Cêtuvocê, crônica de Anthony Almeida

 por Anthony Almeida__


                                                                      
       
Foto de JD Rincs na Unsplash
                                                                            
         Houve um tempo em que eu dizia bom dia, boa tarde e boa noite e ouvia em retorno bom djia, boa tardje e boa noitchi. Hoje de manhã foi diferente. Quando tu falou, foi outra coisa que ouvi.

E não preciso nem corrigir o jeito que acabei de fazer a concordância verbal. Tu me entende. Tu sabe que é a nossa oralidade que nos faz companhia nesta manhã. Não preciso dizer que foi outra coisa que ouvi quando você falou. Muito menos que foi outra coisa que escutei quando tu falaste.

Talvez, qualquer dia, eu venha a chamar tu de você. Acho mesmo que até já te chamei de cê. Acontece... Acontecerá... Carrego as mudanças na minha oralidade como parte dos meus caminhos feitos pelo mundo. Mas hoje, hoje posso te chamar de tu sem nenhum medo de ser lido como um burro tapado, como um nordestino que não sabe nem falar direito. Tu sabe que eu sei falar. Ainda agora eu te falei:

— Bom dia!

— Bom dia! — com um sorriso de canto, tu me respondeu.


— Recife. Abril, 2024. 







Anthony Almeida
nasceu em 1989, em Caruaru/PE. É cronista, geógrafo, professor e editor-adjunto da RUBEM – Revista da Crônica. Atualmente desenvolve pesquisa de doutorado em Geografia Literária na UFPE, campus Recife, sobre o tema ‘Geograficidades do mundo vivido-escrito na crônica brasileira’. Escreve para a Revista Mirada. Saiba mais em: https://linktr.ee/anthonypaalmeida