Mídias Malditas | Valdocir Trevisan

 

por Valdocir Trevisan__

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É verdade que o sonho libertador do Iluminismo esmoreceu diante do capitalismo e do imperialismo. A nossa proposta de um mundo mais justo desapareceu com as submissões econômicas, tornando nossos ideais em utopias.

 

Dostoiévski diria que foi um sonho de um homem ridículo. Nisto reside a relevância das teses de Adorno, Horkheimer, Marcuse e tantos outros que deflagraram nossas debilidades, afinal não somos donos nem das nossas próprias palavras. Falamos e repetimos o que os mecanismos camuflados ditam.  


Somos gado!


Ops! Eu não! E tenho certeza de que meus seguidores, não se encaixam nesta afirmação. Mas o rebanho é expressivo e como dizem os escoteiros temos que estar sempre alerta.

 

Ainda assim, as engrenagens psicológicas das redes sociais com suas Fakes News arrastam milhares de inocentes. Walter Benjamim, outro representante da Escola de Frankfurt, escreveu em seus ensaios sobre a filosofia da história que nunca houve propostas culturais que não estivessem atreladas à barbárie, como o exemplo do fascínio das multidões pelo nazismo. Os frankfurtianos nos revelaram que as guerras nem sempre acontecem com exércitos e bombas, mas também com ideologias propagadas por uma indústria de culturas e linguagens, constantemente apoiadas pelas elites e a mass media maldita.

 

Goebles que o diga. As mensagens são manipuladoras e se eles dizem que o verde é amarelo, multidões acreditam. Não demora muito para que a massa repita esses mesmos conceitos, pois “precisa” estar inserida, afinal "penso como eles, também sou da elite", porém com dívidas até o pescoço, cabeça e cabelos.

 

A doutrina é implacável e até hoje o velho imperialismo segue agindo trabalhando intensamente, enquanto isso fascistas gritam que sua bandeira jamais será vermelha.

 

Vermelha estão suas contas nos bancos. E os banqueiros, com seus bolsos cada vez mais recheados, dão risadas das confusões ideológicas. Como diria o grupo gaúcho Tambo do Bando, atuante na cena musical nas décadas de 1980 e 1990, eles são uns ingênuos malditos.

 

Noam Chowsky destaca que as doutrinas são articuladas com a difusão do pânico, explorando os alienados que acreditam nas ameaças, onde agora, os canhões vencem as flores.

 

Portanto, os ingênuos malditos são os que apoiam caçadores de marajás quando o maior marajá é justamente aquele que se diz um caçador.  Eles defendem um “mito” que combate a corrupção, mas tem seu nome  envolvido na pratica de  rachadinhas e  lavagem de dinheiro.

 

Tudo com colaboração de globos, jovens pans, records, sbts e vejas...As mídias malditas. E mais: os falsos pastores que lembram a desgraçada igreja da Idade Média.

 

E o salário, oh!

 

Chowsky, filósofo norte-americano, deixa o alerta: "é mais fácil do ponto de vista psicológico organizar a oposição a um ataque militar do que se opor a um programa de ambição imperial".

 

Fico indignado com a Miriam Leitão criticando seu candidato. Agora? Ela não se lembra que apoiou o golpe com seu filho Vladimir Neto, autor do livro com as fakes do Moro, o juizeco? Os dois batiam palmas para o juiz e agora querem bancar as Marias Madalenas? Tá, loko?!

 

Mas calma, a história é implacável. Ela já está provando isso.

 

Entretanto, queria ter certeza de que um dia "aqueles que fazem parte dessa massa" entendessem as palavras de Chowsky, Adorno, Horkheimer, Marcuse, Foucault, Benjamim, além de Chico Buarque, Jessé Souza entre outros.  Porque não é fácil tanto ter que caminhar e dar mais do que receber, e ver nossos projetos do futuro desabarem com golpes políticos apoiados pela cumplicidade da mídia.

 

Mas vamos adelante que a luta é antiga, desde o iluminismo. O homem doutrinado do século XVIII desejava e sonhava com sua emancipação, porém na minha visão isso foi só um sonho que se sonha só. E se o liberalismo apregoava que a educação seria companheira dos progressos científicos, algo deu errado. As culturas massificadas aniquilaram tais projetos e falsos líderes corroboraram no fracasso.

 

Adorno afirmou: "os líderes fascistas expressam sintomas de inferioridade, suas semelhanças com atores canastrões e com psicopatas associados é ainda mais antecipada pelas teorias freudianas". É, mas acho que a atual Brasília nem Freud entenderia dessa turma que diz que não há mais corrupção e ponto final. E pasmem, acreditam!

 

O homem sem emancipação acoberta a propaganda das mídias malditas e o baile segue. Porém, como já disse, a história é implacável. Jessé Souza esclarece ainda mais nosso entendimento quando diz: "no bolsonarismo, são as ideias e as práticas da extrema direita americana abertamente racista que se tornam operante no Brasil...em vez de consolidar a união das classes altas contra os pobres, ele serve agora de combustível para uma guerra entre os pobres". Eis os pobres de direita.

 

E agora "eles" trazem um elemento novo (não tão novo assim), com maior representatividade, o ódio. Ódio à oposição e a própria democracia, aquela democracia sonhada pelo homem moderno.

 

Há 15 anos uma professora universitária me falava que a indústria cultural era uma temática superada. Sim, concordo que a semiótica e a filosofia da linguagem pediam passagem, mas menosprezar as malditas mídias?

 

Não me entrego e mesmo quando me dizem que não sei cantar, que é melhor deixar meus sonhos para outra hora, eu canto: "que a segurança exige medo, que nessa festa você está de fora, não acredite, grite sem demora...eu quero ser feliz agora" (Osvaldo Montenegro).

 

Nós também somos um exército com vozes afinadas que clamam, e cantam em coro com Tambo do Bando, Chico Buarque, Zé Ramalho, Gilberto Gil, Geraldo Vandré e Osvaldo Montenegro. Temos representatividade e sensatez, e não vai ser uma mídia maldita que vai censurar nosso canto com nossos verbos que pedem novas leis.

 

Em 3 de Agosto de 2016, logo após o golpe, o colunista  J.R.Guzzo escreveu um texto com o título "Assim pode até dar certo". Ele elogiava as novas medidas (sic) do golpista Michel Temer. Dizia: "trata-se apenas de interromper um desastre em progressão desesperada como a que a presidente da República vinha fazendo até ser afastada do cargo".

 

Lembram daquela frase "É só tirar a Dilma"? Pois é, taí um típico exemplo da maldita imprensa. E agora colunista bolsonarista disfarçado? Agora está uma beleza né? Esse é o preço que pagamos por esses malditos,  esses, esses...deixa pra lá...








Valdocir Trevisan
é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui