Por Adriane Garcia____

Alguns livros, para além de muito bons, são importantes. É o caso de Um exu em Nova York, livro de contos de Cidinha da Silva. O livro é composto por 19 contos. Já na abertura, em I have shoes for you, Cidinha nos dá um dos elementos que irão perpassar muitas das histórias: a leitura dos sinais, o exercício da intuição, a ligação espiritual de todas as coisas.

Esse enfoque, totalmente em consonância com a cosmovisão africana, que é holística e compreende tanto o sagrado quanto o profano no mesmo espaço, será um motor para as narrativas. No conto em questão, a protagonista precisou se esforçar um pouco mais para compreender por que razão uma mulher pobre e desconhecida, que lhe ganhou uma esmola, estava oferecendo a ela sapatos. “Exu matou um pássaro ontem com a pedra que jogou hoje” marca o entendimento profundo da ação: proteção e caminho.

Imagens inusitadas, prenhes de elementos mágicos, saltam dos contos de Cidinha da Silva. Em O homem da meia-noite, é delicioso perceber Exu no homem que descansava a perna estropiada numa grade. Rua erma, noite, há todo um clima para o medo e o mistério. A mulher pede proteção: Laroiê! E uma surpresa se revelará para a leitora, o leitor. Em Metal-metal, os princípios da cura africanos se encontram com a medicina chinesa: não à toa, essas curas pressupõem o ser como força, como encadeamento de energias vitais que podem ficar livres ou obstruídas. É saber ancestral africano a manipulação das energias, pelos elementos naturais (animais, minerais, vegetais), para alcançar o bem-estar da comunidade. Exu, como princípio de movimento que é, Rei do Corpo, também circula as vias internas.

Se a sabedoria herdeira do culto aos orixás e divindades africanas (iorubá e angola-congo) encontra personagens e cenários neste Um exu em Nova York, em tudo a autora trata da diáspora e dos seus efeitos. A história das pessoas africanas no Brasil é marcada pela violência desde sempre. Sequestrados de seu lugar, sem direito sequer ao próprio nome, as africanas, os africanos e seus descendentes tiveram que reinventar um mundo dentro de um sistema opressor e de hegemonia branco-macho-hetero-católica. Essa reinvenção – calcada na cultura, saberes que traziam, na ligação com a ancestralidade, nas características comunitárias de viver com o diverso – tornou-se um caso exemplar de resistência de um povo. Em Kotinha, a autora detalha a invasão de um templo de candomblé por evangélicos. Do lado dos criminosos, há um deus capitalista da teologia da prosperidade; do lado dos terreiros, cuja existência, por si só, já é resistência, os mundos e os tempos “Sasa” e “Zamani” se juntam.

A cosmovisão africana destaca o passado e o presente. Esses dois tempos se intercalam. “Zamani” é o tempo mítico, o tempo dos ancestrais. Os tempos se comunicam de forma não linear. A morte, por exemplo, na cultura iorubá, é apenas retorno da matéria ao seu lugar primordial. No conto Jangada é pau que boia, a matéria do homem se entrega às águas. No conto Sábado, a narradora encontra um homem que, à beira de um lago, oferta flores a Kissimbi (do panteão angola-congo) pelo nascimento do filho, mas guarda uma tristeza em relação à morte, apesar de compreendê-la.

Não tendo a atenção centrada no futuro, a cosmovisão africana não abriga escatologias como o céu ou o inferno cristãos; nem mesmo o conceito de culpa ou pecado. Em filosofias cuja práxis se dá no bem-estar da comunidade, a atenção se foca sobre o ensinamento dos anciãos e ancestrais, na responsabilidade do indivíduo diante do grupo. Os ritos fúnebres selam a compreensão e aumentam a força do “Zamani”, pois transfere a força vital de um tempo (presente) para outro (passado), assim como os nascimentos aumentam a força do “Sasa”. É uma filosofia do equilíbrio. Uma filosofia ecológica.

O passado não é estanque, é um lugar de ensinamento e memória que conversa com o presente. O ancião e o ancestral possuem lugar de destaque. No conto O velho e a moça, a jovem pergunta ao velho (Ayrá e Agodô), que lacrimeja todo o tempo, pois traz nos olhos “a memória das águas”, se deve contar o vivido. Ao ouvir a resposta “conte o que fizeste dele, minha filha”, quer saber se bastaria. O velho então, Xangô, responde: “Se basta não sei. Aviva”.

Avivar, tornar mais vivo, encher de ânimo, de alma, avigorar-se. A palavra em Cidinha da Silva surge também como grito sobre essa plenitude negada pelo racismo e pela necropolítica. Em Maria Isabel, Cidinha da Silva expõe uma das duras realidades do percurso de uma pessoa negra no Brasil: a vida curta, quase sempre interrompida/ceifada pela violência social e racista. A personagem narradora está morta e, fato raro, morreu de morte natural. No mesmo conto, a falácia da meritocracia que, se mantém apenas os brancos nos cargos de poder, é por não haver oportunidades minimamente viáveis para os negros.

Em Válvulas, há espaço para a desilusão amorosa e o assédio do pastor da igreja. A sorte foi existir Iansã e seus ventos. As personagens de Cidinha da Silva sabem ler objetos que caem do nada e se quebram. Também uma bonita história de amor em No balanço do teu mar. Em Lua cheia, filhos crescidos, casal mais velho, uma das lições do machismo: hora de o homem trocar de mulher. Nesse conto, de condução de ritmo excelente, mais uma vez o elemento mágico assume importante papel, quando a mulher preterida vê o marido fazendo para a rival coisas que jamais fez para ela. No final, temos a sensação de ter ouvido uma daquelas histórias de justiça – ou vingança – que as avós do mundo poderiam nos contar.

Marina traz uma homenagem à escritora Natália Borges Polesso. É um conto sobre o desejo de ser amada e sobre o acaso, sobre a fragilidade da vida humana. Sonho e realidade se misturam, ficando para o leitor a condução do final. Em Farrina, um pouco do retrato da diáspora como experiência comum das pessoas negras no mundo inteiro. O conto se passa em Nova York e mostra o reconhecimento dos negros entre si. Tanto lá, quanto cá, as marcas no corpo e o descaso com as políticas públicas para a população afrodescendente.

É interessante notar no conto Mameto, a ausência do preconceito contra o diferente, no caso, o envolvimento amoroso da zeladora da Casa com uma das frequentadoras (o dilema que aparece na personagem é ético, é ausente a questão do pecado ligada à orientação sexual). A comunidade aceita a vida conjugal das duas mulheres na medida em que não há mal algum para a comunidade, ao contrário, as duas mulheres vivem harmonicamente. Os orixás aparecem não para julgar, mas para celebrar o novo encontro e a alegria de uma existência que agora se tornara mais plena e prazerosa. É muito bonito o conto. E é sempre trazendo o movimento que Exu aparece.

O manda-chuva é um conto impactante. Poucas vezes o assunto do reprodutor e da reprodutora sexuais são tratados na literatura brasileira. Assunto da máxima importância, o silenciamento sobre ele também esconde os fundamentos da cultura do estupro no país. O manda-chuva conta a história de um ser humano escravizado obrigado a fazer filhos em meninas que não queriam a relação sexual, muito menos poderiam ficar com seus filhos, feitos para a venda. “Chegou a fazer 60 filhos num ano, entre as negras da fazenda e outras da região cujos donos o alugavam”. A história é de uma violência máxima e absurda, que Cidinha da Silva conduz de forma primorosa, deixando claro que não se viveria tamanhos horrores sem resistir/reagir de várias formas.

No conto Akiro Oba Ye!, jovens moradores da Vila das Alterosas convivem com a especulação imobiliária que os expulsa e o tráfico que perturba suas vidas. De maciça maioria trabalhadora, a favela convive com o grau máximo do descaso político da República. Rosa de Matamba, Mary de Anya, Robério de Ogunjá, Áurea de Obasi, Eduardo Ajagunã e Emerson Xoroquê ao longo do conto serão transformados, pela linguagem, nas divindades que representam. O conto é fascinante também pela forma.

Em Dona Zezé, conto delicioso, aprenderemos que, com perspicácia, é possível enganar a Deus; assim como aprenderemos em Tambor mineiro que há quatro batidas para o tambor e que ai daquele que toca o objeto sagrado sem permissão.

Cidinha da Silva encerra seu Um exu em Nova York com o Sá Rainha. A anciã líder que se paramenta pela última vez para morrer. Sua dor, resistência e sua despedida emocionantes não poderiam fechar melhor um livro que grita a dignidade das mulheres e homens que, por sua existência, quando tudo lhes é contrário, são o próprio milagre deste país.

Exu nos traz à encruzilhada e continua nos perguntando qual caminho vamos seguir.

Todos limpos, sem furos nas roupas, sem manchas de sangue. Surpresos ao reencontrá-la ali no lugar onde vagam. Sá Rainha chora e agradece à Senhora do Rosário. Passa a mão pelo rosto de cada um dos filhos, beija-os. Fala da saudade. O povo vai se juntando. Cerca a Rainha, os meninos. Tá caindo fulô/ tá caindo fulô!/ Lá no céu/ cá na terra/ oi lerê, tá caindo fulô!.
Sá Rainha sai do abraço dos filhos. Afasta-os, carinhosa. Abaixa-se e risca o chão com um caco de telha. Pontos que ninguém ali sabe interpretar. Coloca o bastão no chão. Chora baixinho ao tirar a coroa, deposita-a na terra.
Os filhos vão desaparecendo. O povo também. Ela fica sozinha com suas insígnias de realeza depostas. Aos poucos, Sá Rainha também some no tempo. Restam o bastão e a coroa à espera de alguém.
Êh Tempo! Êh Tempo! Zaratempô! Êh Tempo! Êh Tempo! Zaratempô! Êh Tempo! Êh Tempo! Zaratempô!” (p. 73)

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Um exu em Nova York

Cidinha da Silva

Contos

Pallas, 2019



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Cidinha da Silva, mineira de Belo Horizonte. Escreveu Racismo no Brasil e afetos correlatos (2013) e Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil (2014), entre outros. Autora das peças teatrais Engravidei, pari cavalos e aprendi a voar sem asas, encenada pelo grupo "Os Crespos", em 2013, e Os coloridos, em 2015. É editora da Fanpage cidinhadasilvaescritora e colunista dos portais Forum, Geledés e Diário do Centro do Mundo


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Adriane Garcia nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais. Em 2006, no curso de pós-graduação em Arte-Educação, na UEMG, interessou-se por estudar sobre a desconstrução do Arraial do Curral del Rei e a construção da primeira cidade planejada da República, com destaque para as questões de esquecimento e memória.Tendo vivido sempre na periferia (norte) da capital mineira, o olhar voltado para as origens e a exclusão social acompanha sua poesia. Publicou os livros Fábulas para adulto perder o sono (vencedor do Prêmio Paraná de Literatura, 2013, ed. Biblioteca do Paraná), O nome do mundo (ed. Armazém da Cultura, 2014), Só, com peixes (Ed. Confraria do Vento, 2015), Garrafas ao mar (ed. Penalux, 2018).


por Taciana Oliveira__


O Mirada comemora seu primeiro aniversário entrevistando Christiane Angelotti, fundadora do portal Para Educar, editora e curadora da Revista Gueto. Christiane acredita na leitura como um um instrumento fortalecedor da inclusão social e afirma: Acima de tudo, ler é um ato político. É um despertar. 



por Taciana Oliveira__

No aniversário de um ano de existência da plataforma Mirada, convidamos a poeta mineira Adriane Garcia para um bate-papo virtual. O resultado da entrevista é uma análise consciente do papel do artista no momento atual que enfrentamos no país. Adriane não se furta em dissecar feridas sociais e nos chamar para uma reflexão: Devemos enfrentar a estupidez enquanto vivermos, é um compromisso com nossa humanidade.




Por Tadeu Sarmento__

Fotografia: Igor Cerqueira

por Taciana Oliveira__

Dando prosseguimento a série com o trabalhos do fotojornalista Eduardo Matysiak, hoje trazemos um conjunto de registros que expressam o atual contexto político do país. O fotógrafo americano Lewis Hine afirmava: Se eu pudesse contar a história em palavras, não precisaria carregar uma câmera. Estejam então convidados a "visitar" a nossa história recente pelos olhos de Eduardo.

