por Valdocir Trevisan__
Em 1961,
Ingmar Bergman dirigiu "Luz de Inverno", filme com a duração de
apenas 1 hora e 17 minutos, mas com
frases, diálogos existenciais, questões religiosas e humanas que dariam margem
a um doutorado. A esperança não vigora num vilarejo com pessoas que perderam a
fé na Europa pós-guerra. Até o pároco da comunidade está sem forças.
Para
eles, Deus está silencioso. Um personagem angustiado diz que é mais um dia "num
domingo no vale das lágrimas", frase que resume a tristeza do
vilarejo. Outro personagem vive em crise, horrorizado com a possibilidade da
China ter bombas atômicas. O padre se questiona onde está Deus, quer respostas
(quem já leu "Os Irmãos Inimigos", com o inesquecível padre
Yanaros?), mas ainda respira esperanças.
As
vezes vivemos assim, e quando não estamos de bem com nossas emoções culpamos
tudo e a todos, mas sempre acreditando em dias melhores.
Não
quero bancar o pretensioso, mas me agarro numa filosofia existencial "adelante",
reconhecendo as agruras de nossos cotidianos. Quando Hume diz que Deus, ou
melhor o conceito de Deus é produzido por imaginações como irracional, lembro
que essa temática é mais um mistério de nosso universo.
Sim,
pode ser imaginação, assim como vivenciamos inúmeras situações de nossos
cotidianos estranhos, mas, incluir "Ele" num debate
corriqueiro, não, vou levar para meu túmulo então minhas imaginações.
Assim sigo minhas viagens e por mais escuro
que seja, desejo viver invernos luminosos superando fases funestas como a dos
personagens de Bergman.
Somos
personagens, mas desejo respeitar até o mais miserável dos homens como
Shakespeare narra em "A Megera Domada", quando um mendigo
desmaiado na rua pede ajuda e um nobre cavaleiro socorre "pois até o
mais miserável dos homens pode prestar-se a alguma coisa nesse mundo".
Ficar
remoendo não vai desviar caminhos tortuosos. Um seguidor me disse que é muito
fácil escrever belas frases, concordo, mas adianto que não sou um otimista
inocente.
Ou,
pelo menos procuro não ser... Ora, eu também esqueço de arrefecer em momentos
ruins e aí surge a essência, lembrar e lembrar...E lembrar que sempre vai
melhorar.
Se
piorar, com certeza, tudo leva a crer que só vai melhorar e como também tenho
minhas "recaídas", recorro às tais expressões e frases otimistas de
novo, de novo e novamente. Não há outros caminhos, aliás, deve haver, mas não
esquecer teorias positivas faz parte dos renascimentos cotidianos.
Não vou
sugar minhas energias nas tristezas corriqueiras, àquelas que insistem em
perturbar nossos sonhos. Vou focar na tese de Augusto Cury, trocando o GEEI
(gasto de energia emocional inútil) pelo GEEU (gasto de energia emocional
útil).
Proponho
brincar de encontrar outras estradas reaprendendo a conviver com emoções
positivas, afinal as emoções fazem parte de nossas decisões e aí elas refletem
sua relevância, pois definem o que foi sinalizado. É o que diz a diretora de
educação corporativa e pós-doutora em Neurociência Cognitiva, Keitiline
Viacava, no texto "O Papel das Emoções nas Escolhas" (revista
Humanitas, 145).
Todo
cuidado ao escolher caminhos de nossas emoções reconhecendo o que realmente nos
emociona, afinal os quocientes emocionais estão em toda parte, eles não são
mais temáticas isoladas.
E
tendem a ser cada vez mais explorados, com exceção do atual governo (que para
nossa felicidade, em 2023 encerra suas "ideologias").
Já em
1995, Daniel Coleman destacava como nossas emoções são fundamentais em
programas escolares. O resultado foi que "ajudar crianças a aperfeiçoar
sua autoconsciência e confiança, controlar suas emoções e impulsos
perturbadores e aumentar sua empatia resulta não só em um melhor comportamento,
mas também em uma melhoria acadêmica ".
Projetos
que são sonhos de Augusto Cury mas que estão distantes de nossa realidade, com
um governo que faz arminhas sucateando a Educação.
E pior,
tem seguidores. Será que sabem o que falam no tal "cercadinho?" Tenho
certeza que não, pois seguem as mídias malditas, onde atualmente Jovem Pan anda
se "superando".
Mas
somos fortes e queremos luzes no inverno com apoio do Rei dos reis, Rei do
universo entre outros gênios. Eis que surge um outro "ele",
terráqueo, mas que parece ser de outro planeta: Bob Dylan. Em "Angel Precious" (1977), ele diz
que "resplandece em mim, suas luzes". É o cara.
Cantor,
autor, compositor, poeta, escritor, Dylan derruba pessimistas de plantão e eu
prefiro viver suas teses em Forever Young (Sempre Jovem) antes de bater
na porta do céu.
Agora
quero, junto com Dylan, um anjo precioso sob o sol, reinando para me fazer
feliz, resplandecendo em mim, brilhando suas razões. E se estamos cegos para
ver invernos luminosos, então que o anjo de Bob Dylan venha me socorrer.
É isso
que quero, curtir as palavras e verbos de Dylan como se estivesse numa aula de
semiótica. Prefiro viver esses invernos e os verões ensolarados, sabendo que
esse precioso não é o sonhado anel daquele outro estranho rapaz.
Vou curtir com um certo deslumbramento suas
poesias, as grandes e pequenas, pois não pretendo cair na mesmice menosprezando
pequenos grandes verbos para chegar aos 80 anos de Bob Dylan, com seus anjos preciosos
brilhando ao meu redor.
Valdocir Trevisan é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui