por Yvonne Miller__
8:40 da manhã em
Fortaleza. Um calor de meio-dia. Mas jurei que não ia reclamar do calor.
Cheguei do inverno alemão faz poucos dias e lá vivia reclamando do frio. Então vou
responder com um sorriso a esse sol desgraçado. Uma gota de suor percorre minha
perna, enquanto eu corro pela casa perseguindo aranhas, formigas, embuás e
bolas de cabelos misturados com poeira. Demorei 40 minutos só para varrer a
cozinha. Qualquer criança veria que sou principiante no assunto. Mas o pior é a
pá! Que perfeccionista não perderia o juízo com aquele restinho de sujeira que
sempre fica ali no chão, formando uma linha quase perfeita, no lugar onde
estava a borda da pá?
Mas finalmente
terminei com a cozinha e agora estou na sala. Amarro o cabelo molhado e enxugo
o rosto suado com a manga da camisa; mãos à obra! “Um prêmio para o inventor do
aspirador de pó”, penso enquanto enfio a vassoura embaixo de um armário. No
próximo instante solto o cabo e pulo para atrás: uma barata gigante saiu da
sombra ao contra-ataque e avança rapidamente na minha direção. Enquanto recuo,
lembro do meu pai com seu lema: “Esse bichinho tem mais medo de você do que
você dele”. Me pergunto o que sabe ele sobre o medo das baratas. O gato da casa
observa a cena desde o sofá, com a barriga cheia e sem intenções de intervir ao
meu socorro. Parece estar sorrindo.
Em falta da ajuda
do gato, chamo o cachorro. Ele entra prontamente pela porta do jardim e com
dois pulos está do meu lado. Agora sim, a barata muda de rumo! “Ah, agora você
vai ver!”, sorrio com uma satisfação malvada, enquanto observo o espetáculo.
Mas a perseguição dura pouco e termina na frente da geladeira — para o cachorro;
para a barata termina embaixo da geladeira. Contemplo o novo desenho de pelos
pretos e pegadas de terra molhada sobre as lajotas brancas da cozinha. Guardo a
vassoura e vou tomar banho — o terceiro do dia.