O peso que a leveza tem | Albino Baru

 


por Ângelo Fábio__







SOU DE UMA MISTURA DE TRAÇOS… SOU UM SER DE MENTE INQUIETA QUE NUNCA SOUBE VIVER NESSE MUNDO.” Albino Baru


Com 10 faixas, o álbum “O peso que a leveza tem” (Etnemirepxe) reflete o padecimento e alegrias do artista e das pessoas. Dor de cotovelo, autoestima e crise existencial embalado pelo brega rock e como cenário um tapete de coração sempre pisado fazem parte de suas apresentações. E quem nunca teve seu coração pisado, ou pisou no coração de alguém? Albino Baru se joga nos botecos da vida e segue produzindo seu trabalho de forma autônoma além de pockets shows que interpretam canções desde Raul Seixas ao forró pé de serra.



Albino Baru

O peso que a leveza tem (Etnimepxe)


Albino Baru, como ele mesmo diz: "Sou uma mistura de traços. Sou um ser de mente inquieta que nunca soube viver nesse mundo. Minha mente é confusa." Na primeira faixa do disco O peso que a leveza tem, escutamos um embalo de autoestima que nos diz “Não te aperreia não. Fuja dos estresses passe dessa fase…” pela primeira música do disco temos a impressão de que seguiremos em um processo de escuta bem pra cima, por outro lado nos deparamos com outros cenários, a realidade de um artista periférico que vive no município de Camaragibe com as mais variadas dificuldades do cotidiano.

Baru tem um trabalho inquieto, incompleto e carregado de dinâmica. A vida de um artista independente não é fácil e pra quem não vem de berço de ouro, a situação complica ainda mais. No mercado musical não é fácil para um desconhecido/a despontar além do talento. Tem de se ter muito jogo de cintura, e outras vezes sorte também, mas vez ou outra conseguimos  enxergar um “novo” que se destaque neste cenário, mas aí é outro papo.


Com 34 anos, Albino Baru não “chegou lá” e muito menos tem conseguido manter o seu grupo do jeito que gostaria. A cada show, ensaios e encontros é uma movimentação econômica que o artista faz  para extrair leite das pedras. A brodagem junto aos seus é abordada com muita dignidade e ele não deixa de bancar o valor que cada profissional deva receber, pois todo músico tem seus compromissos e despesas, “O artista deve receber pelo que faz, não é justo eu ocupar sua dedicação por um sorriso e tapinha nas costas”, complementa. 


Baru investe no seu trabalho autoral de embalos carregados de incertezas, dores de cotovelo, ironias e revoltas. Albino sobe e desce morros, vai de bar em bar tomando tragos acompanhado de seu caderno, caneta, fusca vermelho (https://www.youtube.com/watch?v=ib6KzhNmLKQ ) e poesias que costuma recitar. 

Como um ser inquieto que é, em 2019 foi tentar a sorte na megalópole de São Paulo. Desde então tem dado importantes passos, em parceria com o produtor fonográfico Carlos Alberto, proprietário da Caverna Rock Discos, situada no centro de São Paulo. Albino Baru e banda chegaram com a cara e a coragem, desta vez oferecendo alguns tragos de música, e para sua surpresa a recepção da Caverna foi bem vinda com seus ouvidos abertos. Este encontro resultou no lançamento do K7 do seu álbum "O peso que a leveza tem”.

Tivemos nesse espaço uma rápida troca. Albino Baru contou um pouco sobre sua jornada como artista independente.

Sua música é concebida sob a raiz de nomes como Reginaldo Rossi, Raul Seixas, Bartô Galeno, Odair José, Otto, Lira e a banda Gram. Dessa gama de influências surgem composições que envolvem todos, principalmente quando somadas e/ou misturadas à poesias e uma performatividade cênica de seus shows.  Foi assim que você se consagrou Campeão do Festival Som na Arena 2017, disputando então com 120 bandas pernambucanas e participou de renomados festivais como: Guaiamum Treloso Rural 2017; Festival de Inverno de  Garanhuns 2018; e Festival Pré AMP 2017. No carnaval de 2018  você foi o artista convidado a cantar uma música com Otto, no palco Maria Amazonas. Uma participação regada de poesia e performance. A cada dia Albino Baru tem agregado novos públicos, que se identificam com seus shows, seja pelas dores de cotovelo ou por seu carisma. Vivendo inteiramente da música, atua também como produtor e vem conquistando cada vez mais  admiradores em cada apresentação. 



1 - Em 2019 você e alguns integrantes de sua banda, viajaram à São Paulo e em parceria com o Caverna Rock Discos. O cantor e compositor Júnio Barreto participou  dessa jornada, que resultou em uma importante troca. Como foi esse processo e quais frutos vocês  puderam colher?


Sim, lá conhecemos o Caverna e trocamos diversas ideias, e elas tiveram importantes resultados: a produção do K7 do disco “O peso que a leveza tem”, além da apresentação na galeria Crua, show que fizemos a convite do nosso querido e admirável cantor  Júnio Barreto. De lá surgiram outros convites e aos poucos conquistamos outros espaços nessa imensa cidade. Desde então um  laço de amizade e admiração mútua vem sendo construído… Lembro que custei a  acreditar no que estava acontecendo. Eu me sentia a todo momento no filme de bandas da “Sessão da Tarde” buscando nossos objetivos. Eu, Wagner Albino,  e Althan Thoper , com o apoio todo especial de Bruno Kim e sua esposa Kely. Estar ali era mais um importantíssimo passo. 

