Vou contar uns segredos, crônica de Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro__


                                                                  
                                                                
                                                        
                                                         
                                                                 
                                                             
                                                          
                                                                                             

       

                  

Vou contar uns segredos


Vou contar segredos de liquidificador sobre a Cidade Maravilhosa. Pois é, ela é cheia de cantos de encantos mil e mistérios. Histórias incríveis e lugares, cujo relato, é de tirar o fôlego. 

As confidências começam numa área que foi palco para a tortura de um conjurado ilustre: Joaquim José da Silva Xavier – Tiradentes. Ali, na praça que leva seu nome está o Teatro João Caetano – dizem assombrado e amaldiçoado, pois as pedras de suas fundações estavam destinadas à construção da Catedral do Largo de São Francisco de Paula. Nele, no foyer do segundo pavimento, há nada mais nada menos que dois painéis pintados por Di Cavalcanti. ‘Carnaval’ e ‘Samba’ estão lá ornando as paredes. O centro do Rio é recheado desses painéis. Por Di há outros cinco – quatro ‘de fato’ e um em fotografia, no Centro Cultural da Light na antiga rua Larga. Conhecidos como Composição Rio foram encomendados, ao autor, por Samuel Wainer, cujo objetivo era ornar a redação do jornal Última Hora em uma homenagem à imprensa.

Nos mesmos arredores, na avenida Passos, duas igrejas chamam atenção: Nossa Senhora da Lampadosa — originalmente Alampadosa – e Santíssimo Sacramento da Antiga Sé. A primeira marcou a história por ter sido, diante de sua fachada, que Tiradentes fez suas últimas orações antes de ser enforcado. No piso da entrada podem se ler inscrições sobre o fato. A segunda tem, na parte traseira um ressalto no piso. Esta protuberância deixava que os seres humanos escravizados, de baixa estatura, pudessem assistir às missas, de pé, seguidos, também de pé, por aqueles cuja altura fosse maior. Nela igualmente, além de muitos simbolismos, se encontra a pia batismal mais antiga da cidade. A avenida guarda ainda outras relíquias como a Casa Franklin, a Federação Espírita Brasileira, diversos sebos e as, agora, ruínas do Hotel Paris.

Caminhando um pouco mais, vê-se os painéis, na zona portuária, do Kobra que se estendem pelos muros do velho cais do porto. 

Isso tudo em um pequeno passeio pelo centro da cidade, onde fica exatamente, a Câmara de Vereadores, o Palácio Pedro Ernesto, também conhecido como ‘Gaiola de Ouro’ em função do valor gasto em sua construção; 23 mil contos de réis. Exatamente o dobro do investido na obra do Theatro Municipal. Também o dizem assombrado por ter sido erguido sobre os escombros do que dantes foi o cemitério de um convento que ali ficava.

São muitos os segredos desta cidade encantadora e misteriosa, para lá de mil, que precisaria de inúmeras crônicas para tais inconfidências. Essas poucas, aqui confidenciadas, ficam praticamente juntas. 

Acredito que este prédio, Palácio Pedro Ernesto, todos conheçam e saibam bem onde fica localizado, mas, será que são sabedores do que pode ser encontrado na mesma praça? Fica a dica: são seis.

Cartas para a redação.

                          


Carlos Monteiro
 é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.