Avenida pendular, crônica de Anthony Almeida

por  Anthony Almeida__



           
                                                                       
           Já que Caruaru não tem orla oceânica, a Avenida Agamenon Magalhães, além de ser das principais da cidade, fim de tarde, se converte em pista de caminhada, esteira, ciclovia. A via cumpre o papel de beira-mar, onde corpos não têm a intenção das águas, mas usam calçadas para o exercício, o suor e o tornear de cinturas e músculos.

Suam e correm.

Avenida acima, avenida abaixo. 

Sobem até perto da Santa Efigênia, onde fazem o balão e descem.

Numa mão, se exercitam duas loiras, regatas brancas, tops pretos, leggings primas: têm os mesmos detalhes e cobrem semelhantes curvas, mas são de cores diferentes, uma laranja, outra azul. Os rabos de cavalo, igualmente dourados e igualmente balançantes, porém, são mais que primos, eles têm na coloração a mesma essência. 

Suam e correm.

Avenida acima, avenida abaixo.

Na outra mão, dois caras, também padronizados. São primos? Por que seriam? Fato é que observam as mulheres. E as observam com força. Elas percebem, óbvio, mas continuam, atletas plenas, sem demonstração de nada ao par de homens. 

Suam e correm. 

Avenida acima, avenida abaixo.

Descem até a frente do Grande Hotel, onde fazem o balão e sobem.

Numa faixa de pedestres, semáforo vermelho, trabalha um ambulante. Vende rosas vermelhas — o cupido chegou, rosas românticas —, oferece as pétalas às motoristas em carros vermelhos. Nada! Oferta os xodós ao motoqueiro em moto e capacete vermelhos. Nam!! Tenta a venda ao par de homens, torce para que a panaca paquera compre uma de suas flores, corteje uma das loiras, as deixe em bochechas vermelhas. Nem!!! 

Ninguém quer xavecar ninguém. Querem focalizar, mirar por trás e só. Seguem sua malhação. O sinal fica verde. 

Suam e correm.

Avenida acima, avenida abaixo. 

Os pneus dos carros retumbam no asfalto, têm o som das ondas do mar. As vidraças dos edifícios empresariais refletem as nuvens, têm o brilho do pôr do sol, igual quando a estrela risca as águas. 

A Agamenon Magalhães cumpre o papel de beira-mar. Nelas, os corpos não têm a intenção das águas, mas usam calçadas para o exercício, o suor e o tornear de cinturas e músculos.

Suam e correm.

Avenida acima, avenida abaixo.



Caruaru. Setembro, 2022.






Anthony Almeida
é geógrafo, professor e cronista. Nasceu em Caruaru/PE e mora no Recife/PE. Pesquisa a Geografia Literária, escreve e estuda a crônica brasileira. É cronista da Revista Mirada, doutorando em Geografia, pela UFPE, e editor adjunto da RUBEM – Revista da Crônica. Saiba mais em: https://linktr.ee/anthonypaalmeida