por João Oliveira Melo |
Paranoia Agent e o escapismo coletivo
Paranoia Agent (Mousou Dairinin) é um anime nos gêneros terror psicológico, drama, surrealismo, mistério e humor ácido criado por Satoshi Kon, diretor de Perfect Blue (1997) e Millennium Actress (2001). Lançado e divulgado originalmente em 2004, a obra é uma minissérie dividida em treze capítulos de vinte e quatro minutos que narram pontos de vista de diversos personagens. A história se passa em um centro urbano no Japão onde ocorre supostos ataques de um garoto usando patins e um taco de beisebol, ambos dourados, onde os alvos são pessoas entrando em colapso mental e incapazes de distinguir a realidade entre a imaginação. O mais surpreendente desses acontecimentos é que as vítimas se sentem aliviadas após os delitos e jogam a culpa dos seus problemas pessoais para a entidade misteriosa.
O enredo é um conjunto de traumas, angústias e escapismos vividos por vários personagens. Há a designer de mascotes Kawaii tímida, enfrentando a inveja das colegas de trabalho e a pressão para lançar um personagem novo; três indivíduos que forma um pacto para cometer suicídio coletivo; a jovem incapaz de suportar os traumas de infância; a idosa em situação de rua com saudades da neta e a mulher diagnosticada com transtorno de personalidade dissociativa de identidade, travando uma batalha contra a personalidade que assume o controle à noite para se prostituir.
Somam-se a eles o guarda de trânsito corrupto que rouba para pagar a dívida da máfia; o aluno popular que sofre bullying no colégio após rumores de que seria o delinquente do taco de beisebol e o jornalista freelancer pilantra precisando de uma notícia para pagar o plano hospitalar do pai de um homem que teve o carro atingido em um acidente de trânsito causado por ele.
Por fim, há o garoto lunático que finge ser o agressor; a mulher rejeitada por um grupo de fofocas que apenas amplifica os boatos sobre os ataques; a equipe de animação sufocada por prazos impossíveis e pelos assassinatos que a assombram — referência provável ao filme Talking Head, de Mamoru Oshii; e o detetive incapaz de se adaptar à nova sociedade, ao lado da esposa que carrega a culpa por seus problemas de saúde e infertilidade.
O anime é repleto de momentos estressantes, interpretativos e simbólicos que criticam e sinalizam indiretamente problemas na cultura japonesa e na sociedade contemporânea, onde ambos se utilizam de várias formas de escapismo para tratar seus males. Mesmo sofrendo de quebra de ritmo, a série é ótima para quem busca um programa adulto de terror e múltiplas interpretações para temas atuais envolvendo psicanálise, psicologia analítica, budismo e xintoísmo.
Onde assistir: Crunchyroll
João Oliveira Melo é natural de Recife. É aluno do sétimo período do Curso de Ciências Sociais (UFRPE).

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