Prolóquios reveladores (à Câmara Cascudo), crônica de Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro___


                                                      
                                                                  
                                                                
                                                        
                                                                        
                                                                         

Prolóquios reveladores (à Câmara Cascudo)


(...continuação)

Outro que marcou história com suas tiradas extraordinárias foi Apparicio Torrely, o, autointitulado Barão de Itararé. Seus provérbios foram tão reais que dispensam qualquer comentário: “De onde se menos espera, é de lá que não sai nada mesmo”, “O mundo é redondo, mas, está ficando muito chato” – quem sabe tenha criado esta máxima prevendo que em pleno século 21 haveria terraplanistas. No dia a dia atual, seguir alguns de seus muitos conselhos, se tornou questão de sobrevivência salutar. “Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo” às vezes só é bem melhor do que estar acompanhado de quem não chega a nenhum lugar, a divagar não se vai longe, devagar então... “Mais valem dois marimbondos voando de que um na mão”, “Os vivos são sempre e cada vez mais, governados pelos mais vivos...”, “Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância”.

Tim Maia imortalizou em síntese a epopeia brasileira: “Este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita”. Definitivamente o Brasil não é para amadores, não mesmo!

Nestas noites em que todos os gatos têm sido pardos, meias palavras ou pingos, têm sido frases completas para os bons entendedores. As mentiras têm mostrado pernocas curtas em meias de seda. Não se engane com as aparências. A voz do povo é a voz de Deus e Ele tem ajudado a quem cedo tem madrugado, escrevendo por linhas tortas, porém absolutamente assertivas. Ele escreveu, você não leu? Ah, o pau do ferreiro vai comer feio, mesmo que este bonito lhe pareça. Os gatos andam atentos com qualquer gota d’água, os cães têm ladrado quando a caravana passa, com medo até de linguiça, pois já foram picados por cobra. Não mordem enquanto estão com a boca fechada evitando as moscas e os mosquitos, basta um pequeno descuido e lá vem a dentada.

No país do ‘rouba, mas faz’ onde ‘o ladrão que rouba outro está perdoado por um século’, onde ‘quem não tem cão caça como um gato’ e o barato não anda caro, o barato tem sido sobreviver as tempestades colhidas ao longo dos tenebrosos invernos e não se misturar aos porcos, afinal para baixo os santos têm ajudado.

Fica a dica!



Carlos Monteiro
 
é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.