Como nascem os avôs | Nely da Costa Barbosa

 por Nely da Costa Barbosa__


Photo by Anita Jankovic on Unsplash


Lembro da surpresa quando descobri que meus avós haviam sido crianças, pois para mim, eles já tinham nascidos velhos. Como podia uma criança ser avó ou avô de outra criança? Impossível! Alguém estava muito confuso, e com certeza não era eu.


Meus pais se divertiam com a minha teimosia, mas isso só me fazia ficar cada vez mais desconfiada. Era difícil de acreditar naquela história, até porque os adultos, convenhamos, nem sempre são confiáveis, vivem inventando respostas, mesmo que não tenham nenhuma lógica, só para se livrarem de todos aqueles por quês.


Mas um dia, sem querer, eu que fui criança xereta, encontrei as provas, bem ali, na gaveta da cabeceira da cama, no quarto dos meus pais. Aquelas crianças com roupas e penteados démodés das fotografias, eram meus avôs. Seus nomes escritos de caneta nos versos das fotos e as datas, quase apagados, revelavam um tempo longínquo e não deixavam nenhuma dúvida, eram os meus avôs!


Esse assunto virou tema recorrente nos almoços de família aos domingos, as fotografias saíram da gaveta e com elas as reminiscências de dias cheios de aventuras, narrados pelos nossos avôs, sob o olhar curioso dos netos reunidos em volta da mesa.


Aquelas lembranças me faziam viajar no tempo, juntos, eu e meus avôs, subíamos nas árvores, nadávamos nos rios, corríamos livres pelas ruas e eu podia até sentir o gosto daquelas frutas fresquinhas, tiradas do pé. E pensava, pensava... E pensando bem, não estava totalmente equivocada, uma pessoa só se torna avô ou avó na maturidade, ou seja, aquelas crianças, ainda não eram meus avôs, porque na verdade, os avôs só nascem, quando nascem os netos.

 



Nely da Costa Barbosa, nasceu em agosto de 1969 em Recife – PE, graduada em História pela Universidade Católica de Pernambuco, estudou música na Universidade Federal de Pernambuco e no Conservatório Pernambucano de música. Atualmente desenvolve pesquisa na área de cinema, mais especificamente sobre o trabalho do cineasta pernambucano Camilo Cavalcante. É apaixonada pelos livros e toda forma de arte. Começou a se aventurar na escrita ainda muito jovem, mas só agora decidiu compartilhar suas experiências com o público, acreditando estar vivendo um momento mais prolífico e mais tranquilo para se dedicar a essa arte.