Literatura e feminismo: a escrita como resistência de Regiane Folter

por Divulgação__


              
ENTREVISTA | Literatura e feminismo: a escrita como resistência de Regiane Folter 


"Mulheres que não eram somente vítimas (editora Folheando, 124 pág)" mergulha nas profundezas da violência contra a mulher. Regiane Folter (@regianefolter), conduz os leitores por uma narrativa que transcende os limites do crime e da tragédia, propondo um olhar feminista e humanizado sobre a condição feminina. Através da protagonista, a jornalista Maria Silva, a obra desvela as camadas de uma história de violência e busca justiça para a vítima, Mariana Tavares, cuja morte esconde uma série de traumas e abusos. Além de abordar a superação dos traumas, o livro também lança luz sobre as violências cotidianas enfrentadas pelas mulheres, destacando a importância das amizades e redes de apoio entre elas. 


Regiane Folter, jornalista formada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), é uma autora que utiliza sua escrita como uma forma de ativismo e resistência. Com uma trajetória marcada por temas sociais e de gênero, Folter encontrou na literatura uma plataforma para expressar suas convicções. Nascida em São Paulo e atualmente residente em Montevidéu no Uruguai, ela é uma viajante entre culturas, cuja experiência influencia sua visão de mundo e sua escrita. Além de sua atuação como escritora, Regiane é uma profissional de comunicação e marketing, dedicada a amplificar vozes e causas importantes. Seu engajamento na luta contra a violência de gênero e sua busca por igualdade permeiam não apenas suas obras literárias, mas também sua vida e seu trabalho diário.


1 - Como começou a escrever?


Escrevo desde que tenho memória! 


Como minha mãe é professora, aprendi a ler e escrever antes mesmo de entrar na escola. Sempre tive caderninhos, diários, esse tipo de coisa. Me lembro de que quando tinha uns 9, 10 anos escrevi e publiquei um livrinho para um trabalho da escola. Era uma história natalina, eu escrevi o texto e minha mãe fez as ilustrações. Imprimimos, encadernamos, tudo bonitinho. Na biografia desse livrinho eu dizia que meu sonho era ser escritora. A minha criança interior estaria muito feliz de me ver publicando livros hoje.


2 - Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam?


A superação de traumas, em especial aqueles causados contra a mulher.


A importância das amizades, das pessoas que nos apoiam, especialmente entre as mulheres.


Situações comuns de violência que vivemos como mulheres e como sobrevivemos frente ao machismo institucionalizado.


Sou feminista e esses temas sempre me interessaram. Nos últimos anos aprendi mais sobre o que é ser mulher na nossa sociedade, e quanto mais entendo as falhas dessa estrutura machista patriarcal que nos rodeia, mas indignada me sinto. Quero mudar as coisas, quero viver em um mundo mais igualitário. Esse livro surgiu como uma forma de sintetizar o que sinto sobre esses temas e como me afetam, e também simboliza minha luta interna e externa contra a violência contra a mulher.


3 - Como foi o processo de escrita deste livro? 


A ideia do livro surgiu de forma natural. Não foi que eu queria escrever um livro e saí em busca de ideias; um dia simplesmente o enredo do livro começou a se formar na minha mente e me entusiasmei por contar essa história. A primeira coisa que fiz foi me sentar e anotar em uma folha a linha do tempo da trama com seus pontos principais. Listei os personagens e suas principais características, suas contribuições à história. E logo comecei a escrever na ordem que havia imaginado o desenlace, do começo ao fim. Escrevi o livro durante a pandemia, acho que o primeiro esboço ficou pronto depois de 5, 6 meses trabalhando. Todos os dias dedicava um tempo pra escrever. Quando terminei a primeira versão, deixei o livro descansar por algumas semanas e aproveitei esse tempo para conversar com alguns profissionais e tirar dúvidas mais técnicas sobre temas do livro. Logo, continuei trabalhando sobre ele, reescrevi um milhão de vezes até decidir começar a enviá-lo a editoras.


4 - Como a bagagem dos livros anteriores que você escreveu ajudou na construção da obra?


A constância foi o principal aprendizado que trouxe do meu livro anterior para o processo de criação de “Mulheres”. Com “AmoreZ” aprendi que era preciso me dedicar todos os dias a esse projeto, mesmo que fosse só um pouquinho. Cada dia dei um pouco de mim e passo a passo esses livros foram surgindo. Depois, contar com o apoio de outros profissionais também foi algo que aprendi com meu primeiro livro e apliquei com esse também. Buscar leitores críticos para receber feedback, logo editar o texto com um revisor, trabalhar a parte visual com ilustradores, etc. As mãos de muitas pessoas fizeram com que meus dois livros fossem os materiais finais que são hoje.


5 - O que esse livro representa para você? 


Esse livro simboliza muitas coisas nas quais acredito e que tento aplicar no meu dia a dia. Também é uma homenagem à mulher que sou e às mulheres que me apoiaram e me ensinaram tanto. Escrever esse livro durante o período sombrio da pandemia foi um salva-vidas; era algo positivo que fazia todos os dias e que me deu um norte naquele momento tão difícil. Acho que fortaleceu minha esperança de que tudo pode melhorar, por mais terrível que seja o que estamos vivendo.


6 - Você tem algum ritual de preparação para a escrita?


Tento escrever pelo menos 5 vezes por semana, normalmente de segunda à sexta. Tenho um dia corrido, entre trabalhos e outras responsabilidades, pelo que se posso escrever 30 minutos por dia já considero que foi um dia bom. Como diria a também autora Aniko Villalba, melhor 30 minutos que 0 minutos, não é mesmo? Gosto de escrever mais pela manhã, tenho um espacinho na casa onde posso me sentar tranquila com uma xícara de chá, playlist inspiradora do Spotify e o computador para poder escrever.


7 - Por que escolher o mistério como gênero?


A ideia do livro surgiu com esse formato de mistério, romance policial. Esse livro talvez seja meu primeiro texto mais comprido escrito nesse gênero. Sempre fui fã desse tipo de história, acho que me inspirei a partir de outros autores e autoras que li com essa mesma pegada, desde a clássica Agatha Christie, passando pela escrita crua e dolorosa da Gillian Flynn e as novelas intrigantes de Hugo Borel. Acredito que esses e outros autores tenham me inspirado.


8 - Como você definiria seu estilo de escrita? 


Escrevo normalmente textos curtos, sou uma grande fã das crônicas, contos e poemas. Não sei definir bem meu estilo, acho que sempre tento falar de coisas que vivo e sinto desde minha perspectiva. Escrevo muito em primeira pessoa. Para “Mulheres”, o livro é um relato ficcional escrito em capítulos e quase todos giram ao redor das entrevistas que a personagem principal têm com diferentes pessoas que de alguma forma estão relacionadas com a Mariana e o que aconteceu com ela.


9 - Quais são as suas principais influências artísticas e literárias?


Mencionei mais acima alguns autores que adoro e cuja forma de escrever e gêneros me inspiraram para criar “Mulheres”. No geral, gosto de muitos tipos de escrita e gêneros. Sinto que tudo que leio me influencia de alguma maneira. Se penso nos textos, especialmente crônicas e poesia que venho escrevendo e publicando online nos últimos anos, acho que minhas principais influências são autoras e autores que admiro e cujo estilo de escrita direta e impactante é o que aspiro desenvolver na minha: Camila Sosa Villada, rupi kaur, Amanda Lovelace, Marie Gouiric, Carol Bensimon, Maria del Mar Ramón, Paula Gomes, Martha Medeiros, Alex Dimitrov, Chimamanda Ngozi, Aline Valek, Luis Fernando Veríssimo, Carlos Ruiz Zafón, Isabel Allende - são alguns deles. Acredito que o caminho que eles traçaram é o que me inspira a continuar escrevendo.


10 - Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?


Tenho outra ideia de livro no forno, algo mais similar a meu primeiro livro, “AmoreZ”, que estou criando e editando. Em 2024 quero divulgar fortemente o “Mulheres” e, claro, continuar cuidando de “AmoreZ”. Também gostaria de me manter ativa no Medium, o lugar onde escrevo e publico há mais tempo, e também crescer lá no Substack, onde tenho há mais de dois anos uma newsletter.