Mei mundo de umbu, crônica de Anthony de Almeida

 por Anthony Almeida__




— Óia, ontem de manhãzinha eu fui pro mato. Aí me topei com um pé de umbu: tinha mei mundo de umbu madur... é... verde lá no pé. Tirei quase tudinho, trouxe pra casa e fiz polpa. Tá aqui umas tigela bem grande, com quase cinco litro só de polpa de umbu. Quando tu chegar por aqui, aí tu vai fazer suco, vai fazer picolé, tudo!

— Eita! — respondi, por escrito, a entusiasmada mensagem de áudio que meu pai me mandou pelo WhatsApp. — Será que lá pra abril ainda vai ter? — emendei, já pensando em me organizar pra viajar pra lá.

É março. No agreste pernambucano, começa esse mês a temporada de frutificação dos umbuzeiros. Deve durar, como de costume, até o meio de maio. Aqui, na capital, talvez até cheguem umas redinhas com a fruta, mas vai demorar. Meu pai, sabendo do meu gosto por umbu, mandou mais um áudio:

— Tem, rapaz, que os umbu começou a sair agora! Aí, em abril, já vai ter até umbu maduro!

— Umbu! — digitei. 

Não foi exatamente essa a palavra que eu queria ter mandado, mas ela também serve. Tentei escrever foi "Uhuu!", uma interjeição de felicidade, e o corretor do celular grafou "Umbu!". Eu achei que assim ficou ainda mais arretado — e mais gostoso.

— Mas, se tu já quiser, tem as tigela cheia aqui — completou.

— Quero, sim! Pego o ônibus e vou praí no sábado — mandei, num áudio com final sorridente.

Umbu!


— Recife. Março, 2024.






Anthony Almeida nasceu em 1989, em Caruaru/PE. É cronista, geógrafo, professor e editor-adjunto da RUBEM – Revista da Crônica. Atualmente desenvolve pesquisa de doutorado em Geografia Literária na UFPE, campus Recife, sobre o tema ‘Geograficidades do mundo vivido-escrito na crônica brasileira’. Escreve para a Revista Mirada. Saiba mais em: https://linktr.ee/anthonypaalmeida