Seis poemas inéditos de Manoel Tavares Rodrigues-Leal

por Manoel Tavares Rodrigues-Leal__









I

é a idade elementar. efémera.

oh crânio da cidade. vítrea.

olho. desejo. e só água aflui. etérea.


Lx. 3-4-75


II

azul. o dia circula. alui.

como uma onda. que eu fui.

dispersa na praia nula. nua.


Lx. 13-4-75 – (à Ana)


III

renovo. renovo a memória.

a música secreta dos dedos. dispersos.

se aguardo. que mãos mortas da demora.

nos versos. isentos. da obra.


Lx. 13-5-75


IV

como se encerra o ciclo

das flores. ousadas. como

se cumpre a carne. em labirinto.


Lx. 20-5-75


V


altos espelhos povoam o dia:

que metáfora pacífica o dia acaricia?


Lx. 7-6-75


VI


digamos centro. insciente.

se me. sob o sol. concentro.

que deus me persegue. e consente.


Lx. 11-6-75



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* Coligidos do caderno Voz Equívoca (As Flores Eloquentes) por Luís de Barreiros Tavares









Manoel Tavares Rodrigues-Leal (Lisboa, 1941-2016) foi aluno das Faculdades de Direito de Lisboa e de Coimbra, frequentando até ao 5.º e último ano, mas não concluindo. Em jovem conviveu com Herberto Helder no café Monte Carlo frequentando com ele “as festas meio clandestinas, as parties de Lisboa dos anos 60 e princípios de 70”. Nesses anos conviveu também com Gastão Cruz, Maria Velho da Costa, José Sebag, entre outros. O seu último emprego foi na Biblioteca Nacional, onde trabalhou durante longos anos (“a minha chefe deixava-me sair mais cedo para acabar o meu primeiro livro, A Duração da Eternidade”). Publicou, a partir de 2007, cinco livros de poesia de edição de autor. As suas últimas semanas de vida foram muito trágicas, morrendo absolutamente só.