Trecho do romance Proibido Mirar Afuera, de André Arieta

 por André Arieta__




 A mosca bípede presa entre dois vidros de uma janela. Espaço sólido, invisível, divisão, reflexo. Meus olhos vêem asas que batem. Digitais de gordura. Lá dentro um ronco irregular me traz notícias. O meu desespero zumbe junto com o timbre quase grave de um barítono, nossa música. Começo a questionar minha identidade num instante de repouso sobre a base da janela, tempo e nova tentativa.


O ronco cessou, o Velho notou a minha presença, ele ouve meus sons, percebo que sente-se incomodado, estou derrotando seu sono, movimentos tensos como os meus, levanta-se, tenta ajudar, fecha a janela, libera as moscas. Sofre de insônia este homem. O Velho observa, acho que quer voar comigo, seu corpo pesado o impede.







André Arieta 
- Músico, cineasta e cientista onírico André também é professor de cinema e calouro na fábrica de palavras e papel. Gosta de Syd Barret e Bete Carvalho e se desloca no espaço/tempo com os filmes de Antonioni. Se tu chegou até aqui, te aprochega!