Caderno Vermelho Sangue, poemas de Lavínia Dias

 


Isabel, clube de xadrez

 

Pertenço a casta dos escritores 

inerentes ao apaixonamento

por mulheres cruéis.

Neste ponto, você rastejou

de maneira apressada 

ao encontro do meu pescoço, 

a sufocar qualquer grito de socorro.

A sério, clamaria mesmo por ajuda?

Todas as tuas décadas te tornaram 

singular em instrumentos de tortura, 

por outro lado, minha inexperiência 

não me favoreceu em nada.

Desejo, apenas,

que em sua próxima emboscada natural,

o noviço altere o sentido 

e o resultado do entretenimento.

 


Adeus, passarinho


As lembranças são agora o que perpetuam,

compreendo que os meus filhos

não serão também teus,

mas saberão de teu nome.

Não porque não ame em polvorosa

sua mãe:

resistirão as vogais e consoantes,

as quais te compõem.

Prometi a vida por sempre falar do amor,

fomos nós amor

e seremos.

O eterno se traduz em todas essas noites

a repartir uma mesma estrela,

desejando-te o astro.

Adeus, passarinho,

volte a voar.


Beije meu desgosto,

beije minha lepra,

a ferida aberta nos animais:

a mais nojenta de todas.

Beije meus animais,

beije o meu ódio

e se apaixone pelo grotesco.

Beije minha ausência de amor pelos outros

e por você,

quando o sentimento se esconde em mim.

Você é capaz de beijar tanto desse vazio nojento?



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Bacharel em Direito, Lavínia Dias escolheu a profissão movida por seu interesse genuíno pelas pessoas e pela certeza de que todos possuem direito à defesa e à justiça. Essa mesma sensibilidade levou à literatura — em especial à poesia — como um instrumento íntimo de conexão com o ser humano. Suas principais influências literárias incluem Clarice Lispector, Hilda Hilst, Manoel de Barros e Fernando Pessoa. Iniciou sua trajetória poética aos quinze anos, como uma experiência de fuga, encontro e desejo. Com a maturidade, empreendeu-se a busca por sua técnica — elemento essencial para quem deseja escrever com compromisso. Aos 24 anos, conclui este livro, resultado de nove anos de travessia. Uma obra que marca a passagem da menina para a mulher, manifestando no poema seu mais íntimo pacto com a arte, com o outro e consigo mesma.