Sobre o livro Os dedos das santas costumam faiscar

por Geórgia Alves/Divulgação__

 



O livro de Conceição Rodrigues (Editora Patuá, 2022) é dessas publicações que acontece uma vez na vida, arremessando leitores e leitoras a, não se sabe se à mais alta montanha ou entranhas do subconsciente, diante da palavra que restaure forças. Sobretudo do útero, a exemplo das sábias frases de nossas avós que se reviram neste momento do túmulo, da obra de Frida Kahlo que se certifica que é apenas na Arte que se pode buscar.

É mister ouvir essa voz misteriosa ao ler o livro feito de desatos, destes grunhiu a frase de tantas incertezas, uma verdade: a vida é invenção da morte e vice-versa. Não termina sequer pela caminhada anticristã. Na radicalidade de sua devoção ao gênero e da poética-filosófica não há escolhas, ao existir, o que se há de fazer da vida é viver sem pausas, pontos, vírgulas, inda sendo mais fêmea...

À crítica resta assumir não ter coisa à altura a dizer, porque uma Literatura assim só se reconhece com tempo. O famoso “só sei que nada sei”, pois tudo sinto diante da obra. Nada posso diante do inevitável desencanto: Saber que não há milagres, tragédias ou qualquer seja a (in) convivência do ser para a arte, não vamos em tempos cegos superar o mal-estar da literatura, da vida que se preze enquanto vida, pois é nossa vocação sermos livres, enquanto se vive em potência.

Que o artista insista entender mais das sensibilidades do que levar a cabo uma radicalidade da razão. Só existe este problema verdadeiramente sério para a Filosofia, relembra Camus. A liberdade de ditar o término. Não será - por inúmeras razões - do que se ocupa a Poesia de Conceição Rodrigues. Nos dedos das santas há faíscas extraídas do mesmo fósforo aceso por Faulkner. Neste momento, sem precedentes, é sim pelo que mais aspiramos.

Não desejamos por novas sensibilidades na Literatura da gente. Postas há tempos e não há como não reconhecer a Literatura Contemporânea sobre a égide dos cânones que tanto perfizeram trajetórias para retrovisores. O mundo terminou, o que se pode antecipar diante de Os dedos das santas costumam faiscar é que se tem uma escolha. Outra Eva pode tocar a eternidade, de olhar fixo na iminência dos dedos em fogo seguir reverberando a existência do divino. Ainda experimente dores não lhe cabe existir em si mesma.


A Poesia de Cecita. Recife das esquinas e dobras


Desde o primeiro contato, os desatos dos dedos das santas despertam nossa ancestralidade dramática, revirando o estranho, todo o inexplicável da poesia parece se remexer no corpo, "vi que estava morta até ali", confessou a leitora.

A Literatura de Conceição Rodrigues a levou ao III Prêmio Pernambuco de Literatura, Menção honrosa com o livro de contos “Cordas para nós” e IV Prêmio Pernambuco de Literatura por Menção Honrosa, com o romance 323. De lá para cá, a escritora sequer pôde lançar fisicamente seu “Molhada até os ossos”, em virtude da pandemia.  A poesia de Conceição Rodrigues remexe as tramas da palavra ao se emaranhar nas estruturas da língua.

 

 


Conceição Rodrigues nasceu em Arcoverde, portal do sertão pernambucano, mas viveu a maior parte do tempo em Recife, onde mora até hoje. É graduada em Letras e tem especialização em Literatura. Leciona na rede pública de ensino. Recebeu menção honrosa no III Prêmio Pernambuco de Literatura com o livro de contos “Corda para nós”, e no IV Prêmio Pernambuco de Literatura recebeu menção honrosa com o romance “323”. Trabalhou como assistente de Raimundo Carrero na Oficina de Criação Literária- UBE. Organiza e participa de antologias. Dá assessoria em produção textual em diversos gêneros e áreas. Publicou em 2020 “Molhada até os ossos” e “Os dedos das santas costumam faiscar”, livros de poemas, pela Editora Patuá.  E-mail: cecitha7777@gmail.com





Geórgia Alves
é Mestra em Teoria Literária pela Federal de Pernambuco| Jornalista e Crítica | Professora de Arte.

 

 


Serviço:

Lançamento do livro os dedos das santas costumam faiscar

Quando: Sábado, 22 de janeiro de 2022

Local: Espaço Cultura Nordestina

Onde fica: Rua Luiz Guimarães, 555 – Poço da Panela

Horário: 18 horas