Explorando as complexidades da masculinidade em Cavalo, romance de Lucas Castor

 por Divulgação/Taciana Oliveira__


                                                          
"Cavalo", obra finalista do Prêmio Mozart Pereira Soares, escrita pelo brasiliense Lucas Castor, mergulha nos dilemas do homem contemporâneo, explorando os embaraços da masculinidade tóxica e compulsória. A narrativa acompanha o protagonista, Carlos, em seu itinerário de reconstrução dos laços afetivos e pessoais, enquanto enfrenta o envelhecimento e a impotência sexual. O livro se destaca por sua estrutura narrativa, alternando entre duas linhas do tempo que oferecem uma visão ampla da vida do protagonista. Além disso, a trama se passa em Brasília, capital federal, com a cidade desempenhando um papel crucial na história, enriquecendo-a com suas paisagens e atmosfera. Castor, que tem uma relação íntima com a cidade, incorpora elementos da urbe em sua obra, criando um retrato autêntico e vívido. Ao abordar temas sensíveis e contemporâneos, "Cavalo" convida os leitores a refletir sobre questões de identidade, relacionamentos e o papel do homem na sociedade atual. 


O grande destaque de "Cavalo" reside no protagonismo que o autor atribui à narrativa dos homens que habitam as grandes cidades e compõem a classe média brasileira. Castor evidencia que esse grupo também merece espaço tanto nas páginas quanto nos debates contemporâneos. Para isso, o escritor não hesita em retratar as dificuldades enfrentadas por esses indivíduos, personificadas no protagonista Carlos. Suas lutas para lidar com as emoções e sentimentos refletem-se diretamente em seus relacionamentos interpessoais e na construção de sua própria identidade. A maneira como ele enfrenta esses desafios e busca se reinventar para se adequar a um mundo em constante transformação é o cerne da história que os leitores terão a oportunidade de acompanhar ao longo do livro.


ENTREVISTA | Explorando as complexidades da masculinidade em "Cavalo": conversa com o escritor brasiliense Lucas Castor


Lucas Castor, escritor e fotógrafo nascido em Brasília (DF), lançou "Cavalo" no final de 2022. O romance discute dilemas do homem contemporâneo e complexidades da masculinidade, utilizando uma narrativa que entrelaça passado e presente. A obra, finalista do Prêmio Mozart Pereira Soares em 2023, acompanha a jornada de Carlos, um homem de meia-idade, servidor público estagnado. O protagonista forma relações precárias com as mulheres de sua vida, ao mesmo tempo que enfrenta os desafios do envelhecimento e da impotência sexual. A dualidade temporal na narrativa proporciona ao leitor uma visão abrangente da vida de Carlos e torna a leitura dinâmica e envolvente. A história se passa em Brasília, cidade que é também uma personagem importante da obra. Um espaço tão presente adiciona uma camada de complexidade e autenticidade à trama.

Além de sua obra literária, Lucas Castor é graduado em Antropologia pela Universidade de Brasília e atualmente cursa um mestrado em Escrita Criativa na Universidade de Coimbra. Sua escrita, segundo ele próprio, transita entre o realismo mágico e o contemporâneo. Lucas, que vive entre a Suíça e Portugal, também se dedica à fotografia autoral e comercial. Lucas está interessado em temas deixados à margem do discurso dominante. 


1 - Quais são os temas centrais do livro “Cavalo”?

Masculinidade, violência, impotência e envelhecimento. 


2 - O que motivou a produção do livro? Como foi o processo de escrita?

Cavalo surgiu de uma frase. Eu morava em Barcelona há pouco tempo e passava pelo meu primeiro inverno digno do nome. Estava triste e a ponto de terminar um relacionamento. Do nada, e nem me lembro de quando, exatamente, uma frase surgiu, intrusa: É possível cavalgar um cavalo sem um cavalo. Honrei-a e comecei a escrever. Primeiro um conto, que depois se transformou no romance. O processo de escrita foi longo, entre 2017 e 2022. O livro passou por duas leituras críticas e várias reescritas. Tenho a impressão de que ainda está por terminar (um livro acaba?).


