Bellas Transgressões (Bell Hooks I), Valdocir Trevisan

por Valdocir Trevisan__

 

Bell Hooks/ GettyImages

Sim, bellas, com dois "éles" de Bell Hooks, escritora negra norte-americana que publicou dezenas de livros sobre racismo, feminismo, educação entre outras questões humanas. Escrevi esse texto dia 15 de dezembro, dia em que ela partiu desse mundo.

 

Apaixonada por Paulo Freire, aliás, com exceção dos "intelectuais" da Jovem Pan, o mundo reverencia Freire.

 

Nesse dia fatídico, proponho homenagear a luta de Bell contra o racismo e comentar algumas de suas teses. Ela ousou transgredir normas impostas na educação inovando com coragem para acordar o sonolento.

 

 Transgredir não apenas nas salas de aula, mas no cotidiano, com "vontade" de poder. Sempre analisando os obstáculos de nosso ensino, ela desnuda imposições viciadas e revela dificuldades e racismo que ela própria enfrentou. Bell reforça necessidades e uma evolução crítica atuando como uma rebelde ao controle, recusando a mesmice.

 

Para nós, brasileiros, a luta recrudesce diante da atual crise de nosso ensino com um governo que prefere armar a sociedade. Nossa "conscientização" (já que falei de Freire), é essa, uma luta cotidiana para reconhecer as salas de aula como espaços fundamentais. Mas não podemos esquecer que a educação pode ter caminhos complexos. Conscientização no sentido de conscientizar mesmo, como Franz Kafka diz "quando nossa consciência passa por sofrimentos, isso é bom, porque fica mais sensível buscando estímulos".

 

Por outro lado, Augusto Cury sugere disciplinas nas escolas, campos, construções com teor e temáticas sobre o comportamento emocional e tratando crises que afetam vidas estudantis e profissionais. A semelhança de Cury está no corpo discente, onde os alunos devem ser mais participativos, (isso todos já sabem), mas a insistência é obrigatória.

 

Ela realça ações refletindo nosso mundo educacional. Como vivemos no planeta Terra, Cury segue o diálogo sempre reforçando o psíquico com uma preocupação especial em busca de alunos libertos emocionalmente. Afinal, uma mente doente interrompe o processo, além do mal em si. Quem quiser somente receber ordens que vá para os quartéis onde ensinam antigas lições, de morrer...

 

Ah, e sempre de olhos abertos, atentos com as instituições punitivas de Foucault, como o próprio quartel. Quantos jovens desvalorizam a Educação ao passar por dificuldades emocionais? A ansiedade e as perturbações emocionais trancando uma vida estudantil.  Eu mesmo reconheço que poderia "tirar" mais da minha graduação. Deixei escapar grandes livros, textos imperdíveis, não aproveitando estruturas que minha universidade oferecia. Perda de tempos valiosos.

 

 Quem sabe ainda não iremos aproveitar mais o conteúdo de Freire ao invés de ficar fazendo “arminha”. Bell Hooks se entrega nessa luta, almeja o ambiente escolar com alegria, prazer, distante daquela monotonia escolar. Aquele tédio de um ensino viciado, enfim todos os elementos que pedem transgressões: enfrentar os espaços funestos que sangram as almas estudantis onde a angústia permanece diariamente. Acreditem, não faz muito tempo que normas educacionais não permitiam inovações, pois poderiam quebrar a “atmosfera” escolar.

 

Como Bell diz "certas pessoas acham que aqueles que apoiam a diversidade cultural querem substituir uma ditadura do conhecimento por outra". Que visão errônea. Além do mais, quem se preocupa com as emoções dos professores? Ora, um professor sem entusiasmo, cansado, sem perspectivas não terá respostas positivas em suas disciplinas. Cury dá a receita enquanto Hooks e Freire ampliam o leque. E ainda assim, com todas os problemas, nosso ensino sempre traz novidades como a Nova História Cultural e sua didática crítica.

 

 O colonialismo dá suas cartas e o neocolonialismo segue reprimindo textos críticos. O eurocentrismo e a imposição dos EUA se reproduzem no latino dominado. Sua autoestima desaba e na inocência aceita dogmas que alimentam sua condição de vira-lata. E temos que enfrentar Weitraubs da vida: a ignorância no Ministério da Educação.

 

Como sempre digo: somos resilientes. E como Bell Hooks lembra, Martin Luther King tinha um sonho (e nós também), então...é isso, vamos inovar, mudar e transgredir sem medo, afrontar o sistema...Ousar.

 



Valdocir Trevisan
é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui