Relatos jurídicos: uma conversa com Kleiton Ferreira

 por Divulgação__



ENTREVISTA | Relatos jurídicos: uma conversa com Kleiton Ferreira sobre o seu primeiro livro “Espada da justiça”

No seu primeiro romance, "A Espada da Justiça” (Labrador, 160 pág.), o juiz federal Kleiton Ferreira (@kleitonferreiraescritor) nos joga em um mergulho profundo nos temas candentes do sistema judiciário brasileiro. Nesta obra, o autor descreve o exercício do poder e as fragilidades do próprio sistema. Ambientado no universo íntimo de um juiz colapsado em meio a uma crise de meia-idade, o livro expõe as lutas internas desse homem enquanto ele tenta desvendar os problemas do mundo com o poder de sua caneta. Desde a angústia de um pai diante de uma relação abusiva da filha até os desafios cotidianos enfrentados pelos servidores do sistema judiciário, Kleiton tece uma narrativa intrigante que mergulha fundo na psique humana e nas engrenagens da Justiça.

Nascido em Arapiraca, Alagoas, Ferreira trilhou um caminho profissional que o levou a residir e trabalhar em diversos estados brasileiros, absorvendo uma diversidade de perspectivas e experiências ao longo do caminho. Sua transição da advocacia para a magistratura e, posteriormente, para a escrita, revela uma trajetória marcada por uma busca incessante por expressão e compreensão. Embora sua carreira jurídica tenha fornecido a ele um entendimento íntimo das complexidades do sistema judiciário, é evidente que Kleiton também é um observador perspicaz das nuances da condição humana. Sua incursão na literatura não só testemunha sua habilidade em tecer narrativas envolventes, mas também reflete sua capacidade única de fundir suas experiências pessoais com suas reflexões sobre a sociedade e a vida.

1 - Como começou a escrever?

Escrevo há quase 10 anos, mas comecei a levar a sério mesmo tem pouco menos de quatro. Digamos que “A Espada da da Justiça” foi o primeiro romance em que trabalhei como escritor profissional.

2 - O que motivou a escrita do livro? 

Havia uma inquietação para falar sobre os processos e casos com que eu me deparava diariamente. Atualmente o INSS é um dos maiores “réus” da Justiça Brasileira. A quantidade de ações que envolvem benefícios previdenciários é enorme. Se parte delas é julgada procedente, então há algo de errado. Assim, após juntar casos e exemplos, inclusive um que envolveu o remédio mais caro do mundo, comecei a escrever, ainda quando era juiz em Macaé.

3 - Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam?

Relações abusivas, remorso e culpa de um pai. Abraão se culpa pelo sofrimento da filha, e quer compensar a omissão com algo que, para ele, pode redimir seus erros.

Sou pai, eu tenho uma filha de 20 anos, em idade semelhante a da Samanta. Um dia me imaginei na situação de Abraão, em que minha eventual inércia diante de um relacionamento tóxico pudesse ser a causa principal do sofrimento de alguém que amo muito.

4 - Quais são as suas principais influências literárias?

De forma geral, Machado de Assis, Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, Isabel Allende, George R.R. Martin, Bernard Cornwell, Dostoiévski, Victor Hugo, Gabriel Garcia Márquez, José Saramago etc.

Mas pensando em influências diretas para o livro, “Amor em tempos de cólera”, “Fausto”, “Dom Quixote”, e “O Velho e o Mar” tiveram um papel importante. 

5 - Como você definiria seu estilo de escrita?

O livro passou por modificações severas no que diz respeito ao estilo de escrita. Antes era algo mais carregado de jargões, apesar da tentativa de evitá-los. Depois percebi que o tema jurídico poderia ser abordado de forma mais acessível. Mudei tudo, e como venho sempre aprimorando a escrita para torná-la mais leve e fácil, assim fiz. Hoje minha preocupação hoje é simplicidade.

6 - Como é o seu processo?

Primeiro surge a ideia, e depois uma revolução acontece na minha cabeça. Vou trabalhando os protagonistas, escrevendo cenas, apagando e reescrevendo, trabalho árduo e demorado. Narro os capítulos já prontos, e com isso faço ajustes nos diálogos. O capítulo em áudio me dá mais ânimo de continuar escrevendo, e com isso vou tentando aparar pontas soltas, e assumir receber críticas das que não consigo amarrar. No fim, posso dizer que meu processo de escrita é uma maravilha.

7 - Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária?

Como disse antes, meu ritual é a narração. Isso não pode faltar. Meu maior livro até agora (Crônicas de um Mentiroso) tem 70 episódios em áudio hospedados em podcast. É uma séria. Tudo isso só foi possível pelo fato de eu narrar, criar vozes e sotaques, e me divertir bastante sendo o ator de novela que nunca tentei ser. Quanto à meta diária, hoje não possuo mais, por conta do trabalho como juiz. Faço muitas audiências, 40 a 80 por semana, e são muitos processos. Espero um dia poder voltar a ter uma meta.

8 - Quais são os seus projetos atuais? O que vem por aí?

Muitos e muitos. Tem um livro sobre um jovem que começa a escrever um diário, e durante o processo se envolve com uma célula nazista que o copta. Há a série Crônicas de um Mentiroso, romance histórico em que um velho afirma ter influenciado diretamente nos principais eventos históricos do Brasil, desde a década de 30, passando pelos regimes militares. Tenho um livro de autoajuda e autobiográfico, que conta minha trajetória para a aprovação no concurso de juiz federal.


Kleiton Ferreira