por Coletiva baRRósas e Argentina Castro__
A
“baRRósas” nasceu da inquietação que a segunda edição do “Slam Violeta”, batalha de poesia do Conjunto Violeta, localizado ao
lado do bairro Barroso (ambos em Fortaleza – CE); desencadeou. Neste slam, até aquele momento, não existia
participação feminina, embora este fosse o seu maior público. Assim, nós,
moradoras do bairro Barroso, que conhecíamos diversas mulheres que escreviam,
mas nunca se sentiam a vontade para participar de eventos como este (o que
também acontecia com a gente), tivemos a ideia de criar um sarau no bairro
Barroso realizado apenas por e para mulheres. No entanto, a pandemia (Covid-19)
explodiu e a ideia de realizar o sarau teve que ficar em segundo plano,
surgindo, então, a proposta temporária de criar uma página na plataforma Instagram, a qual demos o nome de
“baRRósas”, um trocadilho que representa Barroso no feminino; em que pudéssemos
postar textos autorais, vídeos, entre outras possibilidades de incentivo à
escrita, à literatura e às demais práticas artísticas protagonizadas por
mulheres. Diante do crescimento da página (@barrosaspoesia) e da repercussão
que ela gerou, a ideia foi se ampliando, outras mulheres chegando junto para
participar, inclusive, de outras periferias da cidade; e fomos, assim, nos
articulando com novas possibilidades. Foi assim, que, ao longo desse processo,
nos tornamos uma coletiva de mulheres.
A “baRRósas”, atualmente, é composta por 11 mulheres (Anna Silva (@thisartstudio), Bruna Sonast (@bsonast), Fernanda Teixeira (@atelie_celeste), Gessica Gomes (@magazzart), Hevila Coelho (@hevilacoelho), Karyla Freitas (@karyla.freitas), Lais Eutália (@lais.eutalia), Lúcia Viana (@flor_indefinida), Ruth Lima (@ruthlimas_), Sablina Cavalcante (@sablinacavalcante) e Syna (@lanys.s), e tem como objetivo principal trazer visibilidade para a(s) literatura(s) e demais práticas artísticas feitas por mulheres, que se reconhecem sob a perspectiva de representatividade “mulher”. Buscamos incentivar/valorizar as práticas artísticas de mulheres em todas as nossas vivências enquanto coletiva. Somos uma coletiva autônoma, que (re) existe, possibilitando momentos de união e de fortalecimento para todas nós que a compomos, além de também buscar possibilitar espaços de liberdade e de esperança para outras mulheres. Agenciamos, assim, vivências que buscam contribuir, cada vez mais, no que diz respeito, principalmente, ao enfrentamento de problemáticas estruturais que perpassam nossas realidades, como o machismo, o racismo, a transfobia, entre outras.
baRRósas: memória e poesia como livro que nasce de uma inquietação e da ausência
de mulheres, em um determinado evento cultural na periferia da quinta maior
capital do país é, no mínimo, um livro corajoso, daqueles que, nas entrelinhas,
quer dizer que o lugar da mulher é onde ela quiser, seja ela cis ou trans.
Poemas e prosas poéticas de
nove jovens escritoras cearenses, somam-se as ilustrações e fotografias dessas
artistas que, também, se aventuram em outras linguagens artísticas.
O patriarcado, o racismo, as
vulnerabilidades sociais, o erotismo, as violências, incluindo aí a transfobia,
mas também a rebeldia, são alguns dos assuntos tratados no livro, por essas
mulheres periféricas com sede de dizer, de ser e de se rebelar contra o que
está posto.
A coletânea baRRósas: memória e poesia é uma
semente bonita, com vontade de crescer, e de florescer. E quem há de duvidar da
força e da coragem de uma mulher que, de mãos dadas com outras, gesta e pare
textos literários e poéticos? Quando se trata de mulheres, sobretudo, as periféricas, as negras, as trans; eu digo
ao caro leitor, não ouse duvidar!
Argentina Castro,
antropóloga e escritora,
idealizadora da Biblioteca Comunitária Papoco de Ideias, integrante da coletiva
de mulheres Elas Poemas.