Vice-presidente General Mourão
por Taciana Oliveira__



por Rebeca Gadelha__
Artista: Asteroid

Tenho (re)visitado essas memórias até se tornaram lugar-comum, revisito-as com uma xícara de chá, como se me preparasse para algo: poderia ser o começo de um novo dia, o fim de uma fase, o meio de qualquer coisa que já passou da hora de terminar. Quando criança, costumava dizer “meu pai caiu no mar e um navio passou por cima” era a explicação infantil para justificar o descaso da ausência. Alguns anos depois, mamãe me disse, com uma voz macia, que meu pai vinha me visitar — e então meu mundo virou do avesso — então ele não havia caído no mar, se perdido entre o infinito de água acima e abaixo, mas estava lá em algum lugar e finalmente este lugar seria perto de mim. “Ele quer te conhecer” e foi assim que se começou o processo de idas e vindas, sem permanências. Conto nos dedos suas visitas e suas promessas — quero ter contato com você, dessa vez vai ser diferente — já na terceira vez que mamãe anunciou com a mesma voz macia a visita deste ser distante, eu disse “NÃO” e somente vovó me convenceu do contrário, ao que parece, avós tem um certo jeito para convencer pessoas. Nada foi diferente, tudo ficou no lugar, exceto a criança em mim, que deslocava-se cada vez mais para algum lugar estranho, as somas de decepção minando aquela vontade de ser completa, aquela nostalgia pelo o que não existia.

Veio-se então a vez que seria a última — e dentro de mim acredito que já sabia — porque agora seria diferente, porque eu já tinha 20 anos e éramos adultos, poderíamos falar sinceramente um com o outro, abrir o jogo sobre questões do passado, lavar a roupa suja que se amontoara nos quartos escuros. Não houve sinceridade que bastasse, nem todo a roupa suja foi lavada, talvez fosse preciso todas as águas do mundo para isso, talvez bastasse um pouco mais de vontade. O fato é que sabia que ele não ficaria, não importava o que fosse dito e que, sabendo disso, fosse melhor que fosse embora para sempre e sumisse de uma vez. Continuaríamos como dois estranhos: ele como um nome na certidão de nascimento e eu como um nome no imposto de renda. Uma relação de ausências convenientes, principalmente para ele — que ainda recebe descontos aqui e ali do leão por me declarar como dependente. Alguns trocados por mês para poupar o que o dinheiro não compra: tempo.

Este texto é parte da série Reminiscências, que narra a tentativa de uma garota de recuperar parte da história de sua família a fim de compreender a si mesma. Clique aqui para ler o prólogo.



Rebeca Gadelha nasceu no Rio em agosto de 1992, cresceu em Fortaleza, na companhia dos avós. Geógrafa sem senso de direção, artista digital, é apaixonada por animes, mangás, games e chá gelado. Tem medo de avião e a única coisa que consegue odiar de verdade é fígado. Foi responsável pela diagramação, ilustrações e concepção visual em Balbúrdia, participa da coletânea Paginário, publicada pela Editora Aliás. Atualmente escreve para as revistas do Medium Ensaios sobre a Loucura e Fale com Elas sob o pseudônimo de Jade


por Recife-Lo Fi e Taciana Oliveira__



Artista cultuado entre bandas de rock alternativo a partir da segunda metade dos anos 1980, e em circuitos de música independente amantes da produção DIY (do-it-yourself, ou faça-você-mesmo), Daniel Johnston morreu em 10 de setembro deste ano, vítima de um fulminante ataque cardíaco. Deixou um grande legado. Johnston foi um prolífico músico praticante da bricolagem sonora e pioneiro das gravações artesanais, ou lo-fi, gravando principalmente em cassetes e utilizando recursos caseiros de produção. Suas músicas e obras de arte – como seus vários desenhos e pinturas – influenciaram diversos artistas como Mike Watt, Sonic Youth, Tom Waits e muitos outros. Um dos seus fãs mais notórios era Kurt Cobain, falecido líder do Nirvana, que ajudou a divulgar seu trabalho ao usar uma camiseta com a capa do disco Hi, how are you, de 1983.
O cantor e compositor folk deixou para trás um conjunto incomparável de produções, começando com Songs Of Pain de 1981 e terminando com Beam Me Up!. Lee Ranaldo e Steve Shelley, do Sonic Youth, também contribuíram para um dos álbuns de Johnston, intitulado 1990, lançado em 1988. Johnston lutou com problemas de saúde física e mental durante a maior parte de sua vida e foi diagnosticado com esquizofrenia e transtorno bipolar. Problemas abordados no aclamado documentário de 2005, The Devil and Daniel Johnston. O herói do folk é mais lembrado por músicas como Life in Vain, True Love Will Find You the End e Walking the Cow.


