por Mayk Oliveira__
Eu
gostava mais do Senhor L. quando ele não estava tentado me matar. A última vez
que isso aconteceu foi ontem à noite. Estava voltando da faculdade com uma
bolsa abarrotada de fotocopias xerocadas de livros quando ele estacionou a moto
em minha frente. Pense como eu fiquei naquele momento! Quase tive um infarto
quando pulei para calçada da minha casa instintivamente. Quase morri. Tentei
evitá-lo durante aquela noite pois sabia do mal que me faria. Quis despistar
sua investida dizendo que àquela hora não era boa. Tentei antes disso, sem
sucesso, me esconder na construção da casa vizinha, crendo ser um bandido que
descia a rua na sua motocicleta frenética à Hell´s Angels. No entanto ele já
tinha me avistado. Prometi que seriam meus últimos instantes na cidade de
Pedra. Poxa! Tantos dias para tirar minha vida porque escolheu a primeira
segunda-feira após a volta às aulas? Seria intencional, como quem diz é um “dia
morto”? ou inconsciente? Isso talvez não faça nenhum sentindo mais. Embora ele
não tenha conseguido me matar por inteiro sei que um dia esse desfecho
acontecerá. Ainda me encontro em risco. Um pouco de vida foi ceifada, sim.
Acertamos de conversar no sábado seguinte e até lá vou basicamente buscar
saídas para quando ele tentar cantar uma troca de livros novamente. Aguardo
ansioso para que ele eleve a qualidade da obra que pretende cambiar. Anuncie um
livro tão interessante para mim quanto ao da primeira vez. Era o livro de E.P.
Thompson — Costumes em Comum que me foi apresentado. Foi minha primeira vez. A primeira de muitas que ele tentaria me
matar. Mas agora era diferente e ele tenta me matar de outra forma. Pior que eu
sei que ele não será de todo culpado. Eu fui um tolo por não ter conferido, um
dia, se aquele livro era de sua coleção. Eu preferia até acreditar nisso, que
ele tentava me matar com uma bomba que não explodiria, do que perder o livro e
o amigo. Todas as vezes que ele vem trocar livros eles estão carregados de
nomes de outros donos. E essa fissura me faz entender que sou o próximo a
morrer por permitir outros nomes nos meus livros.