por Karina Ripoli__
vocação para naufrágios
tenho
vocação para naufrágios
deixo
o canto da sereia me guiar
sou
capitã de um navio fantasma
ancorado
no mais fundo do mar
entre
sal e algas marinhas
um mau
presságio
eu
tenho vocação para naufrágios
navegar
até a ilha de lesbos
no
intuito único de trocar carícias
com a
poeta mitológica
fazer
amor como se fosse poesia
partindo
um verso aqui
lá, um
afago
eu
tenho vocação para o estrago
tomando
rum, sem tomar rumo
errante
marinheira
à
deriva do destino
brincar
de sátira
com
ninfas libertinas
eu
tenho vocação para a ruína
mas se
a sirena chama
eu
largo tudo
e
enlouquecida
me
atiro em seus braços de mar
morrer
assim ninada é privilégio
eu
tenho vocação para naufrágios
nem
tudo está perdido
um
afogamento
mas
visto
de
outro
ponto
de vista,
debater-se
flutuando
com os
braços
pra
cima,
se eu
bem
me
lembro
assim
também
um dia
dançamos
em
preparação para uma guerra,
ter em
mãos:
um objeto
cortante
foto dos
joelhos da criatura amada
algum trago
potente que alivie
nos pés,
meias
coloridas
surpreende
assim
o inimigo
nas trincheiras
Karina Ripoli (1990) é paulista de berço e brasiliense de coração. Formada em Letras pela Universidade de Brasília (UnB) e Mestra em Estudos Literários pela Universidade Complutense de Madri, é professora de línguas e literatura. Lançou seu primeiro livro, Palavra de Copo Virado, em 2021. Publica poemas em revistas literárias e é colaboradora do portal Fazia Poesia. Tem medo do avião, mas não da viagem. Já morou em 9 cidades. Se entende muito bem com gatos.