Supervão, Zeca Viana e Gentrificators
 Créditos: Ana Bassasi e Kamila Ataíde

E justamente no sentido de homenagear e relembrar as músicas e o legado do artista, foi organizada por Marcelo Conter (Gentrificators) e Mario Arruda (Supervão), a coletânea nacional “Canções ao Inconsciente de Daniel Johnston” reunindo 17 faixas, entre versões, covers e músicas inspiradas. "Daniel Johnston faleceu em setembro de 2019, vítima de ataque cardíaco. Mas seu coração segue pulsando dentro de nós. É por isso que organizamos uma singela homenagem: uma coletânea de gravações instantâneas em tributo ao grande compositor, sem fins lucrativos", comenta Marcelo Conter.



A coletânea conta com Supervão, Zeca Viana, Gentrificators, Frankestein Love, Estêvão Vieira, Walter Willy, Medialunas, Cine Baltimore, Moldragon, Solomon Death, Juliano Rodrigues, Gue Martini, Gabriel Islaz, Agreste e conta com uma arte assinada por Eric Pedott. “Da minha parte, coube incentivar o Marcelo, conversar um pouco sobre o conceito e o nome da coletânea... E pude também participar musicalmente com duas músicas: uma com a Supervão, na qual sampliei “Hi, how are you” e inserimos em uma estética lo-fi hip hop; e outra sozinho em uma gravação espontânea que fiz em 2 horas livres em um dia de coração apertado...”, explica Mario Arruda.




O Mirada conversou pelo WhatsApp com Zeca Viana sobre a participação na coletânea:
1 - Por que Life in Vain?
Life in Vain foi a segunda música que ouvi do Daniel Johnston (a primeira foi Love Wheel). Isso em 1998, através de um CD-R pirata do álbum FUN (1994). Aliás, FUN é o primeiro disco lançado por uma gravadora; então meu primeiro contato com a obra dele não foi diretamente com as gravações caseiras que só consegui acesso um ano depois. Depois vi pela primeira vez o videoclipe de Life in Vain no programa Lado B da MTV apresentado por Fábio Massari. No final dos anos 90 ainda era muito difícil baixar músicas pela internet, então esse CD-R me salvou. Sempre adorei a melodia: pop, mas ainda bastante folk e muito simples. Escolhi essa faixa por conta da letra que fala sobre não passar a vida em vão, sobre manter a esperança. É uma letra bastante crítica também sobre costumes, a relação com a dependência da TV (hoje ironicamente existe essa mesma dependência das redes sociais) e como muitas vezes parecemos mortos-vivos no automático fazendo coisas sem refletir".

2 - Quem participa da produção da faixa ?
Gravei a faixa sozinho em casa. Quando Marcelo Conter, organizador da coletânea, entrou em contato, essa música foi a primeiro que me veio à cabeça. Então, gravei a música aqui no meu homestudio. Primeiro gravei a bateria e o baixo como base, e aproveitei para testar um amplificador de guitarra handmade que comprei recentemente e tentei deixar ela bastante direta e simples, sem mudar muito os arranjos originais, mas dando uma roupagem mais garage rock. Passei uns dois dias mixando para dar essa cara de ao vivo, com alguma sujeira e características de garagem mesmo, com uma sala pequena e como se todos os instrumentos tivessem tocando juntos. Depois fiz a master e enviei para Marcelo. Gostei muito de fazer essa versão e fiquei com vontade de fazer outras de outras bandas e artistas que me influenciaram de alguma forma.


Daniel Johnston
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Taciana Oliveira é mãe de JP, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.


Divulgação por Fredy Antoniazzi__

A Coleção BH. A cidade de cada um comemora 15 anos, recontando a história da capital com o livro Arraial do Curral del Rei






A poeira das obras que ergueram a nova capital de Minas Gerais no século XIX ainda encobre a história sofrida do povoado que lhe deu origem. Este é o tema de “Arraial do Curral del Rei”, da escritora Adriane Garcia, 34° título da coleção sobre Belo Horizonte criada em 2004, pela Conceito Editorial. Escrito em versos, uma inovação entre as narrativas da série, o livro de intensa força poética é, segundo a autora “uma espécie de romanceiro, que dá voz aos habitantes que a história não registrou, apenas expulsou”. O evento será no dia 9 de novembro, a partir das 10h30 da manhã, nos jardins internos do Palácio das Artes.
Na ocasião, os editores José Eduardo Gonçalves e Silvia Rubião vão reunir autores, personalidades e leitores que ajudaram a dar vida à coleção ao longo desses 15 anos de sucesso. A escolha do local é também bastante representativa. Além de ser o grande templo da Cultura mineira, o Palácio das Artes é integrado ao Parque Municipal, patrimônio ambiental criado no projeto original da cidade, que já foi tema da série. No mesmo evento, serão lançadas também as novas edições dos livros Cine Pathé e Pampulha, revistas pelos autores Celina Albano e Flávio Carsalade, respectivamente.

