São Francisco Xavier — Necrópole do Rio | Alexei Bueno

 por Alexei Bueno__




Meu interesse pelos cemitérios tem como uma de suas origens prováveis — entre muitas — o meu fascínio pela morte. Sou um ansioso, e o que é um ansioso, além do portador de uma malsã compulsão a chegar logo ao final das coisas? E o final das coisas é a morte. 

Uma ignorância atávica e primária afasta a maciça maioria do nosso povo das necrópoles. Bibliotecas de pedra, os cemitérios são cenáculos de diversas ciências auxiliares da História, da Genealogia à Heráldica. No campo da escultura, não é preciso dizer nada, e quem une o interesse histórico ao escultórico está condenado a ser um feliz habitué dos cemitérios, deixando de lado os insípidos e chatos — nos dois sentidos da palavra — cemitérios que se limitam a lápides planas no meio de um gramado. Mesmo com toda a repulsa irracional, necrópoles se transformaram em pontos turísticos em todo o mundo, bastando recordar algumas das catacumbas de Roma, o Campo Santo de Gênova e o de Pisa, as Catacumbas de Paris e o Père-Lachaise, o Cemitério Judeu de Praga ou o da Recoleta, em Buenos Aires. 

Ainda que pouco conhecida, a bibliografia sobre o tema é enorme, com destaque, em nossa língua, para duas obras monumentais: no Brasil, os dois volumes de Arte e sociedade nos cemitérios brasileiros, de Clarival do Prado Valadares, de 1972, e, em Portugal, de 2009, o imenso Arquitectura para a morte, a Questão Cemiterial e seus reflexos na Teoria da Arquitectura, do meu inesquecível amigo José Manuel Simões Ferreira. 

Maior cemitério do Rio de Janeiro, cidade que deu espaço à primeira necrópole oficialmente a céu aberto do Brasil — o Cemitério dos Ingleses, em 1811 —, o Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju, faz parte da geração inaugural dos grandes cemitérios surgidos após o fim dos enterramentos no interior das igrejas. Desse muito vasto e muito rico — histórica e esteticamente — conjunto tumular, chega agora a nossas mãos o belíssimo conjunto de fotografias de Carlos Monteiro, involuntária homenagem a numerosos mortos para franco deleite de numerosos vivos. 


                                                             
                                                                 
                                                                           
                                                                        
                                                          
                                                             *Fotografias por Carlos Monteiro






Alexei Bueno
é poeta, ensaísta, tradutor, editor e foi convidado por  Carlos Monteiro para participar desta edição da Mirada.












Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.