Hilda Hilst não precisa de maquiagem | Kelly Leones

 por Kelly Leones__




Faz 17 anos que a Hilda Hilst morreu. Bora aproveitar a data para falar um pouco sobre o primeiro livro que li em 2021 e mais umas polemicazinhas (des)necessárias. Gostei muito de “Eu e não Outra”, biografia de Laura Folgueira e Luisa Destri. O livro não é um estudo sobre a obra da Hilda, mas um passeio pela personalidade e vida da escritora. Vocês devem imaginar a infinidade de episódios fascinantes, né?

Por exemplo: Quando ela teve um caso com o ator Dean Martin, mas queria mesmo o Marlon Brando. Então, pediu ao próprio namorado, Martin, apresentá-la ao pretendente. Não contente, descobriu onde Brando estava hospedado e bateu à porta do sujeito - toda vestida de preto e coroa de brilhantes. Ele abriu a porta, ela gelou e não teve coragem de dizer que queria dormir com ele. Depois de alguma enrolação, ele dá o fora nela dizendo: “você é uma criança mimada”.


Mas e a polêmica, cara pálida? Bom, a polêmica. Antes, que fique claro: eu sou apaixonada por Hilda. Conheci e comecei a ler suas obras aos 15 anos. Ou seja, são 27 anos de amor por essa mulher.


O fato é que, desde a popularização de Hilda, muito pela Flip – e que bom! –, tenho acompanhado um certo “endeusamento” em torno dela – e não de forma positiva. Explico: há uma ideia de Hilda (só) feminista (?), libertina, libertária.

Também isso. Mas, Hilda era também uma mulher absolutamente infame em vários aspectos. Feminista? Nem tanto. Abundam entrevistas com declarações “machistas”. Ter seu próprio dinheiro? Na-não. Herdeira, achava que todo mundo devia algo a ela, esmolava aos amigos, pedia/recebia presentes de amantes, gastava o que não tinha e não podia, neurótica/religiosa/supersticiosa, grossa com muita gente, teimosa, beberrona. Mas era também generosa, inteligente, linda e uma das melhores escritoras que esse Brasil já teve.

O que quero dizer é, não precisamos “maquiar” a personalidade de Hilda – como tenho visto com frequência. Ela não precisa. Porque era deliciosa AND canalha ao mesmo tempo. Talvez, justamente por isso, continuo tão apaixonada por ela.




Kelly Leones
é jornalista, apaixonada por livros, gatos e São Paulo.