Três poemas de Guilherme Andrade

 por Guilherme Andrade__



Foto de Eugene Golovesov na Unsplash


I —


Eu sinto que devo escrever 

uma longa carta, 

uma interminável

página à página


Não agora, não quero me envolver

demais, comigo mesmo


Se algum dia eu deixar esta cidade, 

agiria como alguém que está 

se curando 

de todos os pequenos males...


das bebidas que não são 

feitas de álcool ou gim, 

mas de um tipo de tristeza

que se esconde 

nas curvas das palavras,


no âmbito da estética e da ficção,

segundo a ordem dos sábios, 

que admiro 

mas nunca os senti cá dentro


Uma beleza que se esconde 

na curvatura das palavras,

que é também um medo... 

e saudades de casa 




II —


Ainda que eu desconheça,


tenho a sensação de vê-lo 

de vez em quando


Então o entrevejo indo embora


O quase nada de te conhecer,

apenas movimentos,

gestos...


Nenhuma harmonia,

uma película fina e transparente

entre nós, sempre 


nossas mãos divisadas

para sempre


Eu gosto de escrever 

estes brotamentos,


às vezes consigo lidar apenas

num nível alfabético,

mais fingido e mais contido,

porque a escrita é um tirar de tempo


América, 

ardência,

búfalos, 

hotéis, jarros e jardins,  

colares e cobras se parecem, 

e outros seres que nunca vi





III —



Inverno, inverno 

estou congelado por completo, 

não sabia que me apaixonei 


Será que a esqueci? 


Tal a neve na palma da minha mão, 

tal a neve

o nosso amor se vai


É como um pensamento

sobre a palma da mão, 

e ele derrete


Ela? Será que me esqueceu? 

Me desculpe mentir quietamente 

uma a uma, fim de jogo, talvez


Conforme aquela música,

Eu nunca fui como um farol para você...


Janeiro e fevereiro, 

sem você, tantas milhas de quilômetros

até onde o olhar alcança

esta pílula da canção,

paliativa 


A cama está vazia igual a um clichê, 



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* Está produção é fruto das atividades da Eletiva “Pensamento Computacional e RPG & Mídias Digitais”, no âmbito da E. E. Luiz Augusto Azevedo de Menezes, sob orientação dos professores Wellington Amâncio da Silva e Mônica Bezerra Costa e coordenação de Ana Vilma Francisco de Souza Aragão. 11ª GERE – Estado de Alagoas.





Guilherme Andrade De Araujo, 2005. Nascido em Delmiro Gouveia. De repente se encontrou escrevendo ao arriscar trabalhar as relações entre as palavras e suas possibilidades de expressão. Ler e escrever são inseparáveis, não apenas por causa dos “apontamentos de leituras”, mas pelo ato mesmo de criação. Leitor apaixonado por autores diversos, como Jane Austen (Orgulho e Preconceito) e Geoge Orwell (1984), percebe a vida afetiva mais ou menos conforme o filme Encontros e Desencontros, de 2003.