Flávio Carsalade e Celina Albano


Desde setembro de 2004, a coleção BH. A cidade de cada um vem construindo a memória afetiva da cidade por meio de textos literários escritos por pessoas de diversas gerações, escolhidas por sua grande identificação com os temas trabalhados. Tendo como ponto de partida suas vivências pessoais, eles falam sobre bairros, lugares, fatos e personagens diversos, sem o compromisso de se prenderem à historia oficial, gerando grande empatia entre os moradores e admiradores da capital mineira. O livro Arraial do Curral del Rei tem o patrocínio do Hospital Mater Dei, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, e conta com o apoio cultural da Rede Globo Minas.

Fazem parte da coleção os seguintes 33 títulos: Lagoinha, de Wander Piroli, Mercado Central, de Fernando Brant, Estádio Independência, de Jairo Anatólio Lima, Rua da Bahia, de José Bento Teixeira de Salles, Fafich, de Clara Arreguy, Parque Municipal, de Ronaldo Guimarães, Praça Sete, de Angelo Oswaldo de Araújo Santos, Livraria Amadeu, de João Antonio de Paula, Sagrada Família, de Manoel Lobato, Pampulha, de Flávio Carsalade; Cine Pathé, de Celina Albano; Caiçara, de Jorge Fernando dos Santos; Carmo, de Alberto Villas e Lourdes, de Lucia Helena Monteiro Machado; Colégio Sacré Coeur de Marie, de Marilene Guzella Martins Lemos; Carlos Prates, de Humberto Pereira; Morro do Papagaio, de Márcia Cruz; Maletta, de Paulinho Assunção, Montanhez, de Márcio Rubens Prado; Santa Tereza, de Libério Neves; Serra, de Nereide Beirão; Padre Eustáquio, de Jeferson de Andrade; Centro, de Antonio Barreto; Mineirão, de Tião Martins; Colégio Estadual, de Renato Moraes; Santo Antônio, de Eliane Marta Teixeira Lopes; Viaduto Santa Tereza, de João Perdigão; Funcionários, de Maria do Carmo Brandão, Colégio Municipal, de José Alberto Barreto, Renascença, de Ana Elisa Ribeiro; Anchieta, de José Márcio Vianna e Campus da UFMG, de Heloísa Murgel Starling.

Para saber mais: www.bhdecadaum.com.br

A autora

Fotografia: Ricardo Laf
Adriane Garcia nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais. Em 2006, no curso de pós-graduação em Arte-Educação, na UEMG, interessou-se por estudar sobre a desconstrução do Arraial do Curral del Rei e a construção da primeira cidade planejada da República, com destaque para as questões de esquecimento e memória.Tendo vivido sempre na periferia (norte) da capital mineira, o olhar voltado para as origens e a exclusão social acompanha sua poesia. Publicou os livros Fábulas para adulto perder o sono (vencedor do Prêmio Paraná de Literatura, 2013, ed. Biblioteca do Paraná), O nome do mundo (ed. Armazém da Cultura, 2014), Só, com peixes (ed. Confraria do Vento, 2015), Garrafas ao mar (ed. Penalux, 2018).


Um poema

IX

É por milagre que as serras minam
Seus pés molhados começam riachos
Da pedra chorosa – fixa mudez
A esperança de voz das águas

O mundo começa no Acaba Mundo
Minha Mesopotâmia sem história
Sem Tigre, sem Eufrates, cerâmica
Eternamente argila das encostas

As suas primeiras casas, rústicas cafuas
Desenho de criança, sapê e pindoba
A lamparina acesa – quem esses seus mortos?
Nada sei do bem e do mal que lhes habitou

Sei que o fio escorre – o vale
Sei da capela para gente de passagem
Sei que se desejava boa viagem
Aos que partiam e não voltavam mais.


*Poema incluído em  Arraial do Curral del Rei, de Adriane Garcia


Serviço

Evento pelos 15 anos da Coleção BH. A cidade de cada um e lançamento do título Arraial do Curral del Rei, de Adriane Garcia
Local: Jardins internos do Palácio das Artes, av. Afonso Pena, 1537 – Parque Municipal
Data: Sábado, 9 de novembro de 2019
Horário: de 10h30 as 13h30
Preço: R$25,00 Entrada franca


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