Prolóquios reveladores, crônica de Carlos Monteiro

por Carlos Monteiro`__


                                                             
                                         

                                        
                                           
                          
                                 
                   
                                                       
                                                        


Prolóquios reveladores (à Câmara Cascudo), crônica de Carlos Monteiro


      Os bons conselhos, em forma de frases ou expressões, são desde sempre usados para exemplificar atitudes e possibilidades, mas, será que na realidade, são de fato úteis? Será que na hora ‘do pega pra capar’, na ‘casa do ferreiro’ o espeto é mesmo de pau? Melhor que seja; ferimento de ferro deve ser bem dolorido e pode, com certeza, infeccionar além de, se não estiver em dia com a carteira vacinal preventiva do Tétano, causar danos muito maiores. 

Esperar é sinônimo ou antônimo de alcançar? Nessa espera o tempo tem sido mesmo o senhor da razão? Andam dizendo que todos os caminhos levam a Roma, mas, para chegar até ela, não é necessário ter boca ou devemos vaiá-la? Bons provérbios espalham ramas pelos chãos? E os burros; devemos correr até onde o Judas perdeu suas botas, ao vê-los fugidos? Toda obra de arte deveria ser esculpida em Carrara? Quem não chora, não mama, mas, e se o leite estiver derramado; reclamamos com o papa ou com o bispo. No Rio de Janeiro, é melhor ir ao Vaticano, afinal, dizem que santo de casa não obra milagres.

Na busca da colheita insana, o vento tem sido semente de tempestade. Muitos adágios vêm se concretizando ao longo do tempo como verdadeiros presságios. 

Nelson Rodrigues, um frasista inveterado, tem uma máxima que se transformou em axioma, aliás, não uma, mas, muitas. A melhor delas e que, em momento atual, se mostra agouro: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos!” ela tem florescer garantido de uns tempos para cá. Parece que abriram as comportas da idiotice e uma enxurrada inundou o planeta. 

Nelson foi um Nostradamus tupiniquim, trazendo para o papel seus pressentimentos, de forma que se imortalizassem para a posteridade e se comprovassem anos adiante. Foram muitos: “No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte”, “Invejo a burrice, porque é eterna”, “Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”. É óbvio e ululante que o genial jornalista, escritor e dramaturgo, conhecia, como ninguém, a alma humana pela observação ou por suas atitudes. Temos que dar a César o que dele é.

(continua...)


*Fotografias de Carlos Monteiro



Carlos Monteiro
 
é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.