Tipos do TIP, crônica de Anthony Almeida

 


por Anthony Almeida__




Cheguei muitas vezes ao Recife via TIP. Cheguei, inclusive, sem saber o que é TIP. Achava que estava chegando pela rodoviária, mas estava chegando era pelo TIP. Hoje sei que TIP é o Terminal Integrado de Passageiros. Isso porque o TIP não é só uma rodoviária interestadual e intermunicipal, é um terminal de ônibus urbano e metropolitano e também é uma estação de metrô. 


No TIP, posso chegar vindo de São Paulo ou de Maceió, de Caruaru ou de Garanhuns, do próprio Recife, de Jaboatão dos Guararapes ou de Camaragibe. Já cheguei de todas essas origens. Já fui a todos esses destinos. Hoje, chego novamente. Daqui, partirei, desta vez, de metrô, que depois trocarei por um ônibus — a vida na metrópole exige dessas baldeações —, para começar uma nova vida recifense. Vou do TIP ao bairro da Boa Vista. Chego no Recife e no Recife vou ficar.


Vou de metrô + ônibus justamente para reexperimentar dessa vida metropolitana. Senti alguma falta dela, admito. Mas poderia ir apenas de ônibus, há uma linha que me levaria onde quero. Uma linha de nome peculiar. O letreiro é cômico: 346 | TI TIP/Conde da Boa Vista. A sigla esconde uma redundância: Terminal Integrado do Terminal Integrado de Passageiros. É uma sigla engraçada, mas muito funcional e didática.


TI TIP, então, em somente cinco letras, explica: o TIP, apesar de integrar vários tipos de ônibus e metrô, não permite que a integração seja feita de maneira gratuita em qualquer troca de modal. Pois, sim, se o passageiro quiser fazer a conexão de um para outro transporte, pode, mas é somente dentro do TI TIP — que é só um pedaço do TIP todo — que ela é feita sem custo, entre os ônibus urbanos e metropolitanos. Veja que até me esforcei para explicar com muitas palavras. Mas TI TIP funciona muito melhor, né?


Mesmo sabendo de tudo isso, não vou de 346 | TI TIP/Conde da Boa Vista. Vou de metrô Linha Centro: Recife até a estação Joana Bezerra. Lá, vou pegar qualquer ônibus que seja TI Joana Bezerra/(uma das quatro opções) e que siga pela Avenida Agamenon Magalhães, sentido norte. Vou saltar logo depois de um grande ponto de referência: o Hospital da Restauração. Dele, devo caminhar um pouco. Vou por esse caminho para reexperimentá-lo e reexperimentar o Recife. Vou e ter toda essa familiaridade com este lugar, de saber desse blábláblá todo, muito me agrada. 


Recife/PE. Setembro, 2022.








Anthony Almeida
nasceu em 1989, em Caruaru/PE. É cronista, geógrafo, professor e editor-adjunto da RUBEM – Revista da Crônica. Atualmente desenvolve pesquisa de doutorado em Geografia Literária na UFPE, campus Recife, sobre o tema ‘Geograficidades do mundo vivido-escrito na crônica brasileira’. É autor do livro "Um pé lá, outro cá" (Aboio, 2023) e escreve para os portais Mirada e Cena. Saiba mais em: https://linktr.ee/anthonypaalmeida