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 por  Líria Porto__



por Conceição Rodrigues__






 por Juliana Meira___

 

Intervenção em foto de Araquém Alcântara









Juliana Meira
vive entre Canela/RS e Brasília/DF. Publicou, entre outros, água dura (Artes & Ecos, 2019) e na língua da manhã silêncio e sal (Modelo de Nuvem/Belas Letras, 2017), livro vencedor do Prêmio Minuano de Literatura na categoria Poesia no ano de 2018.

 

por Lisiane Forte__

 

Xianyu hao

 

por Bruno Ramalho__

 

 

Jr. Korpa

saudade é dor em rio,

do olho-d'água da gente

à foz no mar do vazio.

 

*

 

profícua inconclusa,

a palavra,

remota lembrança

do que foi um dia,

faz, parida

da incerteza absoluta,

nascer enxuta, enfim,

a poesia.

 

*

 

em meio aos cacos

de um mundo louco,

os fracos acham

que poesia é pouco.

 

*

 

coleciono

insônias de paz;

durmo pouco,

suspeito,

porque acordado

sonho mais.

 

*

 

serei eu, minha gente,

um tolo a cumprir os prazos,

se o próprio tempo, ultimamente,

tem sido fiel aos atrasos?

 

*

 

do ido assentado,

faz pouco sentido:

um doido acentuado

nem sempre é doído.




Bruno Ramalho de Carvalho 
(1978, Rio de Janeiro, RJ) escreve poemas, diverte-se tocando despretensiosamente o flugelhorn e se interessa por filosofia. Médico ginecologista em Brasília, DF, atua na área da reprodução humana assistida. É autor dos livros A penúltima coisa que se faz (edição do autor, 1999); Do amor deveras e das quimeras (e-book, Emooby, 2011); e livra-me, poesia (Scortecci, 2019), todos de poesia. Tem poemas publicados em revistas e portais de literatura, como Gueto, Mallarmargens, Ruído Manifesto e Mirada. Tem, ainda, mais de 70 artigos publicados em periódicos científicos. Lançou em 2021 
Uns amores bemóis (Editora Patuá).

 

 por Alexsandro Souto Maior__


Foto: OC. Gonzalez




Concerto sobre o pôr-do-sol

 

Pardais constroem a noite

Com o âmbar caído do céu

Esses pássaros cantam

Num coro dissonante

Uma melodia

De voos recolhidos

A preparar o solfejo do silêncio

 

O inverso disso é manhã.

 

(SOUTO MAIOR, Alexsandro . in A seiva, Recife: Editora Villa Lux, 2020.)

 


 


Seiva

 

Toda poesia é seiva

Ela circula nos vegetais

Alimenta o corpo anoitecido

Enobrece a rua musguenta

E alvorece os vãos deste mundo.

 

(SOUTO MAIOR, Alexsandro . in A seiva, Recife: Editora Villa Lux, 2020.)

 

 

 

 

Terceiro dia

 

E a palavra

Renasce com os seus penduricalhos

Um orvalho que vira verso

Uma teia escrita no ar por um poeta

Um pássaro gorjeando em concerto

 

Toda poesia é cheia de eternidade!

 

(SOUTO MAIOR, Alexsandro . in A seiva, Recife: Editora Villa Lux, 2020.)

 

 


Alexsandro Souto Maior - Escritor, ator, diretor de teatro, produtor cultural, ator e professor de literatura. Em 1995, começou a fazer teatro. Ele teve seus primeiros poemas publicados em 1997 nos jornais O pão e Diário do Nordeste, ambos do Ceará. No ano de 1999, atuou na peça O Público, de Federico Garcia L'orca, e Antônio Conselheiro, de Joaquim Cardoso. Em 1999, ao fundar com Eron Villar o Engenho de Teatro, iniciou a sua trajetória na dramaturgia com O terceiro dia. Foram dezenas de peças de teatro como Luzia no caminho das águas (2005) 3º lugar no Prêmio Funarte de Dramaturgia (assinou a direção e as músicas com Eron Villar); Jeremias e as Caraminholas (2011), ambas para criança e juventude; Mariano, irmão meu, Prêmio Cidade de Manaus, teatro adulto, 2011. No ano seguinte, estreou a peça Mariano, irmão meu, atuando ao lado de Tatto Medinni, sob direção de Eron Villar. O autor também escreveu Alcateia, 2016; O discurso do Rato, 2018/2019. Eu e os Avelós, Prêmio Cidade de Manaus, categoria Teatro Adulto, 2017; Tempo de Flor, Prêmio Ariano Suassuna 2018, categoria de teatro para criança e juventude. Em 2019, a peça foi montada pelo Grupo Pé de Vento de Arcoverde.  Além dos textos dramatúrgicos, ele é autor das obras literárias: Servis Amores Senis, conto, (2010); Árido, poesia, (2015); Inflamável, poesia, 2019. A Seiva, Menção Honrosa pelo Prêmio Edmir Domingues, categoria poesia, concedida pela Academia Pernambucana de Letras (2019).  O livro de contos, Inglórios (2021), é seu último trabalho.

 

 

 

 


 por Fátima Farias

 


Foto: Ian Kiragu




por João Gomes__



Jr Korpa

por Taciana Oliveira__ 



 por Rafael Silva___



Jota Camelo: Apoia SE


 por Toma Aí Um Poema__

 



 por Taciana Oliveira___




 por Heberton Baptistela__

 





 por Argentina Castro__





Foto Mohamed Nohassi

 por Taciana Oliveira__


Jr Korpa

 por Taciana Oliveira __



 

por Taciana Oliveira __


Oswaldo Goeldi


Santa Catarina

 

Um operário espirra algumas vezes, seu nariz coça,

Ele reluta, tenta conter o incômodo.

Na câmara fria uma parte do teto desaba,

O gelo trincado fere a cabeça do trabalhador.

Soam o alarme, a porta é aberta.

- Querem morrer? Por que não tentam trabalhar direito?

O jovem ferido é arrastado para fora, convulsiona.

A ambulância vem buscá-lo.

Ele retorna ao expediente após três dias de atestado médico;

Uma semana depois é chamado a comparecer no Departamento Pessoal.

Voltará mais cedo para casa.

Nas fazendas de soja o imigrante é útil,

Não há lirismo algum em suas frases curtas.

Pronúncia precária.

- manman, papa, frè...

- Zanmi! Zanmi!

O supervisor o manda calar a boca.

- fatige soti

- Dívida! DI VI DA, PA TRÃO! VO CÊ TEM DÍ VI DA! Entendeu?

Marrom é a cor da luta e do preconceito no Vale Europeu.

 

 

Alzheimer

 

O Senhor Geraldo segue seu caminho com uma boneca ao colo.

Seus passos são lentos e largos, parece intrigado e tenta pisar no centro de sua sombra.

Súbitos emocionais de sua infância se confundem com a realidade presente.

Como dói amanhecer órfão em sua velhice!

Num impulso, ele abre os braços;

Alícia cai de costas. Ele se apavora, uma vizinha se apressa para ajudá-lo.

Ele chora, precisa socorrer sua bebê, não permite que a vizinha se aproxime.

Está desesperado, implora o perdão de Alícia. 

- Sua mãe vai ficar furiosa, minha criança!

Ampara-a e retorna correndo para casa. A filha o encontra, estava a sua procura.

- Paizinho! O Senhor saiu sem avisar.

- Zema, veja! Ela caiu! Ela caiu do meu colo. Foi o velho no chão! Eu estava tentando acertar sua barriga, mas ele continuava, Zema! Ele continuava...

- Pai, eu sou Alícia, estou aqui, estou bem. Vem, paizinho!

- Não, Zema!  Ela está tão calada, não diz nada, e nem chorou ao cair... A nossa menina bateu a cabeça, bateu forte no cimento. Havia a sombra de um homem no chão, a nossa frente, era a imagem escura de um velho, e ele a levava abraçada contra seu peito. Eu quis salvá-la! Vamos! Vamos! Precisamos de um médico!

Alícia chora e o abraça:

- Ela está bem, não precisamos de um médico.

Não! Não, Zema! Não somos nós. É a menina, a menina precisa. É para ela...

Será crueldade da noite devolvê-lo com aparente sarcasmo aos seus dias de sol?

Todos esperamos o milagre de uma morte calma, sem sustos.

Sem sustos!

O Senhor Geraldo divaga nos fragmentos de sua essência.

Riso a riso, dor a dor, pedra a pedra...

Abandona-se sem limitações ao passado.

O esquecimento é um antídoto transgressor, atua muito além da névoa fria da decomposição física.

Que os nuncas de suas memórias jamais o abandonem!

Adeus às tristes verdades!

Bem-vindas as adoráveis ilusões!

 

 

Insciência

 

Floresce o lodaçal.

Quem de lá vem?

Duas idosas de mãos dadas.

Acompanho a lentidão de seus passos diante de meu portão.

Quem conduz quem?

Um carro de som anuncia: "Adorados Irmãos, é amanhã às 20 horas. Venha e receba a unção do livramento! Convide seus familiares para a Campanha da Redenção com o Pastor sergipano Malaquias de Cristo, na Igreja Amantes do Altíssimo".

"Malaquias do Diabo?". Penso. "Malaquias fdp!". Penso.

- Amém e aleluia! Grita a vizinha erguendo os braços e aplaudindo a vinda do impostor. "EEEEE... O Pastor Malaquias de Cristo vem! Glória ao Pai!".

Minha boca espuma.

Estou louca?

Sairei e seguirei em direção ao lago,

Quero ver sua película verde mais espessa do que na semana passada.

Desde que espalhei o boato da maldição do lago, ganhei-o da ignorância comunitária.

Está sempre mais, e mais, e mais belo. Há um ciclo perfeito em sua vitalidade.

Ninguém mais perturba a paz de suas criaturas, a vegetação o circunda autoritária.

Se cheirar adoece!

Se tocar adoece!

Se entrar morre!

Joaquim morreu por tentar se exibir: afundou, prendeu a respiração, morreu.

Que bom que Joaquim morreu! Estava matando seus filhos, sua esposa, antecipando mortes outras.

Tantas!

Mas, muito bem, Seu Joaquim! O senhor morreu.

E não é que choraram sua morte? A própria Edra foi capaz de dizer durante o velório: "Ele era daquele jeito rude, mas era bondoso".

Mentirosa!

Sigo!

Estou cada vez mais perto.

Choro o Deuzebu pisando em minha sombra abstrata.

Sou um leve vulto entre folhas, ramagens, orquídeas, bromélias...

Ali está! A loucura jaz em sua superfície e profundeza.

A loucura da morte que sustém a vida

Beijo levemente seu veludo verde.

Meu coração pulsa.

Um dia morreremos.

Sobreviverá a selvageria virtual? A intolerância ambiciosa dos imbecis?

 





Laila Zanov
: natural de Itajaí, SC, é poeta, cronista, contista, roteirista; senhora de muitas fobias e de algumas ousadias. A loucura, o preconceito, a solidão, a morte, a noite são temas recorrentes em sua arte poética. Zanov escreve desde a adolescência, mas suas primeiras publicações datam de julho deste ano. Referência da imagem:   Kees Van Dongen - The Corn Poppy, c. 1919 







 

por Taciana Oliveira__





 

por Taciana Oliveira___

 

 por Taciana Oliveira__


Fotografia de IssaK Alexandre KaRslian





 Afã

 

Olhou para o Sol

mas viu a noite dos dias

 

Olhou para a Lua

mas viu o eclipse das noites

 

O que lhe atravessava

chegava lhe quadriculado

desde a pequena infância

 

Quando se descobria ao lado

do marido era puro afã

por liberdade tomada à força

sob tiros opressores do talibã

 

O sol a lua os tiros ela-objeto

Era o que ela era- Era após Era

uma menina uma mulher afegã

 

Assim acordava

Assim dormia

Coberta por telas

em seu jazigo

 

Na esperança

de um outro amanhã

de aquarelas para ela

mãe irmã amigas e

seus muitos filhos.    



*poesia selecionada para a coletânea “Por elas”. Do Mulherio das Letras para as mulheres afegãs 2021


 

Via Láctea

 

Pisaram em nosso jardim

Queimaram

Derrubaram

A centenária araucária

A jojoba a aroeira o jasmim

 

O desrespeito com  as gentes

A fome volta dando lugar ao pasto- capim

Aqui.  Ali. Por imensos canteiros brasis.

 

Povos ancestrais lutam contra o fogo

Pré posto ao som do choroso sabiá laranjeira

 

Pisaram a mata arrancaram flores

Sob a força das armas de festim

 

A procura é por ouro o porco dinheiro

Enquanto o aroma do sândalo e da cidreira

Cedem sua vez dando lugar ao chumbo e ao carbono.

 

O prato principal sobre a mesa de madeira

É  a morte ceifadora ao céu de Marte na via

Crucis orquestrada pelo capital: a.p.o.r.t.e.

 

Só a via Láctea vê que a Terra  incandescera...

 


*selecionado pelo concurso Vivara novos poetas, 2020






Sílvia Schmidt nasceu em São Paulo mas morou no Nordeste e Sul do Brasil. Desde que deixou Florianópolis em 2000 transformou-se em uma verdadeira nômade digital, explorando novas cidades, países e culturas, sempre em busca de liberdade, independência e inspiração. É graduada em Letras- Português Inglês e respectivas Literaturas/Fatea. Especialista em Comunicação e Semiótica na PUC/SP, Sociologia e Política/ USP, e Ontopsicologia em SC. Ministrou aulas de Literatura Brasileira por quase 20 anos. Obras publicadas: Duty Free ( romance I (2000), Made in Brasil : romance II ( 2019), Circunstâncias-uma polifonia do pensar: poesia(2018), Baladas para ou um caderno de passagens do mal: poesia( 2017), Palavras sem Fronteiras: coletânea 2017/8, Encontros: uma cartografia do tempo; contos (2012).






Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.