Depois das apresentações que fizemos em São Paulo voltamos para Pernambuco para articular outras iniciativas. A ideia era voltar à São Paulo e dar continuidade aos projetos que estavam na agulha, mas aí veio a pandemia e tivemos que segurar a onda. A música, além de tocar as pessoas, também nos permite conquistar espaços e fazer amizades. Ela nos faz romper fronteiras de qualquer idioma. Hoje, o Caverna, além de um grande amigo, é como se fosse da família , um paizão, um padrinho, um irmão que temos na selva de pedras, aconselhando e indicando novos caminhos.


2) Seus trabalhos são produzidos de forma independente. Como você percebe o "incentivo" para a cena musical pernambucana?


Aqui o que  realmente  sempre me motivou foi o público, que depois de cada show todo mundo vem  falar o quanto nosso som ao vivo  é contagioso. Nos emociona e nos dá força para enfrentar tanta dificuldade do que é viver de arte aqui. O público realmente traz o maior incentivo, pois a gestão pública deixa a desejar. Porque mesmo ganhando festivais, mesmo tendo um público cativo capaz de lotar casas, muito do que se é produzido é de forma independente e não temos as portas abertas para ocupar os grandes palcos dos eventos públicos. É quase impossível furar as bolhas, querer vencer um jogo de cartas marcadas. São raras as vezes que nos abrem algumas brechas para participação em festivais. A nossa sorte é que hoje a internet nos possibilita outros meios de comunicação independentes. Mas, em virtude da ausência de oportunidades, temos de nos recriar a todo instante. Nesse sentido, uma outra iniciativa que tivemos a necessidade de realizar foi a criação de dois Festivais de Bandas:  “Noite Raueii” e “O Som Que Sai na Quinta”. São eventos alternativos que fazemos para possibilitar cultura e entretenimento na região, a fim de propagar e continuar o que vem sendo construído por muitos dos músicos independentes que tentam sobreviver de música. Os  nossos trabalhos são valiosos, mas o que ainda falta é um real incentivo e políticas públicas que proporcionem um leque à cultura em todas as suas raízes.


3) A produção independente é algo presente em você. O que está saindo do forno?


Temos dois clipes no forno:  “Correr com Bolt” do disco O peso que a leveza tem e “Seja Forte/Procure sorrir”, música nova. O primeiro relata as dificuldades que os músicos sofreram durante a pandemia. O “Seja Forte/Procure sorrir” foi composto na pandemia e o clipe foi gravado neste ano, na segunda turnê que fizemos,  no caminho à Praia Grande em Santos, São Paulo. Agora pelo São João teve  o lançamento de uma música em homenagem ao Rio de Janeiro, “Forrio” (Forró no Rio de Janeiro), cidade à qual sou encantado. Devido a situação política e outros afazeres não foi possível ir este ano, mas a proposta é se aventurar em 2023.  Acredito que agora com a chegada de Lula como presidente, teremos mais oportunidades para quem  vive da cultura. O Rio é uma cidade singular e a ideia é fazer pontes. Vamos apresentar  nosso show por onde for possível na cidade maravilhosa. Estamos felizes por termos participado de uma rodada de Pitch no Coquetel Molotov (2022). Esperemos que isto renda bons frutos.


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Dando continuidade a sua jornada inquietante ou como ele mesmo diz: “sou um ser de mente inquieta que nunca soube viver nesse mundo…” complemento que Baru também é bastante insatisfeito com as injustiças sociais que se perpetuam neste mundo. No ano de 2020, ele forma uma chapa de candidatura coletiva para concorrer ao legislativo municipal de Camaragibe em parceria com Márcio da Gruta, ativista cultural e ex-proprietário do famoso Bar da Gruta, que durante anos foi um importante reduto cultural no município. Espaço este que sempre abriu suas portas para a cena alternativa de toda a região. Uma campanha a ferro e fogo e  mais uma vez de forma independente. Foi importante o nascimento dessa chapa conjunta, porque mesmo sem apoio financeiro e não tendo conquistado o pleito,  despertou a atenção daqueles que debocharam e dos  que não acreditavam em uma candidatura tão distante de um modelo tradicional carregado de  vícios políticos.


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@albinobaru


 CLIPES













Ângelo Fábio é um artista interdisciplinar que trabalha com o cruzamento das linguagens cênicas, audiovisual e artes visuais. Fundador do Pós –Traumático Coletivo, Casa Pós, Hemisférios Itinerantes (AR/BR) e Caosmo Cia. Experimental. Estudante do curso de Administração Pública pela Estácio, estudou jornalismo de investigação na Universidade Popular Madres de la Plaza de Mayo e Licenciatura em Direção Cênica na Universidad Nacional de Artes - UNA, Argentina entre os anos de 2008 e 2012. É idealizador e curador da Periférica - Mostra de Cinema de Camaragibe; Cineclube Universo Paralelo; Produtor, roteirista e assistente de direção do documentário Dona DóraA mística do boi (2021); Coordenador do Ciclo de Ações Heutagógicas; Encontro das Artes Cênicas de Camaragibe (2017/2020); idealizador e produtor do livro Bianor – Trajetórias e Memórias (2018)