Três Palmos, de Maria Eugênia Moreira

 

por Divulgação/Marcela Güther





A intolerância de um desamor: conheça o primeiro romance de Maria Eugênia Moreira



“Três Palmos”, lançado pela Editora Penalux, aborda a trajetória desesperada de um amor rompido, chegando aos limites da coerência — a obra conta com posfácio de Julia Raiz e orelha escrita por Júlia Grilo




Maria Eugênia Moreira nos apresenta o desamor em um pulo. Não à toa, a voz que guia a história em ‘Três palmos’ não é de autoridade alguma: neste romance, o narrador é desimportante, desimportante que dói, e dele só sabemos o nome por acaso. Sua pequenez se dá por contraste, em comparação à existência radiante de uma Estela grandiosa, uma Estela estelar, uma Estela que está em todas as páginas – mesmo nas que não está. [...] Maria Eugênia faz da ferocidade uma alegria, num universo onde vestidos rebolam e gritam tristeza com exclamação três vezes e o charme do homem esquisitinho entra em derrocada, finalmente.”



Júlia Grilo, autora de “Cães” (Editora Penalux, 2020), na orelha do livro



Perdão, relativismo, obsessão, egoísmo e afeto real. Esses são os temas centrais do primeiro romance da escritora paulista Maria Eugênia Moreira, “Três Palmos” (Editora Penalux, 2021, 76 pg.). “Escolhi como problema do livro o desfecho de uma relação e acredito que os temas estão incrustados sempre, em diferentes graus, nesse acontecimento”, reflete a autora, que já publicou neste ano “Urucum”, um livro de crônicas, pela mesma editora. O romance conta com posfácio da escritora e poeta Julia Raiz e a orelha é assinada pela também escritora Júlia Grilo, autora de “Cães(Editora Penalux, 2020). A capa de arte é do artista Gustavo Nieri.

 

A narrativa começa com Emílio, que é deixado pela esposa Estela e sofre profundamente por amor. Depois da esposa ter ido embora, logo em seguida ocorre a morte do pai. Ele volta para a cidade de sua família e aprofunda o desprezo por tudo o que não é Estela. Emílio, então, decide sumir sem deixar rastros. “‘Três palmos’ narra como o amor te transforma profundamente de maneiras em que não é possível recuperar um antes, o antes de você deixa de existir. O amor é sempre um tormento porque o amor é sempre uma tormenta, uma tempestade violenta dentro da nossa cabeça. O amor talvez seja às vezes intolerável, tira toda a nossa coerência”, escreve Julia Raiz, no posfácio.

 

Narrado principalmente em primeira pessoa, o livro não se resume a ela: há formatos e vozes narrativas diferentes, em descompasso, na tentativa de montar um quebra-cabeça. “A história vive a três palmos da pele de quem? Quem vive na cabeça de quem?”, questiona Raiz, no posfácio. Para ela, a narrativa acaba “nos pegando pelo pescoço e de repente estamos de cara com o que é intolerável”. “Quem lê o romance está diante de um arco constante de desespero, uma trajetória até o fundo do poço: do começo ao fim: Estela na cabeça. Como é amar tanto alguém a ponto de não escapar nem mesmo diante da morte?”



 Entre Victor Heringer, Guimarães Rosa e Marçal Aquino



Para Maria Eugênia, “Três Palmos” nasceu de uma “tentativa de entendimento, de um jogo de papéis”. “Surgiu como um conto, mas depois de um tempo eu precisava de outros finais. Acabou sendo um romance por conta própria”, evidencia a autora, que ficou um ano trabalhando ativamente no livro. “Mas os fragmentos do texto e o assunto já estavam há muito mais tempo na gaveta. Acho que a pandemia me obrigou a fuçar os rascunhos e a sonhar com a história, já que a vida dentro de casa não permite tantas outras distrações”, reflete. “Foi um processo de muita contradição, mas nada solitário. O livro foi uma companhia durante a quarentena. Sofremos juntos.” 

 

Ao ser questionada sobre suas principais influências literárias, não hesita em mencionar, em primeiro lugar, Victor Heringer. “Fui atingida pelos vídeo-poemas desse carioca bonitão. Tenho sotaque caipira até na escrita, então autores nacionais mais clássicos, como Guimarães Rosa, definitivamente me tocaram mais no processo de escrita”, cita. “Em ‘Três Palmos’, as obras do Marçal Aquino também me influenciaram diretamente, onde o personagem principal sempre morre de amores por alguém e, vez outra, não disfarça.”


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Maria Eugênia Moreira nasceu em Jacareí, no interior paulista, em 2000. Criada na cidade de Cruzeiro, divisa dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, a escritora começou desde cedo a sofrer influências da literatura local e dos três estados. “Comecei a escrever com 14 anos, quando comecei a sentir uma necessidade animal de arquitetar em palavras alguns sentimentos. Comecei escrevendo pequenos poeminhas, embaralhando palavras e fingindo cenários”, recorda. Atualmente, ela é graduanda em psicologia pela PUC-SP e afirma que a psicologia influencia “absurdamente” a sua escrita literária. Chega a ser uma questão, uma dificuldade, mas também um recurso a mais. A psicologia tem palavras-chave com sentidos distintos daqueles que entendemos e usamos no cotidiano, então acaba sendo um desafio escrever livre do tom acadêmico.”