Dona Dora – A mística do Boi | Adalberto Oliveira

 

por Taciana Oliveira__




O gênero documentário expressa em sua narrativa não apenas estilos diversos para se contar histórias, mas como essas histórias impactam em seus contextos sociais. É na cultura popular, que se se define ou se constrói a identidade de um povo. Neste núcleo de pertencimento nos encontramos com o percurso de criação do documentário Dona Dora – A mística do Boi.


Natural de Timbaúba, Zona da Mata de Pernambuco, Dora é apresentada em um roteiro que reflete para de sua condição como fundadora do Boi Rubro Negro (1965), mas também sua trajetória no carnaval da cidade Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife.


Originalmente o Bumba-meu-boi é uma manifestação de teatro hierático das festas de Natal e Reis. Com o passar dos anos o folguedo foi incorporado as brincadeiras de carnaval, sendo o Boi Rubro Negro, desde 1967, parte predominante do universo das expressões culturais da periferia de Camaragibe.


A organização da Periférica 3ª edição - Mostra de Cinema de Camaragibe, que homenageou este ano a personagem central do documentário, declara em seu material de divulgação:


Dona Dora é a propulsora desse movimento que alimenta uma cadeia produtiva de ideias, danças, coreografias, confecção de adereços, indumentárias, músicas e toadas, fortalecendo a identidade local, bem como sua economia solidária. Esta maneira de se aprontar, a julgar “intuitiva”, representa o modelo de organização social complexo que encadeia uma série de referências sociais latino-americanas de pertencimento étnico que nos faz “sulear” o pensamento.


Dirigido, fotografado e montado por Adalberto Oliveira, a narrativa do filme é apoiada por depoimentos de amigos e familiares que participam do cortejo carnavalesco, que neste ano foi interrompido por conta da pandemia do coronavírus.  Durante os seus quase 13 minutos de duração o documentário desenha uma linguagem visual delicada, impondo um ritmo correto de montagem onde se valoriza a fotografia e seu enquadramento etnográfico.


Dona Dora – A mística do Boi não se preocupa apenas em resgatar eventos cronológicos de uma ancestralidade que responde por parte do cenário cultural de uma região.  O documentário, nas suas entrelinhas narrativas, reverbera uma resistência comunitária, um pulsar contínuo de emoções que eclodem em compassos, danças e toadas. Adalberto e sua equipe celebram em sua composição fílmica uma catarse espiritual e coletiva, um poema com cores e nomes que traduzem a resistência dos movimentos sociais periféricos.

Então, que soe o apito! Abram os caminhos para o Boi Rubro Negro de Dona Dora nos encantar!


Ficha Técnica

Direção, Fotografia, Montagem, Edição e Roteiro: Adalberto de Oliveira

Roteiro: Adalberto de Oliveira e Ângelo Fábio

Asssitência de Direção: Ângelo Fábio

Produção Executiva: Danielle Valetim

Assistência de Produção: Matheus Oliveira

Imagens de Arquivo: Josivan Rodrigues


* Para assistir  os filmes da Periférica 3ª edição - Mostra de Cinema de Camaragibe: Clica aqui







Adalberto Oliveira - Graduado em Cinema e Pós-graduado em Técnicas de Áudio, atua nas áreas de artes visuais e audiovisual (direção, desenho sonoro, fotografia e montagem) desde 2009. Tem realizado vários trabalhos premiados, entre eles “Cerol” (PE, 2010), “Case” (PE, 2011), “Dique” (PE, 2012), este último, premiado nacionalmente, e “Setembros” (PE, 2013). Seus trabalhos mais recentes são a fotografia, montagem e desenho de som no documentário experimental “Encantada” (PE, 2013), diretor de fotografia no curta “Tarja Preta” (PE, 2014), o documentário “Avenida Presidente Kennedy” (PE, 2014) onde assina direção, roteiro, fotografia e montagem, design de som na ficção “Os filmes que moram em mim” (PE, 2015), direção, fotografia, montagem e design de som no documentário “Milagres”, vencedor do Prêmio Naíde Teodósio de Estudos de Gênero – ano VI, e seu mais recente projeto o curta metragem “Freqüências” está em fase de distribuição.








Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem