Tô fraco, tô fraco, crônica de Renata Meffe

por Renata Meffe__


         
Foto de Josh Boot na Unsplash
                                                                          
          O que veio primeiro, o ovo ou a galinha d´angola? Esse desânimo que sinto é porque não tenho músculos ou não construí músculos justamente por ser desanimada? Em outras palavras: sou fraca porque sou fraca ou sou fraca porque sou fraca? Só sei que quanto menos músculo, mais ferrada você está. Especialmente a partir da pré-menopausa, quando mais precisaria de músculos e quando (adivinha?) mais difícil é ganhar músculos. 


     Ganhar é termo ingênuo. Nós conquistamos músculos, sofremos fazendo prancha e agachamento para obter algo de músculo, nós suamos músculo. Se hoje encontrasse o gênio da lâmpada na fila da esfiha, pediria amor, sucesso, ouro, incenso, mirra? O fim das ligações de telemarketing a cada 25 minutos no celular? Nada disso. Rogaria por robustez. Converteria os três pedidos em massa muscular. É esta musculatura que, a modo de anjo da guarda fibroso, protegerá a saúde da minha carcaça nos anos vindouros.  


     Uma mulher precisa levantar dez vezes mais peso para cultivar os músculos que um homem da mesma idade consegue com um décimo de tempo e esforço. Não bastasse tudo que a gente já passa no patriarcado, a biologia ainda dá uma sacaneada: cólicas, tpm, dores do parto e desigualdade muscular. Se Deus existe mesmo, talvez se trate de um ser levemente misógino.


     Mas no último fim de ano não estava fraca só fisicamente. Parece que quase todos nos sentimos mais exaustos também no âmbito psíquico, em comparação a outros dezembros. E olha que os anos anteriores, pandêmicos e bolsonarísticos, nos deram canseiras dilacerantes. Foram épocas de muita tensão, susto, revolta, luta. Porém, no calor do desespero, nem sobrava espaço para aquela esfriada, que é quando o cansaço se manifesta. 


    Ao poder finalmente relaxar um pouco das preocupações com os desmandos e desvarios, a gente conseguiu dar uma respirada, focando assim na preocupação que nunca deixou de ser urgente: a ação de autodespejo da Terra, que vamos perpetrando contra nós mesmos. O ano de 2023, com suas ondas de calor debilitadoras, foi o barranco no qual nos encostamos um pouquinho…para começar a ver o mundo acabar. Feliz ano novo. Muita força aí!





Renata Meffe 
Jornalista, fotógrafa, documentarista, tradutora, professora & cronista. Sim, somente atividades altamente rentáveis. Escrevo ensaios que jamais estreiam.