Escritores Contemporâneos em Cena — Um Olhar de Cibele Laurentino
A literatura brasileira vive um momento fértil e múltiplo. Entre editoras independentes, publicações digitais e lançamentos ousados, novas vozes e narrativas moldam o presente da nossa ficção. É nesse território vivo que eu, escritora e divulgadora literária, encontro histórias que merecem ecoar mais longe. Nesta primeira coluna para a Mirada, trago autores que, cada um à sua maneira, vêm contribuindo para ampliar o horizonte do nosso imaginário.
Leide Freitas | Entre raízes e o improvável
Em Vidas Oscilantes, Leide Freitas apresenta narradores inusitados e personagens que não escapam ao olhar atento de quem escreve com precisão e sensibilidade. Cearense de Capistrano, Leide constrói narrativas que dialogam com suas raízes ao mesmo tempo que buscam o novo. A obra, com orelha de Cris Menezes e prefácio de Milena Maria Testa, confirma sua habilidade de tensionar o cotidiano e o extraordinário. Autora de títulos como Reflexões Íntimas, O Tempo é Mulher e O Diário de Sabrina, Leide também é presença ativa em coletâneas e no blog literário Contos de Samsara.
De longe eu via uma manchinha na vereda que levava a nossa casinha. Alongava meu olhar de menina para ver melhor quem vinha e ao perceber que era minha querida Mãe Didi corria ao seu encontro para dar a benção e ficava saltitante a seu redor como um cãozinho, depois vinha meus irmãos para fazer festa a sua chegada.Adorávamos as suas visitas à nossa casinha.
Trecho do conto: Cartas mãe Didi — Vidas Oscilantes, de Leide Freitas
Gil Camargo | O tempo como personagem
O recente trabalho de Gil Camargo é um mergulho no envelhecimento, nas perdas e nas resistências que moldam nossas trajetórias. Nascido na década de 1950 e com trajetória literária iniciada em 1983, Gil desenha, através da trajetória de quatro amigos, um retrato sincero do envelhecimento: realista, por vezes doloroso, mas repleto de descobertas e afetos. Com humor, melancolia e delicadeza, suas palavras celebram amizades e exploram o poder das lembranças, destacando que mesmo em tempos difíceis ainda é possível encontrar conexão e sentido na vida.
Era cedo, perto das oito da manhã, e aquele local longínquo da cidade de São Paulo estava deserto. Fazia calor exagerado mesmo para dezembro. Dali a poucos dias, mais precisamente em 1 de janeiro de 2019, o país descobriria que sua frágil democracia fora vilipendiada pela eleição de um elemento adepto da violência como forma de comunicação, e que por pouco não destruiria o país nos 4 anos tenebrosos que se seguiriam.
Trecho de Velhice Sinistra, de Gil Camargo
Ray da Torre | Uma utopia em notas de Lennon
Inspirado pela icônica música Imagine, de John Lennon, o romance Vithalis transporta o leitor para uma civilização utópica onde não existem fronteiras nem divisões entre culturas. Engenheiro de formação, apaixonado pela banda inglesa The Beatles e estudioso de filosofia e temas herméticos, Ray da Torre combina reflexão e aventura para propor uma pergunta fundamental: seria possível construir um mundo tão harmonioso quanto o que Lennon imaginou? Entre ficção científica e filosofia, o livro é um convite à imaginação e à construção de realidades melhores.
Nesse dia sagrado, reúnem-se para um banquete e um ritual de profunda conexão. O ritual nasce do silêncio, uma meditação sobre o legado daqueles que teceram suas vidas na tapeçaria da comunidade.No silêncio, no escuro dos olhos fechados, brota uma paz que floresce em relaxamento. Na empatia e na honra de ser parte de algo maior, os Nolenns bebem da fonte do amor ágape, que induz a um êxtase transcendental. A pele se arrepia, os corações se unem em um ritmo constante de emoções, até que os olhos se abrem, renovados, carregados com a força e inspiração dos heróis que os precederam.
Trecho de Vithalis, de Ray da Torre
Roseli Bressan | Justiça entre luzes e sombras
No primeiro volume da trilogia Entre Sombras e Sentenças, intitulado O Despertar, Roseli Bressan nos apresenta Aurora Vasconcelos, personagem que enfrenta traições, dilemas morais e o desafio de reconstruir sua vida. Advogada e autora estreante na ficção, Roseli transporta para a literatura sua experiência no universo jurídico, criando uma narrativa que equilibra precisão técnica e profundidade emocional. O resultado é um romance que fala de transformação, coragem e do complexo jogo entre luz e escuridão.
Com cada conversa que tínhamos, eu me sentia mais preparada para enfrentar os desafios que viriam pela frente. A sabedoria dela se tornava um alicerce em minha jornada, e eu sabia que, independentemente das dificuldades que pudesse encontrar, tinha em minha mãe uma fonte de inspiração e apoio incondicional. Assim, meu desejo de ser magistrada não era apenas uma meta profissional, mas uma missão de vida, uma forma de honrar os ensinamentos que recebi e de lutar por um mundo mais justo e equitativo.
Trecho de Entre Sombras e sentenças, de Roseli Bressan
O presente em movimento
Esses autores representam a diversidade e a vitalidade da literatura brasileira contemporânea. Suas obras transitam entre o íntimo e o universal, entre a memória e a invenção, convidando o leitor a se reconhecer e também a se deslocar. No meu trabalho de divulgação literária, busco justamente ampliar esse encontro, entre histórias, vozes e leitores. Porque a cena literária de hoje não é apenas um retrato do nosso tempo: é também uma promessa do que podemos ser.
Cibele Laurentino — Ativista cultural nascida em Campina Grande, Paraíba. Membro da Academia de Letras de Campina Grande e da UBE — PB. Bacharel em Letras, formada em Gestão em Turismo, divulgadora de autores contemporâneos. Idealizou o projeto Conversa com Escritores. Autora dos livros: "Cactus" (poesias); "Nobelina" (romance); "Todas em mim" (contos), traduzido e comercializado em espanhol pelo grupo editorial Caravana; “Eu, Inútil", romance premiado como melhor obra de ficção em Portugal no prêmio Ases da Literatura.
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