A primeira TV a gente jamais esquece | Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro__






Lembro como se fosse ontem ou hoje — afinal são 72 anos de TV no Brasil —, meu pai chegando em casa com aquele trambolho. Nossa primeira TV! Não era uma Telefunken, mas uma Philco. Eram os idos de 1963. Ela havia chegado no país fazia 13 anos e no Rio já se encontravam quatro canais em plena transmissão: Tupi, Rio, Continental e Excelsior. Dois após viria a Globo


E lá estava eu assistindo ‘Uni-Duni-Tê’ da tia Fernanda, ‘O direito de nascer’, com Mãe Dolores e Albertinho Limonta, o, incrível, ‘Beto Rockfeller’ com Luiz Gustavo — Tatá, aliás, a primeira novela a ter uma trilha sonora, que nunca foi comercializada e ser a precursora do merchandising que, por falta de opção de nomenclatura mais clara permanece até os dias atuais — existem histórias incríveis sobre esta trama. Ficarão para outra crônica.


A televisão marcou a vida de muitos brasileiros entre chuviscos, Bombril na ponta das antenas para, supostamente, melhorar o sinal e a chegada das transmissões em cores, muitas histórias foram contadas, muitas modas lançadas. Quanta coisa boa aconteceu.


Pois é, fui grumete do ‘Capitão Furacão’ interpretado pelo falecido ator Pietro Mário e que tinha a participação de Elisangela. Bons tempos do ‘Forte Apache’ e do “sempre alerta e obediente”! Quando em vez, minha mãe me levava aos estúdios da Vênus Platinada para participar da atração diária. Não foi minha primeira incursão televisiva. Anos antes já havia me apresentado com a bandinha escolar da MABE, onde estudava, nas TVs Rio e Excelsior.


Tempos tantos, vieram ‘Nino um italianinho’, ‘Antônio Maria’ com a dupla imbatível Sérgio Cardoso e Tônia Carrero, ‘O Sheik de Agadir’, com “Damian esteve aqui”, quase um “Celacanto provoca maremoto” que a molecada insistia em pichar pelos muros da cidade. ‘National Kid’, que por incrível que pareça, só fez sucesso no Brasil. Nem no Japão, seu país de origem, emplacou, vai ver, não gostavam dos ‘Incavenuzianos’. ‘Clube do Capitão AZA’ (com ‘Z’ mesmo), protagonizado por Wilson Vianna, na TV Tupi. “… Alô, alô Sumaré! Alô, alô Embratel! Alô, alô Intelsat 4! Alô, alô criançada do meu Brasil!, aqui quem fala é o Capitão Aza, comandante-chefe das forças armadas infantis deste Brasil.” Quanta saudade! Veio ‘Casamento na TV’, ‘Família Trapo’, com o impagável Ronald Golias... “Eucrides fala pra mãe...”, ‘Topo Gigio’ e Agildo Ribeiro, “Agildo, Agildinho, me dá um beijinho de boa-noite”. Era o Louro José da época.


Veio a ‘Discoteca do Chacrinha’ com Abelardo ‘Chacrinha’ Barbosa e as Chacretes. À época chamavam-nas, de forma machista, ‘boazudas’! ‘Clube do Bolinha’ e as ‘Boletes’ – versão ‘achacretizada’ de dançarinas-animadoras, ‘Aqui e agora’ e ‘Agora é aqui’, quando a atração mudou de emissora. Tudo muito estranho. Silvio Santos tinha um canal, a TV S, mas se apresentava na Globo.


E a Hebe; que mulher, que personalidade, que apresentadora. Marcou época, marcou história.


Quem não se emocionou com 'O Céu é o Limite' de Blota Jr. ou torceu por um candidato em ‘Oito ou Oitocentos’. Lembram de Clodovil respondendo sobre D. Beja? Derci Gonçalves e a “Perereca da Vizinha”, Flávio Cavalcanti e ‘Um Instante Maestro’ com o, ‘pra’ lá de mal-humorado, José Fernandes, do frenético Clécio Ribeiro, da lindíssima Márcia de Windsor e do intelectual Sérgio Bitencourt. Por falar em jurados, vamos lembrar da Elke, da Aracy, da Wilza, do Décio Piccinini, do Pedro de Lara...


São tantas emoções, tantas séries inesquecíveis. ‘Jeannie é um Gênio’ e ‘A Feiticeira’, ‘Capitão América’, ‘Homem de Ferro’, ‘Thor’, ‘Hulk, ‘Namor’, ‘Homem Aranha’, ‘Thunderbirds’, ‘Shazan, Xerife & Cia’, ‘Carga Pesada’, ‘Vigilante Rodoviário’, ‘Rim-Tim-Tim’, ’Armação Ilimitada’, ‘Superman’, ‘Os Três Patetas’, ‘Zorro’, ‘Chaves’...


E o ‘Clube da Xuxa’? Levanta a mão aí quem não dançou as coreografias, quem não se deliciou com o pega-pega da ‘Banheira do Gugu’ e não cantarolou “...Meu pintinho amarelinho/Cabe aqui na minha mão...”. Pensando bem, isso era meio esquisito. 


Quem não riu com a ‘TV Pirata’, com o ‘Viva o Gordo’, ‘A praça é Nossa’, ‘Chico City’, ‘Escolinha do Professor Raimundo’, ‘Casseta & Planeta’. Quem nuca se sentiu meio ‘Bozó’ e mostrou seu crachá para impressionar. Quem nunca?


E as novelas. Não falemos dos “pratrazmentes”, somente para os “prafrentementes”. Ah Odorico, não mudou muita coisa. ‘O Grito’, continua ecoando, o ‘Pavão Misterioso’ ainda enfrenta os “mudancistas”. A ‘Porcina’, no apagar das luzes da “Sucata”, quis deixar de ser “Namoradinha”; virou vilã. “Tô certo ou tô errado”? Dias Gomes, Janete Clair, Maneco, Aguinaldo, Silvio, Walcyr...


Uma, em especial, cobri para a Revista O Cruzeiro: ‘O Pulo do Gato’. Tive o privilégio de assistir, de camarote, a atuação de Jorge Dória, Sandra Bréa, Milton Gonçalves, dirigidos por ninguém menos que Walter Avancini. Todos encenado, atualmente, em outro plano.


Essa TV de Clarks e Bonis, de Santos e Chatôs, de Wallaces, Carvalhos e Saads. Essa menina de 72 anos em nossas vidas.


Quem sabe faz ao vivo, não é mesmo Teresinha, afinal, quem matou Odete Roitman?!




A primeira TV a gente jamais esquece - Fotocrônica de Carlos Monteiro 








Carlos Monteiro
 é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.