3 - Quais são as suas principais influências literárias?

Em prosa, José Saramago, Haruki Murakami, Fiodor Dostoievski, Isabel Allende, Amos Oz, Roberto Bolaño, Daniel Galera, entre outros. Em poesia, Sylvia Plath, Ferreira Gullar, Manoel de Barros, Paulo Leminski, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade.


4 - Quais livros especificamente?

São vários, vou listá-los aqui: Os irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski; A caverna, de José Saramago; Crônica do pássaro de corda, de Haruki Murakami; Barba Ensopada de Sangue, de Daniel Galera; A noite da espera, de Milton Hatoum; A caixa preta, de Amós Oz; e A interpretação dos sonhos e O mal estar da civilização, de Sigmund Freud.


5 - Escreve desde quando? Como começou a escrever?

Poesia, comecei a escrever na adolescência, após perder um amigo numa morte trágica. A minha poesia é ruim, por isso não publico. Já prosa, comecei no inverno de 2017, quando morava em Barcelona. Primeiro escrevi contos, e depois transformei um desses contos em romance. Hoje, me considero um romancista.


6 - Como você definiria seu estilo? 

Um meio-caminho entre o realismo mágico e o realismo contemporâneo.


7 - Como é o seu processo de escrita?

Devo meu processo de escrita a José Saramago. Ainda novo, quando fazia graduação na UnB, assisti ao documentário José e Pilar, de Manuel Gonçalves Mendes, que relata de forma simples e direta o cotidiano e a escrita de Saramago. Em uma das cenas, ele diz que há décadas escreve duas páginas por dia. Foi revolucionário ver um grande escritor lidando com a escrita de uma maneira pouco idealizada; tratando o que fazemos como mais uma profissão. Roubei dele e adaptei um pouco. Quando estou trabalhando em um romance, escrevo de segunda a sexta-feira, um capítulo por dia (o que de fato dá, em média, duas páginas). Aos finais de semana vou fazer outra coisa.


8 - Você tem algum ritual de preparação?

Tomo café da manhã, preparo um chá e vou ao escritório. Meu cachorro, Murilo, está sempre deitado debaixo da mesa. Paro antes do almoço e só retomo no dia seguinte.


9 - Quais são os seus projetos atuais? O que vem por aí?

Já terminei meu segundo romance, Azul, e estou inscrevendo-o em concursos de originais. Nos últimos meses, tenho escrito contos, para conciliar a escrita com as atividades do mestrado. Pretendo começar um novo romance no segundo semestre de 2024. 


Confira um trecho do livro: 


“Mamãe estava sentada na ponta da cama de casal. Deu dois tapinhas no colchão, me convidando. Não consegui segurar o choro, ele veio de uma vez. Mamãe abraçou-me. Eu soluçava, engasgando com o catarro, soltando gemidos que não pareciam meus. Um estranho chorava dentro de mim, uma pessoinha menor, esquisita. Queria dizer a mamãe que não chorava por causa da separação, afinal era melhor para ela, e eles não eram mais um casal, há anos. Queria dizer que chorava por algo diferente, algo sem contorno, muito maior. Mas não disse nada”



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https://www.editorapenalux.com.br/catalogo-titulo/cavalo 



Taciana Oliveira - Natural de Recife (PE), Bacharel em Comunicação Social (Rádio e TV) com Pós-Graduação em Cinema e Linguagem Audiovisual. Roteirista, atua em direção e produção cinematográfica, criadora das revistas digitais Laudelinas e Mirada, e do Selo Editorial Mirada. Dirigiu o documentário “Clarice Lispector - A Descoberta do Mundo” Publicou Coisa Perdida (Mirada, 2023) livro de poemas.