a obra sai agora pela Patuá.


Luigi Ricciardi, nome artístico do paranaense Luis Claudio Ferreira Silva, é nascido em Londrina em 1982, e morou muitos anos em Maringá antes de voltar para sua cidade natal. Formado em Letras Português/Francês, Luigi é fundador do Universo Francês, onde ministra aulas da língua de Molière. Publicou vários livros de contos antes de lançar “Os passos vermelhos de John: ou a invenção do tempo” (Penalux, 2020), seu primeiro romance. O escritor mantém a Acrópole Revisitada, canal literário no YouTube criado durante seu doutorado em Literatura na UNESP (Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara). Foi professor da UEM (Universidade Estadual de Maringá) e atualmente leciona na UEL (Universidade Estadual de Londrina). É um dos tradutores do livro “As revelações de Arsène Lupin” (Madrepérola, 2022).


Confira a entrevista completa com o escritor:


1 - Quais os temas centrais do livro e por quais motivos você os escolheu? 


Violência, tragédia, perda, luto, morte e trauma. Não sei se escolhemos os temas. Acredito que o escritor escolhe as personagens, decidi contar as histórias deles. A literatura é feita de pessoas. Elas são mais importantes do que os temas. Esses últimos vêm depois, a partir das histórias das pessoas. Entretanto, a violência, um dos temas centrais do livro, habita a obra quase toda. Vários tipos de violência aparecem. O Brasil é um país fundado sob o signo da violência. Daí o título irônico. 


2 - O que motivou a produção do livro? Como foi o processo de escrita?


Embora o livro tenha uma unidade temática e os contos estejam costurados pelas temáticas centrais, cada história nasce a seu modo. “Um parque de diversões na cabeça” foi inspirado na história do sogro de um tio que morreu em uma explosão. “Port-au-Prince” nasceu quando percebi que havia muitos haitianos na minha cidade, e também no Brasil, mas praticamente ninguém os retratava na literatura. “Memórias sobre uma garota morta” é uma história pessoal: sonhei inúmeras vezes com a minha irmã natimorta me pedindo para fazê-la viver nas páginas de um livro. E assim o livro foi se montando. Percebi logo no início que, de alguma forma, aquelas histórias se conectavam e estavam construindo uma obra coesa. 


3 - Quais são as suas principais influências literárias?


Não tenho como dizer se são influências que se manifestam na escrita, porque isso está numa camada mais subjetiva. Mas os escritores mais importantes que fizeram parte da minha formação foram Machado de Assis, José Saramago, Clarice Lispector, Jack Kerouac, Gabriel García Márquez, Rubem Fonseca, Edgar Allan Poe, Agatha Christie entre outros. Isso para falar de apenas alguns dos mais clássicos. Quanto aos contemporâneos, tenho afeição pelas obras de Mia Couto, Stephen King, Luiz Ruffato, Milton Hatoum, Annie Ernaux, José Luis Peixoto, Ricardo Lísias, Ana Paula Maia etc...


4 - Quais livros influenciaram diretamente a obra “O Descobrimento do Brasil”?


Muitos dos contos foram escritos, na verdade, por influências musicais. O conto que dá título ao livro, por exemplo, foi influenciado por uma música homônima da banda Legião Urbana, mas quis dar um efeito contrário ao final feliz da música. Mas há obras literárias das quais “roubei” os títulos. “Todo abismo é navegável a barquinhos de papel” é uma frase do conto “Desenredo” de Guimarães Rosa. “Um parque de diversões na cabeça” é o título de um livro de poesia do beatnik Lawrence Ferlinghetti. “Come chocolates, pequena” é um verso do poema “Tabacaria”, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa. “Dívidas” é um conto livremente inspirado em “O cobrador”, de Rubem Fonseca.


5 - Desde quando você escreve?


Sempre gostei de escrever. Assim que fui alfabetizado já gostava de escrever os textos que as professoras pediam na escola. Tive uma breve passagem pela música, na adolescência, período no qual rascunhei algumas letras. No segundo ano da faculdade, escrevi meu primeiro conto. Foi o pontapé. Não parei mais de escrever. 


6 - Como é o seu processo de escrita?


Varia muito. Sempre vou anotando coisas. Abro inúmeras pastas e arquivos e vou salvando tudo. Posso ir rabiscando aqui e ali. Mas para que eu mergulhe na história, preciso estar mais ou menos obcecado por ela. Aí dedico parte dos meus dias para escrevê-la. Prefiro escrever pela manhã, mas já escrevi em inúmeros horários e condições. Escrevo com mais frequência aos finais de semana. 


7 - Você faz alguma preparação ou tem meta diária?


Alterno muito os padrões. Às vezes gosto de fazer uma pesquisa profunda antes de escrever. Outras vezes as coisas vão acontecendo de maneira simultânea. Muitas vezes prefiro o silêncio. Em outras deixo a tevê ligada. Posso até ouvir música, a depender do humor. Quando estou na preparação de um romance, coloco algumas metas: certo número de páginas ou até mesmo um capítulo todo. Quando escrevo um conto, só me levanto quando ele está “pronto”.


8 - Quais são os seus projetos atuais?


Estou atualmente mergulhado na escrita de um novo romance. Não sei no que vai dar, mas estou vivendo intensamente a história. Já escrevi uns cinco romances, mas só publiquei um, porque quase nunca gosto do resultado. Desse estou gostando muito do processo. É uma história que se passa nos anos oitenta, com enorme pano de fundo político e cultural. Inclusive é uma história geracional. É o máximo que posso dizer por hora.