A primeira vez - Parte II , crônica de Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro__





Horas tantas, adentra ao estúdio, vindo de uma roda de samba, o compositor – do qual, não lembrarei o nome – da Estácio de Sá. Esbaforido, suando em bicas, levou uma batucada improvisada em que, tudo que tivesse sonoridade, virou instrumento musical, até meu case, que na data era chamado de bolsa mesmo, entrou na festa como surdo de marcação. Uma festa.

Adelzon tem a comunicação no sangue, talvez por ter trabalhado anteriormente com o “Velho Guerreiro”, talvez por ser pura essência de Marshall McLuhan, muito por ser, tão somente, ele mesmo. Lançou muita gente boa que está por aí, indo aonde o povo está. Deu voz ao morro, deu voz ao samba-enredo, ao samba de quadra. Resgatou a música nordestina, fez escola. Produziu outras tantas.

Aí você me pergunta? “mas o que ele tem a ver com as alvoradas”?

Ao concluir a festa-apresentação, queria fazer um clique dele junto aos motoristas de táxi que, indianamente enfileirados à porta da rádio, o aguardavam diariamente para bater um papo, jogar purinha e cumprimentá-lo. Fiz os cliques enquadrando os antigos relógios à corda, que apresentavam um ‘livre’, juntamente com um ‘2’ em uma espécie de rodela metálica, que representava a famosa ‘bandeira 2’ indicando que o taxista estava rodando na madrugada. Ao levantar os olhos do visor da câmera, reparei que clareava no firmamento no que hoje chamo de ‘hora-vermelha’. Estava usando um Tri-X, ‘puxado’ para 3200 ASA, da Kodak. Queimei as últimas chapas, cambiei para um Ektachrome que havia sobrado de uma matéria anterior, atravessei a praça em direção ao Aterro e fiz meu primeiro amanhecer oficial. Pena que estas imagens tenham se perdido na memória-arquivo da revista. Ficaram incríveis.

Pois é Adelzon, você nem sabia, mas lançou o fotógrafo aqui em sua carreira de imagens do zéfiro. Valeu! Muito obrigado! Vivas p’ro Adelzon, porque, como ele e o Seu Zé, eu sou da madrugada!






Carlos Monteiro
é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve “Fotocrônicas”, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.